Por Karlos Holanda –

Prezado leitor, gostaria de pedir licença para antes de iniciar esse texto, prestar uma homenagem ao Doutor Rafael Holanda, que nos dava a honra de ser colunista da Tribuna da Saúde junto comigo.

Dr Rafael nos deixou semana passada, sendo mais um dos quase 600 mil brasileiros vítimas da Covid19. Para quem não sabe além de ser um renomado neurocirurgião, ele era poeta e nos brindava com belíssimos textos. Sua vontade de ajudar aos que necessitavam era uma de suas principais características, um homem de coração alegre, respeitado por todos e que deixou uma história paixão pela medicina e amor ao próximo que será lembrada por gerações. Como ele mesmo falava, a vida é apenas uma passagem, e com toda certeza a dele deixou um legado para todos nós. Descanse em paz meu querido primo.

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Essa semana conversando com uma amiga, que estava vivendo um luto intenso por ter perdido sua mãe aos 96 anos, uma senhora que já não tinha mais interação com o mundo real, desde que iniciou um quadro de Doença de Alzheimer, cuja a principal característica é apagar a memória recente, e com o tempo impedir que essa pessoa execute coisas simples do dia a dia ( em seu último texto em nossa coluna, Dr Rafael falou sobre essa doença), comecei a refletir sobre o que é a aceitação da morte. Em primeiro lugar a dor não é de quem parte, mas de quem fica, pois imagine essa senhora, sem nenhum tipo de percepção da vida, acamada e vivendo apenas porque seu coração insistia em bater. Prefiro acreditar que ela descansou e fez sua passagem de forma tranquila, principalmente em um país cuja expectativa de vida atual está em 76 anos, ainda sem considerar o impacto da Covid19, ter um familiar chegando aos 96 anos podemos considerar como um privilégio. Mesmo assim sua filha insistia em questionar se realmente a equipe médica teria feito todo o possível para salvar sua mãe, o que é totalmente compreensível quando estamos lidando com a perda de uma referência em nossas vidas.

Muitas pessoas acreditam que a medicina é capaz de evitar a morte, o que não é verdade, o máximo que podemos fazer é postergar o dia da partida, porém o papel mais importante dos profissionais de saúde é ensinar a prevenção, pois não existe melhor tratamento do que prevenir.

A morte chega para todos, mas como lidar diariamente com algo que um dia você também passará? Essa é uma pergunta que todos que trabalham com a saúde fazem. A dor de perder um paciente é sempre grande, pois por mais que saibamos que o final da vida é algo natural, lutamos para que ela não aconteça naquele momento, porém entendemos que em muitas situações não há muito o que fazer, além do suporte. Aqui destaco o papel do psicólogo junto com a família, que é quem mais precisa de ajuda nesse momento.

>>Leia o último texto do médico Rafael Holanda: Doença de Alzheimer 

Os irmão Rafael Holanda e Siro Darlan. (Fotos: Arquivo pessoal)

É importante frisar que não cabe ao médico ou a qualquer outro profissional a escolha do momento da morte, mesmo em casos terminais, cabe a ele sim dar suporte aquele paciente que está sofrendo, e para isso existem os cuidados paliativos, que são capazes de dar conforto aos gravemente enfermos, isso obviamente realizado juntamente com a equipe multidisciplinar, onde temos enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionistas, técnicos de enfermagem, entre outros.

Viver é realmente algo que deve ser valorizado, e por isso devemos cuidar de nossa saúde desde jovens, para que ao chegar a idades mais avançadas possamos desfrutar de nossa vida com maior qualidade. A aceitação da morte não é para ser discutida aqui, pois afinal cada pessoa tem sua forma de entender o que ela significa, mas a única certeza que todos temos é que um dia chegará a nossa vez, e que até lá, nos cabe cuidar desse nosso bem precioso que é a vida, da melhor maneira possível, e desfrutá-la ao lado das pessoas que amamos.

E LEMBREM-SE, A PREVENÇÃO É O MELHOR TRATAMENTO.

Dr. KARLOS GUDDE DE HOLANDA MOURA – Médico, titular desta “Tribuna da Saúde”, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Residência Médica em Anestesiologia pelo Hospital Beneficência Portuguesa da São Paulo; Pós-graduado em Laser, Cosmiatria e Procedimentos pela FATESA de Ribeirão Preto; Pós-graduando em Nutrologia pela USP de Ribeirão Preto; Professor da Pós-Graduação de Laser, Cosmiatria e Procedimentos na FATESA de Ribeirão Preto. @dr.karlosholanda


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