Redação

A pintora Heba Zagout foi assassinada no último dia 13 de outubro por um bombardeio aéreo israelense que destruiu sua casa na cidade de Gaza. Dois de seus quatro filhos pequenos também foram mortos no ataque.

Nascida em 1984 no campo de refugiados de Al Burejj, na Faixa de Gaza, Heba Zagout descendia de uma família de refugiados da Nakba.

Em 1948, paramilitares israelenses expulsarem seus avós da aldeia palestina de Isdud (hoje a cidade israelense de Ashdod), forçando-os a buscar abrigo em Gaza.

Heba viveu sua vida inteira sob ocupação e cerco militar de Israel. Desde pequena, a arte foi o meio que encontrou para expressar seus sentimentos, seus interesses e seus sonhos de liberdade.

Heba estudou design gráfico no Centro de Aprendizagem de Gaza e em seguida cursou artes plásticas na Universidade Al-Aqsa, onde se graduou em 2007.

Trabalhou posteriormente como professora de educação artística em uma escola primária de Gaza. Também atuou como educadora na Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina.

Foram suas pinturas de cores vibrantes, repletas de vida e beleza, dotadas de pungente simbolismo, que a tornaram uma artista admirada.

Heba tinha uma predileção especial por retratar as paisagens, os costumes e o povo da Palestina, transpondo para as telas as histórias dos refugiados, o cotidiano de Gaza, as tradições e símbolos que evocam a cultura de seu povo.

Sua arte era, acima de tudo, um registro visual que documentava a história e a herança palestina — um meio de enfrentar o apagamento e a reescrita da memória imposta pela ocupação israelense.

Heba retratou as casas palestinas, as oliveiras, as mesquitas e as igrejas de Gaza. Contou as histórias de sua família e as memórias de sua infância. E se as cercas de arame farpado erguidas por Israel a impediam de sair de Gaza, Heba viajava através de suas obras.

Pintou a Cidade Antiga de Jerusalém, retratando suas vielas ladeadas por oliveiras e a suntuosa Cúpula da Rocha. Pintou Belém e suas antigas muralhas. Pintou a aldeia de Isdud onde viveram seus antepassados.

E pintou a si mesma em vários autorretratos, ora trajando o thaub e o bordado tatreez, reafirmando o orgulho por sua identidade palestina, ora expressando seu desejo por paz e liberdade.

Comentando sobre a simbologia desses autorretratos, Heba explicou: “Nasci carregando comigo a palavra refugiado. Nunca vi minha cidade natal, mas minha tia, Alia, nos contava sobre as terras do meu avô, os laranjais, a época de colheita e uma casa cheia de amor e vida. Eu via a saudade nos olhos da minha tia enquanto ela nos contava essas histórias daqueles tempos passados. E via o desejo de poder retornar um dia”.

Por muitos anos, Heba conseguiu através de sua arte impedir que a feiura, a desumanidade, a perversidade da repressão israelense ocupassem sua mente. Mas a barbaridade se impôs no dia 13 de outubro.

Um bombardeio israelense sobre as áreas residenciais de Gaza matou a artista plástica e dois de seus filhos pequenos, Adam e Mahmoud.

Suas obras, registros poéticos únicos do seu amor por sua terra, estão incineradas e soterradas sob os escombros de Gaza.

Fonte: Twitter / Pensar História.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


PATROCÍNIO

Tribuna recomenda!