Por Miranda Sá –
“A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. (Karl Marx)
É um privilégio ser casado com uma mulher conhecedora dos mistérios da padaria. É o meu caso; em casa, no cafezinho da tarde temos sempre novidades, principalmente receitas francesas…. Apreciamos Brioche, Croissant e Madeleine…. O primeiro é famoso; o Brioche entrou na História Universal como uma das causas da Revolução Francesa….
Trata-se de um pão de origem muito antiga; e, segundo o receituário, é feito com massa leve, fermentada, com alto teor de manteiga e ovos; a sua apresentação é atraente pela crosta dourada escura e escamosa, com o brilho acentuado pela aplicação de claras após a correção.
Como o Brioche entrou para a História? Segundo muitos historiadores franceses, presos ao anedotário popular, o gostoso pãozinho envolveu a rainha Maria Antonieta, de notória ingenuidade. Diz-se que assustada com a multidão que se aglomerava nos portões de Versalhes, perguntou a razão do povo parisiense estar revoltado.
– “É por que não têm pão para comer… ”, informou um dos cortesãos; ao que a princesa austríaca retrucou: – “Se as pessoas têm fome e não tem pão, que comam brioche”.
Talvez essa historieta confirme o alheamento simbólico dos ocupantes do poder com relação às revoltas populares. Pode até ser falsa, criada por um marqueteiro revolucionário à época, mas se materializou.
Futuramente, no Brasil, quem sabe, entre para História a narrativa picaresca do capitão Bolsonaro, que abstraído na sua obsessão negacionista procure saber o motivo das críticas que recebe dos cientistas e médicos pela falta de vacinas e insumos contra a pandemia do novo coronavírus.
E o com a amoralidade que nem o Exército aguentou, o Capitão achegue-se ao “cercadinho” e exclame – “Se não tem vacinas, deem Cloroquina, Hidroxicloroquina e Invermectina…”
Esta continuada ausência de princípios morais ofende a opinião pública e causa revoltas. E tornou-se tão ruim que somente os autoproclamados “direitistas” – na verdade apenas fanáticos bolsonaristas – aplaudem.
O resultado dessa “melódia” – a proclamada farsa presidencial – repete-se agora comp farsa a volta da corrupção lulopetista à cena política, com suspeitas pesquisas mostrando a liderança do corrupto Lula, condenado em três instâncias judiciais e livre pelo duvidoso garantismo judicial.
Invertendo para a tragédia vê-se que o retorno do corrupto lulopetismo é fruto das rachadinhas e dos não explicados cheques de Fabrício Queiroz, que levaram Bolsonaro a sabotar a Lava Jato e favorecer medidas jurídicas para garantir a polarização eleitoral….
Temos também a volta das propinas, conhecidas como “comissionamentos”, nas transações do Ministério da Saúde bolsonarista como comprovou a CPI da Covid, apontando a frustrada transação da vacina Covaxin, abortada pela denúncia do deputado Luiz Miranda.
O paralelismo dos populistas de direita e esquerda convergiu para o “bolsopetismo”, a fusão de ambos para o irrefreável mergulho no pântano da polarização. Mesmo enlameados, mantém o controle de 40 % do eleitorado oportunista e cúmplice. Daí a imoral e criminosa disputa midiática.
Nestas artimanhas, lembremos o pensamento de Michel de Montaigne – “Quantas coisas, que ontem eram artigos de fé, são hoje meras fábulas”…. Em 2018, muitos acreditaram na honestidade de Bolsonaro, desconhecendo os cambalachos das ligações familiares com milicianos e a prática de “rachadinhas”; viu-se apenas a luta da Lava Jato combatendo a roubalheira lulopetista na Petrobras e as propinas auferidas por Lula & Família.
Quem decide praticar o mal, encontra sempre um pretexto. E como todos sabem – até mesmo os fanáticos cultuadores de personalidades -, não se deve ignorar a verdade factual; é impossível ser ignorada e, por isto, quem a conhece e diz que é mentira, é criminoso.
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
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