Por Sérgio Vieira –
Portugal / Europa – Séc. XXI.
Chegada a época de estio em Portugal e o fenômeno volta a se repetir como em todos os anos. Incêndios e mais incêndios que consomem esta tão frágil zona verde portuguesa. Primeiro eram os comunistas, depois os madeireiros que tinham seus interesses em comprar lenha queimada a baixo custo (e esta segunda hipótese ainda se mantem).
O país queima de norte a sul. Com temperaturas que andam a rondar os 40 e muitos graus. Portugal não está preparado para tantas queimadas e tanto calor. Incessantemente na TV assistimos a guerra travada pelos bombeiros e população em geral na intenção de tentar acalmar as chamas.
Portugal é ainda um país agrícola, ou pelo menos grande parte da sua subsistência vem da agricultura. E tem imensas povoações que estão encravadas nas encostas florestais justamente onde existem os incêndios. Por isso não raro vemos populares e aldeões a trabalharem em conjunto com os bombeiros. Coitados com mangueiras improvisadas, baldes de água e todo o material possível para aplacar a ira das chamas.
É certinho. Chega maio/junho, e lá vem a calamidade dos incêndios assolar Portugal.
Este ano a coisa parecia que ia se compor de uma forma mais amena. Mas não. A partir da primeira quinzena de julho, Portugal entrou em alerta vermelho devido aos fogos que “lambem” o país de lés a lés. Não é difícil ver populações/povoações inteiras fugindo de suas casas deixando para trás, casas, animais, bens de uma vida toda de trabalho e sacrifício. É desolador nós assistirmos isto no conforto do nosso lar. Quando vemos aldeias inteiras a fugirem para zonas mais seguras onde o fogo não os alcança.
Todo o ano a mesma coisa: o governo nos meses mais frios, anunciando medidas extraordinárias de precaução e combate aos incêndios, como se isto fosse fato consumado. Verão, tempo seco, sinal de incêndios a arrasar o país.
Sabem como se abrisse a temporada de caça? Abre também a temporada de incêndios em Portugal. Todo o ano a mesma coisa!
Não raro se prendem piromaníacos (este ano já foram vários) que por puro prazer mórbido de verem florestas a queimarem. Estou me lembrando da notícia de um idoso de 86 anos, que confessou em tribunal que foi ele o responsável por atear fogo a uma mata e a se “divertir” vendo a mata a arder e a azáfama dos bombeiros na tentativa de controlar o fogo. Caso inédito. Pasmem! Um bombeiro que ateava fogos à noite e se “divertia” vendo os fogos a lavrar e ele mesmo sendo um dos que combatia as chamas de dia. Coisa de maluco, não é? Freud explica! (ou não).
As matas estão desprotegidas.
Com árvores perto das estradas principais do pais pegando fogo e atravessando as rodovias colocando em risco o trânsito, nada incomum vermos estradas literalmente fechadas. Incluindo a Autoestrada A1, rodovia que liga o Porto à Lisboa, literalmente sendo engolida pelas chamas, pondo em perigo extremo a segurança de quem por lá circula.
Os meios de socorros não são suficientes para aplacar a ira das chamas. Sendo combatidas por terra e ar com recursos a hidroaviões que largam torrentes de água sobre as chamas. Aviões estes que na sua maioria são alugados da Espanha e França. Já se falando também dos interesses menos claros sobre os aluguéis de tais aeronaves. Como se fosse assim…, uma espécie de indústria do fogo, face aos enormes custos que cada avião destes custa ao Estado Português.
Este ano, é verdade, as temperaturas em Portugal têm atingido recordes nunca vistos. Com regiões a atingirem os 49ºC. Eu mesmo fui testemunha disto. Quando viajava na minha ida de férias para o Algarve, via no painel do carro zonas com mais de 44ºC, chegando mesmo aos 47ºC. É muita coisa!
Era como se um frio europeu se abatesse sobre o Rio de Janeiro. Ninguém estaria preparado para tal.
Mas as ditas medidas prometidas pelos sucessivos governos no inverno, não são aplicadas no verão, e cada vez mais vemos um país despreparado para aplacar o poder destruidor do fogo. Enquanto isto acontece vamos contando os mortos. Inclusive, ontem morreu um piloto de um desses hidroaviões que combatia os fogos num embate brutal contra uma colina às margens do rio D’Ouro.
Enfim, escrevo esta coluna, pois a acho oportuna e “quentinha”, passe o mau gosto do termo.
Vou ficando por aqui. Assistindo infelizmente de camarote sem nada poder fazer, e torcendo para que todo este inferno de chamas se aplaque para bem de todos.
(Escrito assim, meio às pressas, dada a atualidade dos fatos)
SÉRGIO VIEIRA – Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, representante e correspondente internacional em Aveiro, Portugal. Jornalista, bancário aposentado, radicado em Portugal desde 1986.
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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