Por Jeferson Miola –
A eleição deste ano será a mais importante eleição das nossas vidas e da história do Brasil.
Nela decidiremos o destino do país, que se encontra numa encruzilhada entre, de um lado, a democracia, a humanidade, a civilização; e, de outro, a barbárie, o charlatanismo, o ultraliberalismo, o fascismo.
Bolsonaro e os generais jogam a vida nesta eleição. Está em jogo a continuidade ou a interrupção do projeto de poder de longo prazo que acalentam e que oportuniza o mais brutal processo de saqueio e pilhagem das riquezas do país pelos capitais nacionais e internacionais.
Eles sabem que, se conseguirem derrotar Lula por meio de esquemas gigantescos de fraudes, intimidações, ameaças, mentiras e corrupção eleitoral, pavimentam o caminho rumo a um regime antidemocrático extremista e duradouro. Mas eles também sabem que, na hipótese bastante realista de derrota eleitoral, no futuro imediato deverão estar sentados nos bancos de réus de tribunais nacionais e internacionais.
Em razão disso, portanto, e do desespero desses potenciais perdedores, a eleição de outubro deverá ser a mais sangrenta e fascistizada eleição da história do Brasil. Bolsonaro, as cúpulas partidarizadas das Forças Armadas e a extrema-direita empregarão os piores meios de combate e guerra – os mais sujos e os mais infames.
Nunca, em nenhuma eleição anterior, um candidato presidencial ficou exposto ao risco máximo de sofrer atentado terrorista, como a Polícia Federal classifica o grau de risco a que o ex-presidente Lula está exposto.
O gangsterismo bolsonarista já não se restringe ao submundo das redes sociais, onde opera com seus exércitos de robôs e maquinarias de mentiras, difamação e propagação de ódio, violência e intolerância.
A extrema-direita fascista também atua com idêntica ousadia e vilania fora do esgoto das redes sociais; e se encoraja ainda mais, quando conta com impunidade e cumplicidade institucional.
O assassinato do petista Marcelo Arruda pelo terrorista bolsonarista Jorge Guaranho, em 9 de julho, que foi precedido pelo atentado a bomba ao comício do Lula no Rio 48 horas antes, em 7 de julho, é uma amostra deste clima de terror político instalado no país pelo governo militar e seus apoiadores.
A derrota do Bolsonaro, do fascismo e dos militares somente será possível com uma resistência democrática e popular vigorosa e ativa. Uma resistência democrática-popular que consiga sensibilizar, politizar e organizar amplos setores populares, o povo pobre, a classe trabalhadora, os negros, as juventudes e as mulheres – enfim, as maiorias sociais do Brasil.
Os atos de 11 de agosto em defesa da democracia evidenciaram o descolamento de setores do bloco dominante do governo e aumentaram o isolamento e a ilegitimidade do Bolsonaro. É preciso, entretanto, entender que esta oportuna iniciativa não conseguirá, sozinha, dar conta da tarefa vital de derrotar politicamente, socialmente, culturalmente e eleitoralmente o governo militar e o fascismo.
A possibilidade de se deter o fascismo e salvar o pouco que ainda resta de democracia no Brasil se localiza em lugares nem tão distantes do pátio da USP e da sede da FIESP.
É nas periferias, nas favelas e vilas do país; é nas ruas, nos terminais de ônibus e de metrô; nas universidades, nas escolas, nas fábricas, nos comércios, nos postos de saúde, nos locais de trabalho que se encontram as maiorias sociais que precisam ser despertadas e ativadas para cumprir esta missão histórica decisiva.
É preciso, portanto, combinar o aperfeiçoamento das estratégias comunicacionais nas redes sociais com a ocupação política e cultural do território real e cotidiano onde as maiorias sociais padecem do desastre e da devastação causada pelo governo.
É fundamental, neste sentido, se realizar um trabalho molecular; palmilhar cada rua, cada beco, cada bairro, cada distrito, cada cidade de todo país para se levar a arma da palavra, do convencimento, do esclarecimento, da construção da consciência democrática e antifascista.
O charlatanismo que manipula os desamparados, falseia o cristianismo e promove o ódio, está profundamente entranhado nas periferias. Nas suas igrejas, cultos e práticas assistencialistas, atua como força ideológica auxiliar do fascismo. É ali, portanto, nas periferias influenciadas pela manipulação reacionária, que se requer a presença intensiva para se fazer o contraponto.
A partir do prazo legal, até 2 de outubro viveremos os 47 dias mais decisivos e mais urgentes das nossas vidas. Nestes intensos e decisivos 47 dias cada ativista, militante e cidadão está chamado a dedicar suas melhores energias e paixões para eleger Lula já no primeiro turno.
O resultado do que conseguiremos concretizar nestes próximos 47 dias não define apenas a possibilidade de elegermos um governo de salvação nacional para os próximos quatro anos, porque define o que será do Brasil nas próximas décadas.
