Por Osvaldo González Iglesias 

A economia argentina atravessa um momento crucial da sua história recente, marcado por uma série de desafios e mudanças sem precedentes.

Durante mais de seis anos, o país enfrentou uma inflação crescente que parecia escapar ao controlo. Apesar das múltiplas promessas eleitorais e tentativas de diversas administrações, a crise inflacionária persistiu, afetando direta e profundamente os salários dos trabalhadores argentinos. Num período de tempo relativamente curto, os salários deterioraram-se em mais de 70% em comparação com os padrões internacionais, gerando preocupação generalizada entre a população.

A questão monetária tornou-se uma estratégia recorrente para aliviar os défices causados por uma economia estagnada e pela falta de competitividade a nível internacional. A escassez de dólares, essenciais para a importação de insumos e máquinas, complicou ainda mais a situação, levando a medidas paliativas que, embora pudessem tapar temporariamente os buracos, não resolveram as raízes do problema. Esta situação conduziu a uma crise clássica sem solução clara, onde os sectores mais vulneráveis da sociedade foram cada vez mais afectados, enquanto o tesouro nacional foi saqueado e endividado em títulos cujos interesses ultrapassavam em muito a própria dívida.

Durante muito tempo, as administrações optaram por ampliar a solução sem enfrentar os ajustes estruturais necessários. O medo de perder a base eleitoral e a ilusão de manter uma estabilidade fictícia levaram ao adiamento de decisões difíceis. No entanto, a população, farta de uma crise crónica e de soluções temporárias, decidiu intervir no ciclo político com força e iniciativa invulgares.

O povo argentino optou por uma mudança radical, votando em uma pessoa fora do sistema político tradicional, alguém que representasse sacrifício e ajuste, mas também a promessa de superar definitivamente a crise que assolou o país. Esta decisão, embora implicasse longos prazos e medidas dolorosas, reflectia maturidade e uma consciência colectiva da necessidade de mudanças profundas.

(Crédito: Shutterstock)

Esta viragem política surpreendeu muitos, especialmente os sectores tradicionais do poder como a CGT, alguns governadores e parte do radicalismo. Estes sectores, habituados ao conforto da manutenção do status quo, resistiram à mudança, sem compreenderem plenamente a urgência e a magnitude da transformação que estava por vir.

Na esfera económica, registaram-se melhorias significativas. A inflação, que atingiu níveis alarmantes, deverá diminuir para 5% no próximo mês, marcando um marco na estabilização económica. O dólar, alvo de medo e volatilidade no passado, encontrou relativa estabilidade, gerando entusiasmo entre os investidores que buscam rentabilidade e segurança. As joint ventures, por sua vez, embora visam recuperar o poder de compra da população, embora persistam desafios em termos de emprego e crescimento sustentável.

No entanto, estas melhorias são dificultadas por obstáculos estruturais criados no passado. Os governos anteriores implementaram medidas que interferem nas transacções económicas, procurando principalmente aumentar a arrecadação de impostos e facilitar práticas corruptas. Estes obstáculos, que afectam tanto o sector público como o privado, têm sido um grande obstáculo ao desenvolvimento económico e à transparência institucional.

No plano social, há um despertar sem precedentes de consciência e participação cidadã. A maioria da população entende a necessidade de enfrentar os desafios atuais com determinação e comprometimento. Embora existam divergências e resistências por parte de alguns setores, a tendência geral aponta para um maior envolvimento da sociedade na construção de um futuro mais próspero e equitativo.

Concluindo, a Argentina atravessa um período crucial onde as decisões tomadas no presente terão um impacto profundo no futuro do país. Embora os desafios sejam significativos e a resistência persista, o caminho para uma nova etapa parece ser marcado por uma maior consciência colectiva, um compromisso renovado com a mudança e a esperança de um país mais justo e próspero para todos os seus cidadãos.

OSVALDO GONZÁLEZ IGLESIAS – Escritor e Dramaturgo. Director do jornal eletrônico Debate y Convergencia, correspondente do jornal Tribuna da Imprensa Livre na Argentina.Radiografiara de una sociedad deprimida. (Como no agradecerle eternamente a Messi) - Debate y Convergencia

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