Por Thomas de Toledo –
A urbanização de São Paulo é uma bomba relógio.
O que aconteceu no Rio Grande do Sul tornou-se apenas uma questão de tempo pra acontecer em São Paulo. Com as mudanças climáticas provocadas pelo desmatamento descontrolado da Amazônia, do Cerrado e da Mata Atlântica, o regime de chuvas vai continuar numa proporção cada vez maior. Isso impactará principalmente as grandes cidades.
Não se trata de ser catastrofista nem adivinho, mas de constatar o óbvio. São Paulo teve uma urbanização caótica, sem planejamento, cujo único interesse foi beneficiar o mercado imobiliário. Centenas de rios foram canalizados para serem transformados em avenidas. O Rio Tietê foi retificado e transformado num esgoto a céu aberto. O Rio Pinheiros teve seu fluxo invertido para criar a represa de Bilingues. As áreas de várzeas foram todas asfaltadas e impermebilizadas.
O resultado é que temos constantes alagamentos e a solução inventada é um desastre do ponto de vista urbano: a criação de piscinões que são o maior exemplo de gambiarra pra uma cidade que deveria ter muito mais parques e áreas verdes.
Mas o que está acontecendo é exatamente o contrário. O governador Tarcísio está apostando todas as suas fichas em privatizar a Sabesp e deixar as águas de São Paulo ao sabor dos interesses do capital privado. Em vez de descentralizar a administração para o interior, ele quer criar uma nova área administrativa na região próxima à Cracolândia. Dá até pra desconfiar do porquê a Polícia Militar ficava empurrando os cracudos de um lado pro outro na região. Agora os preços dos imóveis estão baixíssimo e a desapropriação sairá bem mais barata.
Pra isso ele conta ainda com o apoio do prefeito Ricardo Nunes, que autorizou o adensamento urbano no novo plano diretor. São Paulo virou um canteiro de edifícios e está numa onda jamais vista de verticalização. Qualquer terreno ou casa térrea está condenado a desaparecer.
A situação é: o que vai acontecer se houver uma grande inundação? Os primeiros afetados serão aqueles que ficam próximos às Marginais Tietê e Pinheiros. Um alagamento no nível de Porto Alegre simplesmente bloquearia as duas principais vias de acesso norte-sul e leste-oeste. Outras regiões atingidas seriam as que ficam próximas às represas Bilíngues e Guarapiranga.
Mas a maior tragédia aconteceria nas grandes avenidas que têm debaixo delas os rios canalizados.
As avenidas do Estado, 23 de maio, 9 de julho, Aricanduva, Águas Espraiadas são apenas alguns exemplos. As áreas baixas como o Vale do Anhangabaú, o Ibirapuera e o Campo de Marte se transformarão rapidamente em gigantes lagos.
Obviamente que todos os túneis nessas regiões vão ser engolidos, assim como várias estações de metrô. A Faria Lima seria inundada, assim como a Cidade Universitária da USP, o aeroporto de Congonhas, o Terminal Tietê e o Barra Funda, além das linhas de trem da CPTM. Tudo debaixo d’água.
Num cenário como esses faltarão três coisas: água, eletricidade e consequentemente internet. Diferente de Porto Alegre onde existe uma cultura de navegação lacustre e por isso muitas pessoas têm barcos, o mesmo não acontece em São Paulo. Portanto, o transporte de resgate estaria dificultado.
Sem eletricidade não há como subir os elevadores dos prédios. Com a Sabesp privatizada, a prioridade será atender ao lucro dos acionistas e ela não fornecerá água potável à população.
Esse cenário seria uma catástrofe de proporções muito maiores que de Porto Alegre porque afetaria 30 milhões de pessoas que vivem na região metropolitana. Pararia o principal centro econômico do Brasil. O resultado final uma destruição nunca antes vista e prejuízos de centenas de bilhões de reais.
A pergunta que fica é: seria possível evitar una tragédia como essa? Sim, mas ela iria na contramão do que propõe o prefeito Ricardo Nunes e o governador Tarcísio.
Em vez de adensar a urbanização, seria preciso a desurbanização de vários bairros para serem transformados em áreas verdes. A população deveria ser estimulada a se mudar pro interior em novas áreas planejadas e integradas à capital por trem de alta velocidade.
Atividades industriais, de serviços e da administração pública deveriam ser transferidas ao interior. Isso num plano de criação de cidades sustentáveis e integradas.
Mas… Isso é só uma ideia de quem pensa no bem coletivo e não no lucro. Ou seja, é um sonho inviável para um prefeito e um governador neoliberal que está alinhado com o fascismo. Nesse caso só nos falta esperar a tragédia acontecer e ver o prefeito e o governador culparem São Pedro.
Enviado por THOMAS DE TOLEDO, leitor da Tribuna da Imprensa Livre.
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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