A vitória de Gabriel Boric no Chile contra o fascista José Antonio Kast, a versão chilena de Bolsonaro, foi conquistada numa memorável campanha que combinou a intensificação do trabalho nas redes sociais com a estratégia de visitar um milhão de casas por Boric Presidente. Em três semanas, mais de 25% da população tomou contato direto com a mensagem da campanha frenteamplista, fator que foi decisivo para a virada e a vitória de Boric.
Este método de enraizamento social, sindical e comunitário, aliás, está na origem da trajetória exitosa de construção do Partido dos Trabalhadores nos anos 1980 e 1990, e preserva sua absoluta atualidade e valor nesta complexa conjuntura.
É nas ruas; é no território concreto de vida e trabalho do povo brasileiro e com acessos ao maior número de lares para instalar comitês populares Lula Presidente, que derrotaremos Bolsonaro, o governo militar e o fascismo.
Campanha de Bolsonaro investe na “jihad bolsonarista”
A campanha de Bolsonaro investe no caminho perigoso da “jihad bolsonarista” – a guerra religiosa –, como parte da guerra total travada contra o ex-presidente Lula.
No sábado de 13 de agosto, na cidade do Rio, Bolsonaro completou a 11ª participação dele em uma Marcha para Jesus somente neste ano de 2022. É uma rotina impressionante de participação de um presidente da República: um evento evangélico a cada 20 dias.
Nas últimas semanas Bolsonaro retomou as articulações com líderes evangélicos mais sectários, fundamentalistas e radicalizados. A campanha bolsonarista também intensificou a presença de Bolsonaro e da primeira-dama Michelle (foto abaixo) em cerimônias e cultos evangélicos, nos quais não faltam conclamações incendiárias de manipuladores e charlatães.
A participação de Bolsonaro em atividades religiosas, assim como em formaturas e condecorações de policiais e militares, integra a programação principal da sua agenda. Esta singular rotina presidencial serve como uma bússola que sinaliza a estratégia da campanha bolsonarista.
No dia seguinte à Marcha para Jesus em Recife [6/8], o casal presidencial desembarcou com o avião da FAB em Belo Horizonte para participar do culto da Igreja Batista Lagoinha [7/8].
Na pregação aos fiéis, Michelle alertou, em tom messiânico, que o Brasil vive uma “guerra do bem contra o mal”. E disse que antes, durante os governos petistas, o Planalto havia sido “consagrado aos demônios”, mas “hoje [com Bolsonaro], é consagrado ao senhor Jesus”.
A primeira-dama já tinha afirmado [1/8] que nas madrugadas, “quando o Planalto se fecha, eu entro com meus intercessores e oro na cadeira dele. […] Ele [Bolsonaro] é um escolhido de Deus, ele é um escolhido de Deus”.
A pregação odiosa e intolerante do bolsonarismo também mirou as religiões de matriz africana. Nas redes sociais bolsonaristas, usaram uma menção respeitosa de Janja à Umbanda e ao Candomblé para incitar a intolerância, o preconceito e o ódio às religiões de matriz africana.
No primeiro ato oficial de campanha [16/8], Bolsonaro reprisou o discurso da “luta do bem contra o mal” e insinuou que se Lula for eleito, igrejas poderão ser fechadas e cultos proibidos.
Escalada para discursar por último no ato, a primeira-dama suplicou, como se vivesse em uma Teocracia: “que Deus dê sabedoria e discernimento ao nosso povo brasileiro, para que não entregue o nosso País, a nossa nação tão amada por Deus na mão dos nossos inimigos”.
A Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns [FIRPEA] repudiou as declarações de Michelle na Igreja Lagoinha, pois ferem o Estado de Direito “e promovem, através da demonização do diferente, a cultura de ódio, colocando em risco a convivência pacífica entre as distintas tradições religiosas e o respeito às diferentes crenças”.
Na visão da FIRPEA, “a primeira-dama repete uma antiga prática excludente, beligerante e preconceituosa” que estimula a violência e a intolerância religiosa. Trata-se, “portanto, [de] um maniqueísmo fundamentalista e perigoso, característico de regimes fascistas”.
A Frente Inter-religiosa lembra, ainda, que “essa mesma estratégia foi utilizada no passado para legitimar perseguições religiosas destrutivas e promotoras de mortes”. O resultado disso, entende a FIRPEA, é a “desagregação da sociedade através do medo”, fator que coloca “em risco a luta internacional de mais de um século por diálogo e cooperação inter-religiosa e ecumênica”.
No vale-tudo contra a democracia e no contexto da guerra total contra Lula, o bolsonarismo investe na intolerância e no ódio religioso – a “jihad bolsonarista” – que aprofunda a divisão e a desunião da sociedade, abrindo as portas para “perseguições religiosas destrutivas e promotoras de mortes”.
Atribui-se ao lendário Leonel Brizola a profecia de que “se os evangélicos entrarem na política, o Brasil irá para o fundo do poço, o país retrocederá vergonhosamente e eles passarão a matar em nome de deus”.
Esta premonição, de autoria discutível, parece muito própria de Brizola, porque mostra como a ficção imita a realidade com absoluta perfeição.
JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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