Por Pedro do Coutto –

No período de janeiro a junho deste ano, o governo Bolsonaro através de sua Secretaria de Comunicação elevou em 75% os gastos em publicidade institucional na TV Globo, porém, isso não alterou o comportamento editorial da emissora em relação a Bolsonaro, nem o da GloboNews ou do jornal O Globo.

O governo federal investiu no período citado R$ 11,5 milhões em veiculação de mensagens publicitárias na Globo, representando um acréscimo de 75% em relação às aplicações publicitárias feitas no mesmo período de 2021. Reportagem de Hanrrikson de Andrade, Folha de S. Paulo desta terça-feira, focaliza o assunto.

CARACTERIZAÇÃO  – A injeção de recursos em publicidade institucional, como foi feito também na Record, no SBT, na Band e até na Rede TV, é normal devido ao relacionamento entre os governos e a opinião pública. Porém, dentro do princípio que existia no antigo Correio da Manhã, determinando que o jornal não aceitasse publicidade não caracterizada como tal, a Globo também procede, penso, dentro do mesmo princípio. Tanto assim, que as colocações de matérias publicitárias do governo são sempre precedidas de sua caracterização.

As despesas publicitárias do Palácio do Planalto resultam de um levantamento feito pelo canal Uol, da FSP. Essas despesas, que envolveram 46 inserções publicitárias caracterizadas, referem-se às campanhas públicas que a Secom julga funcionar positivamente junto à população. É normal tal despesa, inclusive porque as inserções se baseiam na maior audiência que a TV Globo detém na área da televisão.

Já opinei em outros artigos sobre a diferença fundamental entre a publicidade comercial  e as matérias jornalísticas. A publicidade comercial, incluindo lojas e indústrias, é axiomática. Cada qual diz que seu produto é o melhor e o mais barato e as prestações são mais suaves. Ninguém precisa comprovar nada. A comunicação jornalística é o contrário. Nenhum repórter, nenhum comentarista e nenhum articulista pode criar imagens que não sejam as que a realidade proporciona.

SITUAÇÕES IMAGINÁRIAS – A opinião, no caso dos articulistas e analistas, pode variar. Mas não ao ponto de inventarem situações imaginárias ou de fazerem propaganda indireta de produtos. Para acompanhar o jornalismo político, econômico e administrativo, existem os editores que examinam os termos, ao contrário das redes sociais da internet, onde cada um é editor de si mesmo. Dessa deliberação, nascem muitas fake news.

A matéria ainda assinala que os cinco maiores canais da TV aberta, Globo, SBT, Record, Band e  Rede TV, de janeiro a junho deste ano, receberam ao todo R$ 33 milhões, o que representa uma ampliação de um terço deste total nos horários da Globo.

Não há dúvida que o comportamento do Planalto modificou-se em relação à TV Globo, bastando comparar os números de 2021 e 2022. Mas o comportamento crítico das organizações Globo não se alterou em relação ao governo e ao presidente Jair Bolsonaro como os fatos comprovam.

PREFEITOS EM BRASÍLIA – Excelente reportagem de Fernanda Trisotto, O Globo de ontem, com base em levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), acentua que desde dezembro de 2021, decisões do Executivo, Legislativo e Judiciário podem levar a uma situação na qual os municípios perdem de receitas, principalmente ISS e Imposto de Renda,  R$ 250 bilhões. A expectativa é de que nesta terça-feira, ontem, portanto, estivessem em Brasília mil prefeitos para contatos parlamentares capazes de alterar as mudanças.

Do total estimado para as perdas, R$ 73,1 bilhões decorrem de leis aprovadas por iniciativas do governo e também consequência de decretos presidenciais. O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, afirmou que o corte de recursos atinge em cheio os serviços à população uma vez que reduz as receitas municipais, e com isso refletem negativamente  nas campanhas eleitorais.

CONFUSÃO NA CÂMARA –  Reportagem de Manoel Ventura, Fernanda Trisotto, Natália Portinari e Bruno Góis, O Globo de ontem, prevê controvérsias nas articulações desta semana na Câmara dos Deputados acerca do projeto do governo que aumenta o Auxilio-Brasil, de R$ 400 para R$ 600, e reduz a incidência do ICMS sobre os combustíveis.

O relator da matéria, deputado Danilo Forte, quer incluir também o vale-uber para atender motoristas que trabalham nesse sistema. Como já observei, é incrível a tramitação desta emenda constitucional por vários fatores, entre os quais o que estabelece a alteração da Carta Magna apenas para o período de julho a dezembro deste ano.

INCRIMINAÇÃO – A subprocuradora geral da República, Lindôra Araújo, deu sequência ao despacho da ministra Cármen Lúcia no sentido de que a Corte Suprema ouça o ex-presidente da Petrobras Roberto Castello Branco, uma vez que afirmou que entregou à Direção da estatal, quando comandada pelo general Silva e Luna, o celular administrativo que, segundo disse, incrimina o presidente Jair Bolsonaro por afirmações que ele fez.

O procurador-geral Augusto Aras se esquivou de despachar a matéria, e Roberto Castello Branco apontou o testemunho de Rubem Novaes, ex-presidente do Banco do Brasil, sobre a tentativa de interferência de Bolsonaro. A reportagem é de Mariana Muniz e o fato de Roberto Castello Branco ter devolvido  o celular a seu sucessor na estatal não significa, evidentemente, que ele não tenha gravado as afirmações presidenciais. Na Folha de S. Paulo, a reportagem é de José Marques.

BLOQUEIO DE CONTAS – Na Folha de S. Paulo de ontem, Lucas Bombana, revela que o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu bloquear R$ 450 milhões de criptomoedas, envolvendo principalmente a financeira Capituol Instituição de Pagamento  que opera no sistema de compra e venda com a corretora global Binance, cuja sede é na Lituânia e alega que cumpre as leis desse país.

Lucas Bombana assinala que a Binance teria se recusado a seguir as regras do Banco Central que determina que as empresas que operam no setor das criptomoedas identifiquem de forma individualizada todos os clientes que operam em suas plataformas de negociação de criptoativos. A determinação do BC abrange as bitcoins.

RISCOS –  É incrível como pessoas de altos recursos financeiros investem nesse mercado, pleno de riscos e cujos operadores, como demonstra ser o caso da Capituol e da Binance,  não seguem as regras do Banco Central. O BC, na minha opinião, vem atuando mal, uma vez que o seu presidente, Roberto Campos Neto, não tem suas determinações seguidas pelo mercado. Como consequência vemos os problemas com aplicações no mercado oscilante das criptomoedas causando prejuízos aos investidores.

Tenho a impressão de que o dinheiro é alucinógeno e que leva até pessoas experientes a investir no mercado imprevisível sem regras para valorização das aplicações e também, como os fatos comprovam, sem a segurança devida.

Pedro do Coutto é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ)

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


Tribuna recomenda!