Por Siro Darlan –
“Quando a luz do sol e a claridade das estrelas se extinguem para nós, se extinguem para nós”.
Celebra-se o Dia Internacional do Jornalista, em homenagem a Julius Fučík, jornalista assassinado pelos nazistas em 8 de setembro de 1943.
O Jornal Tribuna da Imprensa Livre associa-se a todos e todas jornalistas do Brasil e do mundo, sobretudo nesses dias de violência fascista voltando a atacar a liberdade de expressão e a criminalização da profissão de jornalistas.
Fučík, um comunista, escrevia nos jornais do Partido Comunista da Tchecoslováquia, quando seu país estava ocupado pelos nazistas, era o chefe do Comitê Central do Partido Comunista da imprensa clandestina, fundamental para a resistência contra a ocupação e liberdade subsequente.
Fučík foi preso pelos nazistas, levado para Berlim, brutalmente torturado e executado. Morreu em nome da liberdade, o seu testemunho: “Relato ao pé da forca”, escrito na prisão e secretamente retirado e posteriormente publicado, é um hino à dignidade humana e uma homenagem à luta do verdadeiro jornalismo pela liberdade.
Neste dia e a exemplo de Fučík, num mundo com tantos desafios, com tantos perigos para a liberdade humana, também a dos jornalistas, um grande abraço a quem exerce esta nobre profissão, onde não há lugar para cínicos.
Seu testamento sob a forca, escrito folha por folha no cárcere, foi publicado em 1945, adquiriu grande fama mundial e traduzido para mais de 80 idiomas. Em 1950, como título póstumo, Fucik recebeu o Prêmio Internacional da Paz.
Em seguida alguns textos de seu Testamento sob a forca:
“Demorou muito para chegar, morte. Apesar de tudo, esperava te conhecer mais tarde, depois de muitos anos. Esperava ainda viver a vida de um homem livre: poder trabalhar muito, amar muito, cantar muito e percorrer o mundo. Precisamente agora, quando chegava à maturidade e dispunha de muitas forças. Já não as tenho. Estão se esgotando. Amava a vida e por sua beleza marchei ao campo de batalha. Homens: eu os amei. Fui feliz quando correspondiam ao meu carinho e sofri quando não me compreenderam. Que me perdoem aqueles a quem causei dano. Que me esqueçam aqueles a quem procurei alegria. Que a tristeza jamais se una ao meu nome. Este é meu testamento para vós, pai, mãe, irmãs minhas; para ti, minha Gustina, e para vós, camaradas; para todos aqueles a quem eu amei. Chorem por um momento, si creem que as lágrimas apagarão o turbilhão da pena, mas não se lamentem. Vivi pela alegria e pela alegria morro. Delito e injustiça seria colocar sobre minha tumba um anjo de tristeza”.
“As respostas coincidiam. Honza se recusou categoricamente a testemunhar. Sua antiga ferida poupou-lhe longas torturas. Em seguida, perdeu a consciência. Antes que os nazistas decidissem interrogá-lo novamente, foi minuciosamente informado e agiu de acordo. Não tiraram nada dele. O mantiveram preso por um longo tempo. Esperaram muito, pensando que algum novo testemunho o faria falar. Estavam errados. A prisão não o mudou. Ardente, feliz, corajoso, ofereceu aos outros as perspectivas da vida quando, diante dele, só havia a perspectiva da morte.
De repente, no final de abril de 1943, foi retirado de Pankrác. Não sei para onde. Aqui, um desaparecimento repentino é sempre sinistro. Posso estar errado, mas acho que não nos veremos novamente. Sempre contamos com a morte. Nós sabíamos: cair nas mãos da Gestapo significa o fim. E aqui fizemos o que fizemos de acordo com essa convicção. Também meu jogo está chegando ao fim. Não consigo descrevê-lo. Não o conheço. Não é mais um jogo.
É a vida. E na vida não há espectadores. O telão se levanta. Humanidade: eu vos amei. Estejam alerta!”
(Julius Fucik 9-VI-1943)
SIRO DARLAN – Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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