Por Jeferson Miola –
Na solenidade de despedida do cargo de comandante do Exército em 11 de janeiro de 2019, o general-conspirador Villas Bôas disse que “2018 foi um ano rico em acontecimentos desafiadores para as instituições e até mesmo para a identidade nacional”.
Referindo-se a Bolsonaro, Sérgio Moro e o general Braga Netto, Villas Bôas afirmou que em 2018 “três personalidades destacaram-se para que o ‘rio da história’ voltasse ao seu curso normal”. “O Brasil muito lhes deve”, declamou.
Para Villas Bôas, Bolsonaro “fez com que se liberassem novas energias, um forte entusiasmo e um sentimento patriótico há muito tempo adormecido”; ao passo que Sérgio Moro foi um “protagonista da cruzada contra a corrupção”, e o general Braga Netto “conduziu a intervenção federal no Rio de Janeiro de forma exitosa”.
Por coincidirem na prática de desvios e ilícitos, estes três heróis do general-conspirador hoje andam às voltas com investigações criminais.
O general Braga Netto é o último deles a se ver oficialmente na mira da polícia e da justiça. E de modo “glamoroso”, porque caiu no radar da PF a partir da investigação criminal internacional sobre os autores do assassinato do presidente do Haiti Juvenal Moise.
Ocorre que o dono da empresa estadunidense contratada por RS 40 milhões pelo Gabinete da Intervenção Federal no Rio de Janeiro para a venda superfaturada de coletes balísticos foi preso em janeiro passado por envolvimento no brutal assassinato de Moise em julho de 2021.
Como interventor federal e então autoridade máxima do Estado do RJ, o próprio Braga Netto pediu dispensa de licitação na compra fraudulenta junto à empresa cujo proprietário está implicado em banditismo internacional.
A Polícia Federal descobriu que o general Braga Netto continuou mantendo contato com lobistas e intermediários da empresa mesmo quando já exercia o cargo de ministro da Casa Civil.
Embora o escândalo tenha tido grande repercussão nesta terça-feira, 12/9, o mesmo já havia sido denunciado pelo Brasil de Fato ainda em julho de 2021, duas semanas depois do assassinato do presidente haitiano.
Apesar das fortes suspeitas existentes à época, o assunto, no entanto, foi engavetado pelo governo dos generais, que abafou as investigações, da mesma maneira que procedeu em relação a inúmeros outros escândalos. Em muitos deles, decretou sigilo de até 100 anos, decerto confiando na eternidade do poder militar.
Já se tornou rotina se confirmar a ligação de militares das Forças Armadas, especialmente os das mais altas patentes e do Exército brasileiro, com toda sorte de ilícitos, corrupção, ilegalidades, crimes e desvios.
É uma regra infalível, raramente falha: em toda bandalheira e irregularidade ocorrida no governo anterior, sempre há um delinquente fardado implicado.
Apesar das regalias e privilégios indecentes que desfrutam, os militares não estão nem acima nem à margem das Leis e da Constituição, e precisam ser processados e responsabilizados pelas ilegalidades cometidas.
JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.
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