Por Pedro do Coutto –
Ao responder indagação do ministro Benedito Gonçalves, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que permanece nos Estados Unidos, afirmou que o projeto de decreto golpista é apócrifo e, portanto, não deve ser considerado no processo movido contra ele, envolvendo-o na tentativa de golpe que explodiu na invasão selvagem contra o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso em Brasília. Logo, o documento encontrado na residência do ex-ministro Anderson Torres era do conhecimento do ex-presidente da República, pois, caso contrário, ele na sua defesa teria simplesmente dito que ignorava o fato.
Reportagem de Jussara Soares e Daniel Gullino, O Globo desta sexta-feira, acentua que Bolsonaro afirmou não ter qualquer conexão com a matéria investigada. O documento, como se sabe, resultou de uma apreensão feita pela Polícia Federal na casa de Anderson Torres, cumprindo decisão do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
ATOS CONCRETOS – No processo, Bolsonaro é defendido pelo advogado Tarcísio Vieira de Carvalho que acrescentou não terem sido apontados atos concretos ou indícios de que – neste ponto a sua afirmação surpreende – tenham participado de sua redação ou agido para que as providências supostamente pretendidas pelo decreto fossem materializadas. O advogado Tarcísio Vieira de Carvalho usou o plural, não o singular que teria cabimento na defesa de uma única pessoa, no caso Bolsonaro que o constituiu advogado.
Aplicando de que não há indícios de que tenham participado de sua redação, Tarcísio Vieira nitidamente está se referindo a Jair Bolsonaro e Anderson Torres, preso em um batalhão da Polícia Militar em Brasília. Uma das acusações feitas a Bolsonaro, entre 16 outras, é a de ter feito críticas ao sistema eleitoral brasileiro em reunião no Palácio da Alvorada para a qual convidou os embaixadores e diplomatas estrangeiros que integram as representações na capital do país.
REPERCUSSÃO – A colunista do O Globo Malu Gaspar informou na edição online que integrantes, sobretudo do PL, que inicialmente achavam que Bolsonaro deveria retornar logo ao país, passaram a considerar a hipótese dele permanecer em Orlando mais tempo. Para essa corrente partidária, a repercussão dos atos golpistas foi péssima para o ex-presidente da República, fortalecendo acentuadamente o presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes junto à opinião pública brasileira.
Claro, pois ninguém em sã consciência pode defender invasões selvagens e destruição de patrimônio público, ações voltadas para nada além de uma onda destrutiva sem sentido algum. As prisões realizadas pela Polícia Federal contra integrantes da “fúria subversiva “continuam a ser realizadas e ontem os três comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica reuniram-se com o presidente Lula e com o ministro da defesa, Múcio Monteiro. Vamos aguardar o resultado para comentarmos na edição de domingo.
CRÍTICAS – Reportagem de Bruno Góis e Renan Monteiro, O Globo de ontem, destaca novas críticas feitas pelo presidente Lula da Silva ao Banco Central e ao seu presidente Roberto Campos Neto sobre a política de juros e a autonomia do Bacen. Na manhã de quinta-feira, reunido com reitores e representantes de órgãos de Educação, Lula disse que há planos voltados para o déficit fiscal, mas não para os referentes à imensa dívida social brasileira.
Na véspera, portanto na quarta-feira, Lula havia desferido ataques ao Banco Central na entrevista a Natuza Nery, GloboNews, que alcançou grande repercussão no país. Uma das críticas, a meu ver procedente, refere-se à decisão do Banco Central tomada em 2021 de elevar a taxa Selic para 13,75% porque a inflação oficial divulgada pelo IBGE tinha sido de 10% em 2020.
SELIC – Entretanto, em 2022 o IBGE em sua visão apontou um índice inflacionário de 5,7%, o que deveria significar uma redução de quase a metade do vendaval que atingiu a sociedade brasileira no ano anterior. Mas isso não ocorreu, conforme os fatos demonstram. A inflação baixou (segundo o IBGE), mas o BC manteve a Selic em 13,75% ao ano.
Esse índice incide sobre a taxa de remuneração a cada 12 meses dos títulos do Tesouro que lastreiam a dívida do país de R$ 5,8 trilhões e que se encontram em sua quase totalidade nas mãos dos bancos, dos fundos de investimento e dos fundos de pensão das empresas estatais. A correção dos títulos pela Selic continua alta. A correção dos salários, baixíssima. A renda nacional, portanto, se concentra ainda mais.
PEDRO DO COUTTO é jornalista.
Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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