Redação

Com base nas informações que foram apresentadas na entrevista: “Marcos Balter: O fato da ABM não ter nenhum compositor negro não é uma surpresa. Uma academia totalmente branca, completamente centrada em músicos de formação clássica, e com somente 9 mulheres dentre suas 40 cadeiras, não pode nunca nos representar”, da Série Especial “Compositora e Compositores do Brasil”, de autoria do diretor executivo Luiz Carlos Prestes Filho e publicado em nosso portal no dia 1º de julho de 2021, a Academia Brasileira de Música (ABM) vem a público esclarecer algumas das afirmações sobre a instituição.

Direito de resposta:

NOTA da ABM – CARTA RESPOSTA

A Academia Brasileira de Música vem a público esclarecer algumas das afirmações sobre a instituição veiculadas na entrevista publicada em 1o de julho de 2021 no site Tribuna da Imprensa Livre.

Na referida entrevista foi apresentada a seguinte pergunta: “Será que este racismo estrutural é a razão da ABM não ter compositoras e/ou compositores negros? Na resposta é afirmado, então, que a ABM é “uma academia totalmente branca, completamente centrada em músicos de formação clássica e com somente 9 mulheres dentre suas 40 cadeiras, não pode nunca nos representar”. Tal afirmativa foi colocada em destaque na chamada da matéria. Entrevistador e entrevistado parecem desconhecer a história da ABM. Bastaria uma atenta consulta ao site da instituição para constatar que seus integrantes, desde os que foram escolhidos como patronos aos acadêmicos fundadores e seus sucessores, representam a diversidade étnica e cultural do povo brasileiro. É um orgulho para a instituição ter em seus quadros, dentre outros, artistas do quilate de Domingos Caldas Barbosa, José Maurício Nunes Garcia, José Maria Xavier, Carlos Gomes, Henrique Alves de Mesquita, Joaquim Callado, Francisco Braga, Assis Republicano, Paulo Silva e Lidenbergue Cardoso. Dentre os que nos deixaram mais recentemente estão o musicólogo José Maria Neves, que presidiu a instituição, e o compositor Jamary Oliveira. Para além da questão racial, podemos citar ainda acadêmicos cujas ascendências se somam à lusitana, indígena e africana e também são representativas da extraordinária diversidade da formação étnica e cultural do povo brasileiro. Nomes como Mignone, Gnattali, Franceschini, Cernicchiaro, Chiafitelli, Massarani, Guarnieri, Bocchino, Santoro e Ficarelli revelam a contribuição da imigração italiana; Amat, Miguez, Villa-Lobos, Fernandez e Velasquez a espanhola; Levy, Taunay e Gallet a francesa; Sinzig, Lehmam, Brauwieser, Neschling, Krieger e Mahle a austro-germânica; Oswald e Widmer a suíça; Morelenbaum e Morozowicz a polonesa; Tacuchian, a armênia.

A história da ABM foi e continua a ser construída por homens e mulheres. Foram fundadoras Oneyda Alvarenga, Dinorah de Carvalho e Helza Cameu, seguidas por Guiomar Novaes, Magdalena Tagliaferro, Vera Janacopulos, Cristina Maristany, Madalena Lébeis, Paulina D’Ambrosio, Antonieta Rudge, Bidu Sayão, Yara Bernette, Belkiss Carneiro de Mendonça, Mercedes Reis Pequeno, Cleofe Person de Matos, Alice Ribeiro e outras grandes artistas, até chegarmos às atuais acadêmicas Maria Alice Volpe, Salomea Gandelman, Sonia Maria Vieira, Lais de Souza Brasil, Ilza Nogueira, Jocy de Oliveira, Flavia Toni, Kilza Setti e Eudóxia de Barros.

A “formação clássica” referida na entrevista é uma expressão por demais genérica. Se a expressão for entendida como sendo o estudo formal ao longo de anos de aperfeiçoamento técnico e artístico, está absolutamente correta. Se for entendida como prática musical, está equivocada. Os acadêmicos são profissionais de destaque em suas áreas, que englobam não só a composição, mas também a interpretação, a musicologia e a educação musical. A despeito da formação musical individual de seus membros, não há nenhuma restrição a práticas, técnicas e estéticas, uma diversidade musical que pode ser representada por nomes como os modinheiros Domingos Caldas Barbosa e Candido Inácio da Silva, chorões e pianeiros como Henrique Alves de Mesquita, Joaquim Callado e Ernesto Nazareth, por compositores e instrumentistas que praticaram os gêneros populares como Villa-Lobos, Francisco Mignone, Radamés Gnattali, Guerra-Peixe, Mário Tavares, Edino Krieger, Ary Ferreira e Turíbio Santos, como também por musicólogos que se dedicaram ao estudo das práticas populares, folclóricas e de tradição oral, como Mário de Andrade, Renato Almeida, Luiz Heitor Corrêa de Azevedo, Rossini Tavares de Lima, Vicente Salles, Oneida Alvarenga, Mozart Araújo, Flávio Silva, Kilza Setti e Manuel Veiga.

É importante também frisar que a ABM não é uma entidade para a defesa de “direitos trabalhistas de musicistas”. Para tal os músicos brasileiros contam com a Ordem dos Músicos do Brasil e o Sindicato dos Músicos.

Por fim é importante entender que o ingresso na ABM se dá através de candidaturas quando uma das cadeiras fica vaga. As inscrições são gratuitas e abertas a todos os músicos brasileiros ou naturalizados. O novo membro é escolhido democraticamente pelas virtudes de seu currículo e realizações, através do voto secreto. O novo acadêmico junta-se aos demais para cumprir a missão estatutária da ABM de tomar iniciativas e realizar ações para a preservação, promoção e divulgação da música brasileira e de seus compositores. Tão mais diversa será a ABM quanto mais diversas forem as candidaturas. Não é possível eleger quem não se candidata.

Rio de Janeiro, 3 de julho de 2021
Academia Brasileira de Música

PDF: CARTA RESPOSTA ABM – TRIBUNA DA IMPRENSA LIVRE

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