Por Michelle Meneses –

Na véspera do feriado de Páscoa, um dos mais importantes do calendário religioso, o Brasil é tomado pelo horror de crimes brutais dentro de escolas.

No espaço de uma semana, assistimos estarrecidos a dois crimes que abalaram profundamente o ambiente escolar brasileiro.

Um aluno de 13 anos, com um histórico de prática de violência escolar, esfaqueou friamente e matou uma professora, além de ferir colegas e outros educadores em uma escola pública de São Paulo.

Agora assistimos um crime brutal, chocante e desumano na cidade de  Blumenau (SC), um criminoso de 25 anos, com várias passagens pela polícia, invadiu e matou com golpes de machado quatro inocentes crianças e feriu outras cinco.

Numa manhã ensolarada de outono, crianças ente 4 e 7 anos brincavam felizes e descontraídas no parquinho da escola particular da aprazível cidade de Blumenau, quando de modo vil, bárbaro e cruel foram brutalmente atacadas e mortas pelas mãos de um homem, que em tese, deveria estar preso, já que tinha várias anotações criminais, sendo que em uma delas, atentou contra a vida do seu padrasto.

Por que esse criminoso se encontrava em liberdade, mesmo diante de crimes cometidos recentemente?

Por que a Polícia e a Justiça brasileira são tão condescendentes com Criminosos brancos?

Onde foi que o Estado brasileiro falhou miseravelmente com a segurança pública da população?

Por que a sociedade civil brasileira assiste passivamente à escalada da violência no país?

Por que a Escola um local que deveria proteger a integridade física de seus alunos está sendo brutalmente atacada?

Por que o Ódio no seu ‘estado’ mais letal está sendo semeado e frutificando em terras brasileiras?

São muitos questionamentos e poucas  respostas daqueles que deveriam cuidar e proteger os cidadãos brasileiros: as Autoridades públicas e Governos federal, estadual e municipal.

Vi muitos discursos emocionados e bonitos proferidos por autoridades ao longo do dia do brutal massacre na escola infantil de Blumenau, mas isso NÃO é e nem será o suficiente para frear os casos de Violência dentro das Escolas em todo país!

Precisamos de medidas eficientes para combater as causas deste tipo de Crime.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, liberou o repasse de 150 milhões de reais para ‘Rondas no entorno de escolas’;  e , aí sim uma medida importante, determinou a ampliação do grupo de inteligência da pasta para monitorar ameaças e todo tipo de discurso de ódio que circulam na chamada “deep web”, o sub mundo da Internet.

Quando no calor dos acontecimentos, o Ministro da Justiça libera um valor tão alto para estados, que por sua vez deverão repassar para os municípios tais recursos públicos, é um mau uso do dinheiro público, visto que “rondas escolares” surtem poucos efeitos para conter a Violência ocorrida DENTRO de uma escola!!

A ronda no entorno de estabelecimentos de educação é importante para coibir delitos, como furto, mas não surte nenhum efeito para combater a BARBÁRIE que ocorre dentro de salas e pátios escolares!

Ademais quantas escolas públicas e particulares existem no Brasil?

Será que teríamos agentes de segurança em número suficiente para fazer a ronda em TODAS as escolas brasileiras?

Esse tipo de ação do Governo Federal é um desperdício de dinheiro público, pois, um recurso mal administrado, pode nem mesmo chegar nas mãos das autoridades responsáveis pela segurança no entorno das escolas.

Quanto a outra medida tomada pelo Ministro da Justiça, o monitoramento por grupos de inteligência cibernética de movimentações criminosas na Internet, essa sim, é uma ação fundamental para inibir, reprimir e prender pessoas que utilizam as redes sociais e sites que disseminam e estimulam a prática de crimes violentos em escolas.

A violência promovida e estimulada ao longo do Governo Bolsonaro é uma das causas para o aumento expressivo de ataques covardes e brutais ocorridos em escolas brasileiras.

Também podemos colocar nessa conta macabra, o aumento de células NeoNazistas em todo Brasil, especialmente na região sul, não por acaso, nas últimas eleições, Bolsonaro venceu nos três estados do sul.

O professor e pesquisador Daniel Cara da USP, realizou um levantamento sério e minucioso sobre a relação do aumento de ataques à escolas com o surgimento e fortalecimento da ideologia nazista no Brasil.

