Por Miranda Sá –
Não tem razão o colega do “X” que com uma mensagem criticou-me pelo que considera antireligiosísmo nos meus artigos e crônicas; eu poderia responder-lhe pela mesma via, mas preferi fazê-lo publicamente nesta Tribuna Livre.
Assumo os comentários com dúvidas e reprovação sobre as fantasias do Antigo Testamento, desacreditando que Matusalém tenha vivido 969 anos, na lenda de Adão e Eva (a não ser como metáfora) e que o príncipe egípcio Moisés abriu as águas do Mar Vermelho e tenha conversado com Deus acocorado diante de uma sarça ardente.
Isto, para mim, não é ser contra a religião. Pelo contrário, poucos defendem a liberdade religiosa como eu, que desde a pré-adolescência estudo as diversas crenças adorativas, no correr da História da Humanidade. Até já pensei em escrever um livro sobre elas.
Conheço-as desde o animismo primitivo à dualidade do mazdeísmo na antiga Pérsia, do politeísmo nos primeiros impérios da Antiguidade, das manifestações orientais e do monoteísmo judaico-cristão.
Defensor convicto da liberdade de crença, não me furto, porém, de criticar desmandos praticados em nome de Deus; denunciando sempre a hipocrisia piedosa e o fanatismo estúpido e xenófobo. Faço-o com base em pesquisas históricas de boa origem; dos muitos estudiosos que através dos tempos mostram a adulteração do cristianismo primitivo ao se assumir como Catolicismo, religião oficial do Império Romano.
… E foi pelo imperialismo que se formou no Ocidente uma nova concepção religiosa por sua organização burocrática copiada de antigos cultos, principalmente do mitraísmo, e por coroar o humilde Jesus de Nazaré em Rei dos Reis…
Uma vez poderosa, a Igreja Católica, Apostólica e Romana assumiu historicamente horrores praticados. Quem há de negar a violência imposta na criação, exaltação e desempenho das Cruzadas? Das referências que se tem deste desvario movido para libertar a chamada “Terra Santa”, temos o fundamento do antissemitismo e antiislamismo ocidentais.
Sobre as cruzadas, encontrei um texto do escritor ítalo-argentino Pitigrilli, que não assino embaixo, mas o levo em conta para as minhas análises. Saiu no livro “O Sacrossanto Direito de não Ligar” o comentário intitulado “O malogro total das Cruzadas” que não lograram cumprir seu objetivo de libertar santo sepulcro dos muçulmanos.
A Primeira Cruzada, criada pelo papa Urbano II em 1095 para tornar os cristãos inimigos dos muçulmanos, a História registra que esta expedição reuniu “duzentos e sessenta mil maltrapilhos, esfomeados, egressos das galés e prostitutas, conduzidos por nobres feudais que tiveram o propósito de conquistar cidades orientais para si; mas o Santo Sepulcro ficou onde estava, tendo no entorno seis milhões de cadáveres.
Pittigrilli mostra que sem qualquer devoção e humanismo as Cruzadas trouxeram vantagens; para a sua formação, foram recrutados todos os aventureiros da Europa; e esses malfeitores encontraram de passagem casas para saquear, mulheres indefesas para ultrajar e gente inocente para exterminar.
E o resultado foi pior, vendo na Palestina a convivência pacifica entre judeus e árabes, os cruzados, acusaram os primeiros de “crucificar Jesus Cristo” e os outros demonizados como adeptos do “infiel” Maomé.
Entre suas consequências, surgiu a caça às bruxas, a brutal repressão contra os perseverantes seguidores das antigas religiões; uma manifestação fanática que não se restringiu aos druidas e xamãs, mas voltou-se também contra os chamados “heréticos”, críticos dos dogmas e dos costumes licenciosos do papado.
Esta perseguição insana proporcionou em 1233 a criação da Inquisição pelo papa Gregório 9º, batizada de “Santo Ofício”, que nada teve de santo; pois foi uma ação demoníaca, cruel e desumana, comparável ao que o nazismo fez no século passado.
Há quem ignore, e é bom dizer que esta ingerência genocida não se limitou aos católicos romanos; teve também a participação de protestantes, como se viu no suplício sofrido por Calvet ordenado por Calvino, que exigiu lenha verde na fogueira que queimou o condenado, “para que ele sofresse mais”.
Com esta descritiva vem a minha adoção ao princípio de que perseguir, torturar e matar em nome de qualquer religião é crime hediondo condenável; por isto movo a minha “cruzada” para condenar as guerras religiosas, por serem o exemplo mais do que perfeito da negação de Deus.
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
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