Por José Carlos de Assis –

Jair Bolsonaro mais do que duplicou os assassinatos que ele prometeu durante a campanha eleitoral. Ele queria 30 mil, mas já são mais de 60 mil mortes por conta do vírus, que na maior parte é culpa dele. De sua boca escorre sangue. É um vampiro solto no Planalto, buscando mais vítimas para serem mordidas, sem outra consequência a não ser as centenas de caixões nos cemitérios lotados e as famílias em prantos em cada canto de casa.

A mídia naturalizou Bolsonaro. A forma como recebemos as deformações da medida provisória da infame, que cortou itens essenciais para a segurança individual e coletiva do povo, é um crime paralelo de acomodação ao assassino. Entretanto, eu maldigo essa minha forma de escrever. Pessoas de meu círculo alegam que escrevo muito bem. Mas bem para quem? Acaso estamos escrevendo para o povo ou para a elite que participa do festim de Bolsonaro?

Depois da deturpação dessa lei, resolvi escrever para o povo, não para a elite, e principalmente não para a mídia. Bolsonaro é uma besta. Todo o círculo militar que o cerca devia saber disso antes da eleição, mas acreditava poder domá-lo no poder. À frente deles estava o general Villas Boas, que levou a manada dos milicos para o festim da reserva super-remunerada, como donos do poder. É um acinte. Duplicaram o soldo e perderam a honra.

Prevaleceu nos Estados Unidos, no fim do século XIX, o sistema de butim. Cada novo presidente que entrava tirava do poder todos os funcionários que estavam lá, e colocavam no lugar seus próprio correligionários. O Congresso interveio no sistema, em fins do século XIX, e deu maior responsabilidade ao processo de nomeações e demissões. O que estamos vivendo é um sistema de butim ampliado, descarado, sem qualquer protesto da mídia.

Acabei de ver um seriado na tevê sobre a vida de George Washington. Em certo momento da luta pela Independência, os oficiais revoltados com a falta de pagamento queriam dar o poder a Washington contra o Congresso para receber o dinheiro. Em outro momento, queriam que ele fosse imperador. Ele reagiu enfurecido. Convenceu os oficiais a esperarem o pagamento do soldo, já que considerava ambas as medidas uma infâmia contra a jovem República.

Bolsonaro, para sua própria desonra, assumiu, com sua última decisão, a responsabilidade de matar. Já vinha fazendo isso, nas sua voltas pela praça do Planalto sem uso de máscara, o que acabou sendo proibido pela Justiça. Agora, porém, é pena de morte contra o povo. Entretanto, insisto que não é o ato dele, Bolsonaro, que me apavora. São os atos das elites, e sobretudo da mídia. É muito bonito que Bonner homenageie as enfermeiras no Jornal Nacional, mas por que ele não abre as baterias contra os vetos assassinos que Bolsonaro assinou?

É demais. Vejo muita gente do povo dizer: Ah, brasileiro é muito frouxo, não faz nada, não reage às insolências de Bolsonaro. Como? Com que armas? Se esse Governo demorar o suficiente, um dia o povo brasileiro, com já fez no passado, promoverá uma rebelião. A curto prazo, porém, não há viabilidade disso. Hoje, a única possibilidade de rebelião é por cima. Mas quem pode promovê-la de forma imediata são covardes. Não salvarão nem a si nem a outros.


JOSÉ CARLOS DE ASSIS – Jornalista, economista, escritor, professor de Economia Política e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 25 livros sobre Economia Política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.