Por Luiz Carlos Prestes Filho

ENTREVISTA N.8 – ESPECIAL REGULAMENTAÇÃO DE JOGOS.

Em sua entrevista o diretor-secretário da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e presidente do Sistema Sigraf/Abigraf-RJ, Carlos Di Giorgio, sobre a regulamentação de jogos de apostas em dinheiro administrados pela iniciativa privada no Brasil destacou que o tema: “Não está sendo discutido pelo Sistema Firjan e pelo Sistema Sigraf/Abigraf-RJ“. Mas ele como empresário e pessoa física afirmou:

Sou absolutamente a favor da regulamentação das casas de apostas, que muitos chamam de jogos de azar. Sou a favor da atividade legalizada, exercida dentro da lei e fiscalizada pelos órgãos competentes. A atividade legal dos jogos gera empregos, oportunidades para empreendimentos, impostos e oferece à população diversão.”

Carlos Di Giorgio com o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Filho

Luiz Carlos Prestes Filho: Qual a visão institucional da Firjan em relação aos encaminhamentos no Congresso Nacional e no STF que podem regulamentar em breve os jogos de Apostas em Dinheiro Administrados pela iniciativa privada no Brasil?

Carlos Di Giorgio: Sou diretor-secretário do Sistema Firjan e presidente do Sistema Sigraf/Abigraf-RJ. Mas me permita responder às perguntas exclusivamente como empresário e pessoa física. Este assunto não está sendo discutido pelo Sistema Firjan e pelo Sistema Sigraf/Abigraf-RJ, portanto é mais correto falar sobre o que penso pessoalmente. E quero dizer que sou absolutamente a favor da legalização e regulamentação das casas de apostas, que muitos chamam de jogos de azar. Sou a favor da atividade legalizada, exercida dentro da lei e fiscalizada pelos órgãos competentes.

É uma atividade empresarial digna, lucrativa e deve ser realizada sob as leis de nosso país.

Explanação do empresário Carlos Di Giorgio

Prestes Filho: No momento da crise criada pela Covid 19 a regulamentação abriria oportunidades para as médias, pequenas e micro empresas reunidas na Firjan? Quais oportunidades?

Carlos Di Giorgio: A legalização do jogo é um tema absolutamente pertinente e atual, embora seja discutido há ao menos três décadas. No Senado correm nada menos do que quatro projetos sobre a legalização dos jogos de azar. Esta discussão começou em 1991, quando foi apresentado um projeto de lei propondo a legalização do Jogo do Bicho. Desde aquela época se discute o assunto, mas o Senado não conseguiu chegar a lugar algum. A legalização do jogo traz emprego e gera impostos. O Senador Angelo Coronel (PSD-BA), por exemplo, calcula que a legalização de todos os jogos, incluindo cassinos, Jogo do Bicho, bingos e caça-níqueis, possibilitaria a criação de mais de 600 mil empregos formais, com arrecadação de mais de R$ 50 bilhões em impostos, que, segundo ele, poderiam ser aplicados para beneficiar mais de 22 milhões de famílias com um benefício mensal de R$ 300,00. Imagina essa fonte de recursos neste momento tão cruel que vivemos, diante da pandemia do coronavírus?

A atividade legal dos jogos gera empregos, oportunidades de empreendimento, impostos e oferece à população diversão.

O jogo do bicho é uma bolsa ilegal de apostas em números que representam animais. Foi criado em 1892 pelo barão João Batista Viana Drummond, fundador do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro (Wikipédia)

Prestes Filho: A Cadeia Produtiva da Economia de Jogos do mundo promove atividades nas áreas de arquitetura e indústria gráfica, hospedagem e restaurantes, entretenimento e inovação tecnológica, entre outras. Temos como favorecer as empresas brasileiras com a regulamentação dos jogos?

Carlos Di Giorgio: Com toda a certeza! A Embratur já se pronunciou, certa vez, dizendo que a legalização dos cassinos poderia triplicar o número de estrangeiros no Brasil. Triplicar! E o turista não gasta apenas no cassino, certo? Ele se alimenta, compra presentes, faz passeios e, assim, deixa divisas para a nossa cidade. Quando falamos em casas de aposta, não falamos apenas em pequenos bingos, por exemplo. Estamos falando também de grandes resorts integrados, com cassinos, restaurantes e casas de show. Muitos empresários já demonstraram total interesse em investir nesse setor, quando for legalizado. E a construção e manutenção de um resort mexem com a economia local, inclusive gerando inúmeras oportunidades de negócio para o micro empresário.

