Por João Claudio Pitillo e Roberto Santana Santos 

O surgimento da Lava Jato revelou uma nova forma de atuação do imperialismo, o lawfare, isto é, o uso desmedido das leis para perseguir adversários políticos a partir de denúncias infundadas. Essa foi a prática utilizada pela “força tarefa dos procuradores federais do Paraná” durante os últimos 6 anos. Intimamente ligados ao governo estadunidense, esses procuradores agiram de maneira a influir nos processos eleitorais recentes, culminando na prisão do ex-presidente Lula, impedindo assim que ele participasse da campanha de 2018, onde era franco favorito.

Elogiada e saudada por diversos setores das classes média e alta, a Operação Lava Jato foi vista pela imprensa burguesa como um modelo de correção das antigas práticas políticas, sociais e administrativas, envolvendo o público e o privado. Até mesmo agrupamentos da esquerda institucional, mostraram entusiasmo com a atuação dos procurados da “República de Curitiba”. Esse encanto já revelava a grande confusão que o campo progressista brasileiro estava se enfiando, confirmado logo depois, com a eleição de Jair Bolsonaro para Presidente da República.

As notícias recentes dão conta do atrelamento ilegal e subordinado desses procuradores da Lava Jato junto ao FBI e ao Departamento de Estado norte-americano (órgãos de fiscalização, controle e espionagem dos Estados Unidos). Tal informação já havia sido ventilada em anos anteriores, mas foram solenemente ignoradas pelos dirigentes brasileiros. Essa “parceria”, não só era descabida politicamente, já que Washington competia com a engenharia brasileira nas áreas de gás, petróleo, tecnologia e defesa, como era ilegal, já que revelava informações sigilosas do Brasil aos Estados Unidos, violando assim, a soberania nacional.

A ação preferencial contra a Petrobras e as empresas de engenharia nacional, com especial atenção à Odebrecht, levaram essas mesmas a pagarem verdadeiras fortunas ao governo estadunidense como forma de compensação pelos atos de corrupção. Feito que ajudou a desmantelar boa parte delas, ocorrendo na perda de competitividade de quase todas. Essa ação judicial contra o capital nacional se deu no âmbito do impeachment da presidenta Dilma Rousseff e o terrível desmonte da Petrobras executado pelos seus sucessores (Michael Temer e Jair Bolsonaro). O conflito de interesses fica mais escabroso quando se constata que o telefone celular da referida presidenta era espionado pelos estadunidenses1 e se descobre também que seu vice, Michel Temer, era um costumas informante da diplomacia estadunidense.2

A Espuma da História

As ações ufanistas por parte da mídia empresarial e de setores entreguistas da sociedade contra os ex-presidentes Lula e Dilma não são novidades em nossa história. Para além da veracidade das mesmas, existe a prática continuada de tal coisa no Brasil, quando se objetiva impedir qualquer projeto de desenvolvimento autônomo, por menor que possa ser. Contra o presidente Getúlio Vargas e o seu projeto de Estado de Bem-Estar Social fora usada as mesmas táticas. Golpeado por duas vezes (1945 e 1954), Vargas foi acusado por esses mesmos setores de promover um “verdadeiro mar de lama no Palácio do Catete”.

Tais denúncias só foram descontinuadas depois do seu suicídio, quando se provou que tais acusações eram infundadas e Getúlio Vargas um homem honesto, e o Brasil já estava rendido ao capital estrangeiro. O golpe de Estado que se escrutinava contra o mesmo por esses setores ligados a Washington teve que ser adiado devido à comoção do suicídio do presidente. Neste mesmo contexto, alguns setores progressistas, como nos dias de hoje, chegaram a se entusiasmar com a tal campanha “moralista”, acreditando estarem cumprindo um papel histórico, mas nos dias atuais, esses agrupamentos não passam de “espuma da história”, isto é, carecem de consistência.

O aparato constituído pela Lava Jato assusta em tamanho e força, da forma como agem, fica claro que constituíram um Estado dentro do Estado. Agem ao arrepio da lei, desprezando hierarquias e não obedecendo as fronteiras de seu próprio país. Abandonaram todo o ordenamento jurídico e passaram a agir politicamente de forma ostensiva, fazendo inclusive ameaças a parlamentares e militantes partidários. A coisa se tornou tão acintosa que o juiz Sérgio Moro, depois de prender o ex-presidente Lula que liderava os intensões de voto contra Jair Bolsonaro – impedindo assim o povo brasileiro de escolher democraticamente seu chefe de Estado, foi fazer parte do governo, vencido por aquele que se beneficiou diretamente da prisão de Lula.

É Guerra Híbrida!

A presença ilegal e imoral de agentes estadunidenses agindo dentro da Lava Jato demonstra de uma vez por todas o organograma da guerra hibrida lançada contra o Brasil a partir de 2010. O desejo longevo de Washington em ver a Petrobras, as demais estatais das áreas de energia e a Engenharia nacional desmontadas, só foi possível a partir da edificação da Lava Jato e todo o processo político e social desencadeado pelos desdobramentos midiáticos que os tais procuradores produziram. A parceria com a mídia venal e antinacional, funcionou para criar um ambiente de pós-verdade, onde os fatos, a lógica e a dialética eram solenemente ignorados a partir de um jornalismo de guerra, voltado contra o seu próprio Estado nacional.

O caos social e a crise financeira que se agravaram com a pandemia têm uma origem comum, as ações da Lava Jato, que hoje se tem conhecimento serem gestadas nos escritórios do Pentágono, onde a pratica de desestabilizar países para escravizar o seu povo e sugar as suas riquezas é uma constante há mais de 100 anos. Mas, para que os gringos tenham êxito é preciso daqueles que estão dispostos a trair o seu povo e a sua pátria. Esses costumam ostentar discursos pomposos repletos de senso comum acerca da honestidade, onde a “moral e os bons costumes” chamam mais atenção pela estética do que pelo conteúdo. O Brasil está repleto dessa gente, passando pelos “quinta-colunas”, que informavam o trajeto dos navios brasileiros para os submarinos nazistas, até os paladinos de Curitiba comandados por Moro e Dallagnol.

1 http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/07/lista-revela-29-integrantes-do-governo-dilma-espionados-pelos-eua.html

2 https://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1771016-wikileaks-diz-que-michel-temer-atuou-como-informante-dos-eua.shtml


João Claudio Platenik Pitillo – Doutorando em História Social pela UNIRIO, pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas da UERJ (NUCLEAS) e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.

Roberto Santana Santos – Doutor em Políticas Públicas e Mestre em História Política pela UERJ. Atualmente Professor da Faculdade de Educação da UERJ e Secretário-executivo da REGGEN-UNESCO. Militante das Brigadas Populares.