Por José Macedo –
Tenho o hábito de escrever e gosto, mas há momentos em que ficamos desestimulados, descrentes, diante do sadomasoquismo, a vítima batendo palmas para seu algoz.
Como reinventar a vida, diante dos discursos inúteis, tsunamis vindos de todos os lados, eivados de mentiras, inegavelmente, acompanhados de boa técnica e comprovada eficiência? Pouca coisa ou, quase nada mudou, desde a Segunda Grande Guerra. Ao que parece traços nazifascistas estão vivos e servem de modelo, o que nos faz lembrar do ministro de propaganda de Hitler, Joseph Goebbels. São então as razões, pelas quais, elegemos um paranoico, cuja característica é a de mover-se pela mentira repetida, implantar o medo e o delírio, conseguindo legiões de seguidores.
Nesse contexto artificial, a verdade não importa, mesmo que a vida seja posta em risco. Assim é que, a ciência, não só é, a par e passo, relegada ao ostracismo, é desacreditada. O curandeirismo é trazido de volta, passa a ser “a bola da vez”, sendo a Cloroquina o remédio para a cura dos infectados do vírus dessa pandemia. Que acontece? Acontece que, esse governo transformou nosso país em motivos de risos e do ridículo, cuja destruição é célere. Há quem afirme: rapidamente, seremos pária do resto do mundo e, essencialmente, produtores de poucas matérias primas e de comódites, caracterizadas por seu baixo valor agregado. A motivação dos atos desse governo lançam-nos para o precipício. Os valores iluministas, antes cultivados, como o respeito à Constituição, separação do estado da religião, valoração da ciência, da liberdade de criação e de reflexão são negados e substituídos pelo negacionismo, seguidos por indivíduos amorfos, cujo cérebro, apenas, existe na forma e aparência de humanos, repetindo o que é ditado por seu mentor. Esses indivíduos tornam-se meros ventríloquos, remotamente, controlados por seus lideres, através de palavras de ordens, que estão implantadas em seus cérebros. Não importa, se essa ordem e desejo sejam a morte do outro. O que predomina é a força da paranoia, onde ódio está disfarçado em discursos, opiniões subjetivas e na hipocrisia.
O nazi-fascismo, inicialmente, era isso, populista e até se confessou, no inicio, socialista, atraiu milhões, transformou-se em monstro, tendo preconceito e o racismo como suas bandeiras. O racismo, a predominância do homem branco ariano demonstrou estrutural. Assim, nesse diapasão, o nazismo abandonou o disfarce, o passo seguinte foi a ideologia genocida, contra judeu, negro, cigano, deficientes, homossexuais e comunistas. Aqui, negros, pobres, LGBTs, moradores das favelas são eliminados por agentes do Estado, de modo cruel e sem remorso. Mulheres são assassinadas, diariamente, por seus maridos, companheiros e ex-companheiros, por sua condição de ser mulher. Não importam o Código Penal, Lei Maria da Penha ou do feminicídio. Está na cultura do homem médio e brasileiro a cultura machista. Assim, 3.739 mulheres foram assassinadas, no Brasil, no ano de 2019. Esse número cresceu, em 2020.
Em nosso país, os livros estão sendo abandonados e substituídos por seriados de televisão e pelos gritos raivosos de pastores fundamentalistas e evangélicos, ressuscitando a figura do diabo e assustando essa legião, que não estudou, deixou de pensar. Diante disso, outra pergunta: As pessoas estão enlouquecidas? Na verdade, predomina a irracionalidade. Ora, se deixei de pensar, não mais existe. “Penso, logo existo”. Neste raciocínio de fundo dantesco, instaura-se o nexo da causalidade entre a loucura e o delírio, onde esses seres ficam fora de si, o sintoma da paranoia, a negação do humano, a abominação da vida, inviabilizando a sobrevivência, o que definiria como a banalidade do mal (Hannah Arendt), tudo passou a ser normal. Não ser racista, cultivar o ódio ou não, ser negro, mulher, hétero ou homo, não adianta, porque todos serão atingidos pelos defeitos dessa sociedade em crise, independente de classe. Chega, então de abominar a vida, matar o outro e perda de sua capacidade de pensar.
Mas, ainda queria falar desses temas: o direito e seu descrédito, a gestão pública de nossas riquezas, um Projeto nacional, incluindo o crescimento e desenvolvimento econômico, que têm conceitos diferentes, a filosofia, sociologia e escolas livres para formar seres que pensem e discutem, a crítica, a ciência, o desemprego, as desigualdades sociais e econômicas. Vou além e quero saber, por que: nossos índices sociais são os piores do mundo, por que retornamos ao Mapa da Fome (ONU), após passar por período exemplar e elogios de lideranças mundiais (antes de 2016), o entreguismo e retrocesso em diversos segmentos, educação, cultura, segurança, o petróleo e o pré-sal, as mazelas diplomáticas, que nos envergonham, a chamada Reforma Trabalhista e da Previdência, a Terceirização da Força do Trabalho, dando ênfase ao Trabalho Intermitente e os efeitos danosos para o trabalhador, o negociado prevalece sobre o legislado, a inconstitucionalidade de atos do governo, sua extensão e efeitos.
Prossigo: o livre acesso à Justiça, a Inafastabilidade e imparcialidade do Poder judiciário, na hipótese de perdas e ameaças a direitos deveriam ser praticados à luz da Constituição. Mas, as pessoas estão anestesiadas ou embevecidas pela grande mídia e suas influências massificadoras dessa sociedade do espetáculo, individualista e das redes sociais. A elite do atraso e narcisística não percebe esses males que se tornam irreversíveis e demorarão dezenas de anos para sua recuperação. Por isso, incautos e inocentes trazem à discussão supostos erros de governos anteriores, para justificar a permanência de um governo lesa-pátria e antipovo. Assim, assistimos quietos nossa destruição, destruição dessa nação, de sua independência e vontade de ser soberana. Ah, vejo à nossa frente perdas de nossas dolorosas conquistas e o que é mais lamentável: nossa capacidade de pensar. Por derradeiro, queria ser otimista, o que é difícil; por isso, advirto: as coisas permanecendo como estão, não havendo uma reação, a tendência é a desordem social, a tirania, a barbárie.
Enquanto escrevo, lembrei-me de que a extrema esquerda está refluindo, com a eleição de Joe Biden, a Argentina, a Vitória do povo indígena da Bolívia e a reviravolta de outros países da América do Sul. Haverá um efeito dominó na mesma rapidez, o retorno de governos populares, comparando com o da extrema direita, quando ascendeu ao poder? Essa onda do poder da direita parece ter exaurido, por sua conhecida incapacidade de gestão, nesse instante ímpar da história mundial. Aguardemos! Pobre nação!
JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
MAZOLA
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