Por Miranda Sá –
“O homem tem toda a vida para colecionar experiências e ensinamentos, mas apenas poucos anos para reunir essas lembranças” (Morris West)
Quando a gente nasce, a memória vem adormecida sob o lençol dos nossos neurônios no sistema nervoso central… Não é um dom como os sentidos ou as heranças genéticas da cor dos olhos ou o tamanho do nariz.
É no correr da vida que as memórias armazenam uma vasta gama de registros, que vão da memória afetiva às memórias históricas; criam-se e se desenvolvem através das experiências sensoriais e, mais tarde, por exercícios técnicos e disciplina.
A capacidade adquirida para decorar é, às vezes, extraordinária. Encontramos cristãos que repetem palavra por palavra o Novo Testamento, islamitas que recitam o Alcorão inteiro e judeus que narram o Talmude.
Anos atrás, num programa de televisão, apareceu um cara que havia decorado um catálogo de telefones! Que os jovens do tempo do celular aprendam: aqueles catálogos eram um catatáu com mais de duas mil páginas de endereços…. Eu, quando rapazola, lembrava de cor os números de telefone de parentes, amigos e colegas de escola; hoje, nem isto!
Sofro, como escrevi outro dia, a desordem mental que vem com a idade, que vai atrofiando as lembranças e muitas vezes confundindo-as com fantasias. Tenho um amigo que ouvindo-me contar passagens da minha vida e considera-as fantásticas, me aconselha a publicá-las sob o título “Memórias de Ficção”….
Para me garantir do desmanche das reminiscências ou misturá-las com fantasias, venho anotando “causos” ocorridos comigo e as curiosidades tiradas de livros e revistas. É uma forma de manter o que me interessa sem confiar na memória, este substantivo feminino de origem morfológica, lembrar + ança, o efeito de guardar fatos na memória.
Guardo ensinamentos úteis, ideias nascidas da observação e casos que me interessam; e é assim que divulgo nos meus artigos anedotas históricas e fábulas obtidas por ter aprendido com Goethe que “O que passou, passou, mas o que passou luzindo, resplandecerá para sempre”.
Mas eu gostaria de levar para as sombras do esquecimento as promessas dos políticos nas campanhas eleitorais, porque sofro ao recorda-las quando não as vejo cumpridas ou, pelo menos, tentativas para realizá-las.
Não sou o único a pensar dessa maneira, assistindo o campo da política tornar-se um aterro sanitário, que acolhe o lixo humano para ocupar os poderes do Executivo, Judiciário e Legislativo. Principalmente o Legislativo, onde para entrar não se exige formação intelectual, honestidade e atestado de boa conduta; depende apenas da burrice ou da venalidade do eleitor…
Neste cenário de horrores, as lembranças estão, felizmente, nos registros históricos e no disse-me-disse que vagueia em todas as cabeças pensantes. No Rio de Janeiro temos boletins de ocorrência de quase todos agentes políticos mergulhados na corrupção.
No pobre Estado do Rio, que tem graças à natureza uma capital maravilhosa, quatro ex-governadores foram presos por corrupção. Agora, um deles, Sérgio Cabral, teve sua delação premiada aprovada, talvez por descuido de um ministro do STF.
Comparsa de Lula da Silva na corrupção, Cabral dedurou o seu vice, Luiz Pezão, como organizador de um esquema de propinas e dele usufruir R$ 70 mil mensais no seu governo.
Temos também a denúncia do ex-ministro petista, Antônio Palocci, acusando Lula da Silva da venda de Medidas Provisórias tendo como pagamento propina para um dos filhos.
É talvez pela escabrosa situação política a que chegamos, que agradeço de mãos postas não ter desperdiçado a oportunidade de memorizar poesias como a de Castro Alves: – “Senhor Deus dos desgraçados! / Dizei-me vós, senhor Deus! / Se é loucura… se é verdade/ Tanto horror perante os céus…
MAZOLA
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