Caça-níqueis em Las Vegas, Nevada-EUA (Creative Commons)

Prestes Filho: Será que não chegou a hora para promover um grande congresso empresarial e institucional sobre a regulamentação de jogos no Brasil? Somos o único país da América Latina que não tem os jogos regulamentados. A Firjan poderia liderar essa iniciativa?

Carlos Di Giorgio: O Ministério do Turismo também já se manifestou favorável ao tema e até mesmo já emitiu nota dizendo que promove esta discussão com outros órgãos governamentais. Não há dúvida alguma sobre o impacto fabuloso que a liberação dos cassinos promoveria na nossa indústria turística. Cassinos de grande porte atraem mais turistas, e eles nos faltam.

Creio que essa discussão poderia partir da Câmara de Deputados e do Senado, envolvendo o governo, a iniciativa privada e a própria população.

Carlos Di Giorgio com Levi Ceregato, presidente da ABIGRAF NACIONAL

Prestes Filho: Quais grupos ou comissões da Firjan estariam preparados para organizar um amplo debate sobre jogos? Quem seriam esses empresários?

Carlos Di Giorgio: A legalização e consequente regularização das casas de apostas é um tema que não faz parte da atual pauta da Firjan. Portanto, não há nenhum grupo ou comissão constituída na entidade para debater este assunto. No entanto, o tema é de interesse dos empresários de vários setores, principalmente da indústria hoteleira e de turismo. Creio que as entidades deste setor produtivo devem promover debates entre seus associados e, até mesmo, defender a legalização dos cassinos, que seriam instalados em grandes resorts. Vale destacar que o interesse pela atividade legal do jogo não se restringe aos empresários que atuam no turismo e na hotelaria.

Muitos empreendedores veem o jogo legalizado com bons olhos.

Hotel Cassino (Creative Commons)

Prestes Filho: O Estado do Rio de Janeiro é o berço dos mais famosos cassinos do país – o Cassino da Urca e o Quitandinha. Será que temos condições de resgatar aquele passado glamoroso onde brilharam Grande Othelo e Carmem Miranda, entre muitos outros artistas?

Carlos Di Giorgio: Com toda certeza, foi uma época única na história do Rio de Janeiro. O cassino da Urca, principalmente, contribuiu muito com a cultura, promovendo shows memoráveis. A alta sociedade carioca frequentava o cassino, se divertia, comia muito bem e os que gostavam de jogar faziam suas apostas tranquilamente. Não há dúvida alguma sobre o glamour daquela época, e é bem verdade que um equipamento como aquele nos faria muito bem nos difíceis dias de hoje. A nossa cidade precisa levantar sua autoestima. O Rio de Janeiro é o maior polo cultural do país. Sabemos produzir grandes festas, vide o carnaval.

Definitivamente, podemos resgatar o clima e o glamour do Cassino da Urca, mas desde que a atividade seja legal e regulamentada.

O Cassino da Urca, em 1941 (Hart Preston/Time&Life Pictures)

Prestes Filho: O regime democrático favorece a regulamentação dos jogos hoje? Existe possibilidade de gestão empresarial transparente e fiscalização competente pelo órgão de governo?

Carlos Di Giorgio: O Brasil amadureceu muito nestes últimos anos, e a Lava-jato está aí para provar isso. Quando acreditaríamos que governantes e políticos corruptos seriam presos? O regime democrático favorece, sim, a regulamentação porque propõe a discussão ampla, envolvendo toda a sociedade e aqueles que têm interesse direto no tema. A legalização e a regulamentação não permitem tão somente a atividade; são criados mecanismos para que haja respeito às leis. Ou seja, são criadas regras e como estas regras serão fiscalizadas. É possível até mesmo direcionar o imposto gerado para determinadas áreas, com a saúde, por exemplo. Curioso que no Brasil todos os jogos são proibidos, exceto as loterias oficiais, promovidas pelo próprio governo. Isso é de uma incoerência incrível, não é verdade? No momento, as grandes casas de apostas esportivas online do mundo todo estão chegando aqui, realizando suas atividades, ganhando muito dinheiro e não pagando sequer um centavo de imposto, porque não estão localizadas em nosso país. É tudo virtual. Assim, o governo não pode proibir, não pode fiscalizar, não pode cobrar imposto e, ainda assim, as apostas acontecem.

Esse é o momento de discutir com responsabilidade e amplitude a legalização do jogo no país. E aprová-la.


LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Diretor Executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Cineasta, formado em Direção de Filmes Documentários para Televisão e Cinema pelo Instituto Estatal de Cinema da União Soviética; Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local; Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009); É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).