Por José Carlos de Assis

A histeria mundial em torno do corona vírus remete diretamente ao “Ensaio sobre a cegueira”, do genial escritor português José Saramago. Entre nós a cegueira se aplica a diferentes campos, desde o da manipulação política ao regime religioso (inclusive os chamados pentecostais). Na história de Saramago, todos vão progressivamente ficando cegos, destruindo as relações pessoais, familiares e de amizade. Só escapa, milagrosamente, uma mulher. Será ela que controlará as relações sociais e a regeneração progressiva da cidade suja.

É uma metáfora sem paralelo. Não vou narrá-la porque não quero tirar dos leitores o prazer de saborear página por página dela. Contudo, vale a pena ver os paralelos. A forma como a Organização Mundial da Saúde está tratando o combate ao corona vírus, arrastando outros sistemas públicos de saúde no mundo para um combate histérico ao vírus, é absolutamente irresponsável. Está se movendo segundo a cegueira de Saramago. E tem elementos religiosos charlatães porque, como Edir Macedo, explora a ignorância do povo.

Não sou cientista da área da saúde. Contudo, o que aprendi no curso de doutorado em Engenharia da Produção me possibilita concluir, com toda a certeza, que os níveis de letalidade do corona vírus atingem sobretudo idosos e doentes, sem afetar de forma alguma os jovens e o conjunto da população. Estes pegam gripe. Na Itália, onde se concentram os maiores casos na Europa, a letalidade é muito pouco significativa, e atinge, conforme observado, principalmente idosos e doentes. Contudo, qual foi a origem dessa pandemia verbal mundial?

Em primeiro lugar, pode ter sido um ataque biológico da CIA à China, que teria saído do controle, algo que autoridades chinesas já denunciaram formalmente. Pode ter sido, por outro lado, condições bioquímicas favoráveis à propagação do vírus em Huhan, em razão de alta poluição e outros fatores atmosféricos. Não sabemos se a Ciência poderá rastrear o vírus, mas tendo em vista as atividades pregressas dos Estados Unidos, bem documentadas, no campo da agressão ilegal a outros países, há dúvidas sobre seu papel a no episódio.

Independentemente da eficácia de seu tratamento, o corona vírus, não mais que uma gripe, cria embaraços para milhões de pessoas, o que acabou estabelecendo uma sobrecarga para serviços hospitalares. É um exagero. Como disse acima, a letalidade do vírus não é maior que uma gripe comum, para pessoas da mesma idade. Isso significa que aqueles que não estão cegos – a personagem-mulher de Saramago, que acordou os outros – acabarão entendendo que em algum lugar do planeta existe luz do sol.

Sem considerar metáforas, as iniciativas de saúde no Brasil, acompanhando as de praticamente todos os países do mundo, parecem a um governo desacreditado e incompetente uma oportunidade única de aparecer. O corona vírus fez com que fosse escondido o infame projeto de privatização das estatais da água, a devastação da Amazônia, a degradação do sistema previdenciário, a crise demolidora na bolsa de valores, o esgotamento das reservas cambiais. Ah, me esqueci: tudo isso vai acabar com as reformas, para salvar o país!


JOSÉ CARLOS DE ASSIS  é jornalista, economista, escritor e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre economia política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.