Por Pedro do Coutto –

A iniciativa de constituir uma Comissão Parlamentar de Inquérito Mista (formada por senadores e deputados), feita pela oposição do Congresso, e aceita na quarta-feira pelo governo Lula, não será capaz de alterar os fatos cujos personagens, invasores e destruidores, foram identificados pelos filmes. O governo que relutou em princípio, terminou encontrando o rumo certo e apoiando a criação da CPI Mista.

O episódio do general Gonçalves Dias mantendo encontro com invasores no próprio Palácio do Planalto, vídeo exibido pelo canal CNN e depois repetido pela GloboNews e pela TV Globo destacando o crédito original, em nada poderá contribuir para responsabilizar o governo que, vitorioso nas urnas, foi vítima do atentado.

RESPONSABILIZAÇÃO – Não há como, inclusive o número de prisões determinadas pelo Supremo Tribunal Federal, e o início dos processos criminais pela tentativa antidemocrática e destruidora do patrimônio público,  não pode ser alterada por quaisquer outros depoimentos capazes de influir tanto nas investigações complementares quanto na responsabilização legal dos culpados.

O general Gonçalves Dias, exonerado do cargo de ministro do Gabinete de Segurança Institucional, foi levado a pedir demissão e não possuía outro caminho. Mas a sua saída nada muda quanto ao episódio trágico de 8 de janeiro. Pelo contrário, fortalece a culpa que recai inevitavelmente sobre os invasores, financiadores e autores intelectuais  dos que tentaram um golpe contra a democracia.

Sobre os autores intelectuais (pensamento negacionista e destrutivo), Ruy Castro, Folha de S. Paulo desta quinta-feira escreveu um artigo importante chamando a atenção dos que participaram dos ataques e que estão presos ou sendo processados criminalmente para com a situação de conforto em que se encontra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Antigamente, os que participavam das tarefas mais difíceis ou impossíveis eram chamados de inocentes úteis. Na minha opinião, nada disso. São culpados por se deixarem levar pelo fanatismo que os conduzem ao labirinto da extrema-direita.

DESVIO – Conforme disse, a oposição no Legislativo tentará desviar o rumo natural da CPI. Mas em qual direção? Dizer que os lulistas forjaram as depredações vestindo os invasores com camisas bolsonaristas? Impossível. Também é difícil mudar os depoimentos que estão sendo colhidos através de inquérito do STF. Logo, a oposição tentando uma saída para o impasse político o agravou para si própria, sobretudo porque como poderá ela explicar o projeto de decreto que se encontrava na residência do ex-ministro Anderson Torres, cuja prisão foi decretada pelo Supremo.

É evidente que a Polícia Federal na busca e apreensão realizada na casa de Torres não encontrou casualmente o texto subversivo que previa a intervenção na Justiça Eleitoral do país. Foi resultado de uma informação precisa vinda de dentro do esquema do próprio ex-ministro. A oposição na CPI, dessa forma, não poderá assegurar uma blindagem indireta sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Os fatos terminam sempre predominando sobre as tentativas de tirá-los do foco verdadeiro. O vídeo da CNN  focalizando o diálogo de Gonçalves Dias e de militares do seu gabinete com invasores do Planalto constitui mais uma prova irrefutável do ataque subversivo desfechado contra a democracia e a vontade do eleitorado brasileiro.

JOGOS ELETRÔNICOS –  Reportagem de Beatriz Coutinho e Nicolas Iory, também com a participação de Sibelle Brito, O Globo de ontem, focaliza a reação dos adeptos de jogos eletrônicos  contra o pronunciamento de Lula que atribuiu parte da culpa pela violência contra escolas ao tipo de narrativa que faz parte dos jogos eletrônicos largamente praticados no país.

A reportagem inclui opiniões de Felipe Neto, apresentado como influenciador que atua na internet, e de Luís Cláudio, filho do próprio presidente Lula. Ambos colocando restrições ao pensamento presidencial, achando que ele generalizou.

Mas é interessante observar que incluir no rol das manifestações sobre os jogos eletrônicos, a novela Travessia, aliás excelente criação de Glória Perez, que destaca um dos ângulos do assunto mostrando a forte influência desses jogos e também a capacidade deles se constituírem num tipo de dependência  para jovens que os praticam em excesso. A novela de Glória Perez focaliza em seu enredo e pontos de convergência da narrativa a existência de problemas humanos que se acumulam no dicionário policial da realidade de modo geral.

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AGENDA

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PEDRO DO COUTTO é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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