Diz o professor Daniel Cara:

“Neonazismo não é fenômeno passageiro no Brasil.”

“Os ataques a escolas aumentaram no Brasil nos últimos anos. Na percepção de quem estuda o tema, pouco foi feito para desmantelar grupos radicalizados e impedir a disseminação do discurso extremista de direita entre adolescentes e jovens. Essa é a análise de Daniel Cara, professor e pesquisador da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) que coordenou um grupo de análise sobre o perigo da extrema direita na população jovem, ao lado de mais 12 pesquisadoras e colaboradoras.”

“Com mais de 50 páginas, o relatório assinado pelo grupo foi entregue à equipe de transição do governo em dezembro de 2022, responsável pela área da educação.”

Segundo Daniel Cara, a elaboração do relatório não estava prevista, mas o assunto se tornou urgente depois do atentado em Aracruz (ES), em que um menor de idade atacou dois colégios no mesmo dia, usando uma braçadeira com a suástica e uma máscara de caveira usada por grupos neonazistas. Três pessoas foram mortas.

Para Daniel Cara, que voltou a cobrar que o governo federal preste atenção no conteúdo do relatório, não há interesse político em atuar na prevenção de atentados em escolas, nem de desmantelar espaços virtuais em que o discurso extremista atinge majoritariamente jovens e adolescentes do gênero masculino.

“Da campanha presidencial, em 2018, até os quatro anos em que Jair Bolsonaro (PL) comandou o Poder Executivo, grupos virtuais em aplicativos de troca de mensagens e comunidades no Facebook ficaram cada vez mais em evidência na imprensa, e alimentaram estudos sobre o comportamento da base bolsonarista e os rumos da extrema direita brasileira. Entretanto, os espaços virtuais onde predominam discursos fascistas e neonazistas, ideologias mais simbologia usada por autores de atentados, têm lastro anterior a esse período. O erro, de acordo com o pesquisador, é julgar que o neonazismo é um fenômeno recente no Brasil.”

“O Brasil pensa que esse fenômeno é passageiro, mas começou nos anos 2000 e foi aumentando exponencialmente”, afirma o pesquisador. (Fonte: TAB/UOL 16/02/2023)

Como podemos concluir, a eleição de Bolsonaro, o aumento do discurso de ódio em redes sociais, o estímulo ao uso de armas, a polarização na política, o acirramento da sanha autoritária, a tentativa de golpe contra a Democracia brasileira, a proliferação de células neonazistas e a impunidade, tudo isso junto e misturado contribuiu para explosão da violência no país.

Em uma semana no Brasil ocorreram dois massacres em escolas. Isso é Gravíssimo!

Se as autoridades policias e a Justiça Brasileira não tomarem medidas duras nesses casos, corremos o risco de nos tornarmos o abrigo perfeito para grupos de facínoras que destilam seu ódio a todos aqueles que para eles são considerados inferiores e devem ser subjugados pela dor e sofrimento.

Elie Wiesel, o grande escritor judeu, sobrevivente dos campos de concentração nazistas e ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1986, nos deixou uma forte reflexão que se encaixa perfeitamente aos tempos que vivemos:

“Tome partido. Neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. Silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado.”

Neste momento sombrio da história brasileira, não há espaço para a neutralidade, não podemos aceitar o inaceitável e nem tolerar o intolerável!

A sociedade brasileira está adoecida, assolada pela violência e pelo medo que se instalou por todos os lugares do país. Já não nos sentimos seguros em nenhum espaço, seja ele público ou privado.

A sensação de insegurança é real!

Crianças inocentes, jovens e professores perdem suas vidas nas mãos de criminosos frios, calculistas e cruéis, que cometem a barbárie pelo simples e terrível prazer de matar o outro.

Nesse momento de profunda dor que toma conta do Brasil, precisamos como seres humanos, pais e cidadãos, refletirmos sobre que tipo de país queremos para viver e que sociedade estamos construindo para as futuras gerações.

Precisamos interromper esse ciclo de ódio.

Não existem palavras para confortar os pais que perderam seus amados e inocentes filhos, a dor é insuportável!

Que a Justiça seja feita!

Basta de Violência!

MICHELLE MENESES – Advogada, Cientista Política, Escritora, Mãe de 4 filhos e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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