Por Sérgio Vieira –
Nasci em uma segunda-feira de carnaval (04.03.1957). Quando as baianas e índios dançavam, e os bumbos, atabaques, e tamborins sovam fazendo fundo musical ao meu parto.
Logo depois do meu nascimento fui morar para a R. Taturana até aos meus 11 anos, mudando depois para um bairro vizinho, Vila Kosmos, onde todas as ruas tinham nomes indígenas.
Morei na rua Imbiaçá, que fazia esquina com a rua Itacambira, que dava acesso às ruas, Assurema, Toropi, Carajás, Copaíba, Tembés, Anembés, Meriti, Angaí e muitas outras que agora não me ocorre. Sem contar que tive um colega cujo nome era Tibiriçá.
Casei na rua Aperibé no dia 14.06.1986 em Jacarepaguá.
União essa que foi realizada e promulgada por uma pessoa que me é muito querida, no terraço de sua própria casa, entre amigos e parentes mais próximos.
Não me consigo desligar dos índios brasileiros, sua história, suas vidas e suas lendas.
Suas lendas, então, me fascinam.
“A história linda da lua cheia, que se chove a água menstrua a terra fertilizando o solo e daí vêm os frutos”.
“A lenda da sereia Iara que encanta os que a ouvem cantar arrastando-os para o fundo dos rios”.
Compilei alguns nomes de tribos indígenas, muitas das quais em vias de extinção.
Ianomâmis, Charruas, Guaranis, Tupinambás, Caiapós, Guatós, Tupiniquins, Ticunas, Bororós, Xavantes, Ashaninca, Caingangues, Pirarrãs, Pataxós, Uianas, Awá, Qrenaques, Mundurucus, Iuanauás, Carajás, Caxinauás, Uitotos, Zoés, Guajajanas, Camaiurás, Potiguaras, Calapalos, Corubos, Tapuias, Iaualapitis, Sirianos, Oiampis, Suruís-aiqueuanas, Macuxis, Terenas, Pankararu, Xerentes, Makuna, Fulniôs, Cadiuéus, Cocamas, Chamacocos, Nambiquaras, Tucanos, Chiquitanos, Xoclengues, Matsés, Muras, Cuicuros, Miranhas.
Que destino! Os donos das terras suplicando por uma assistência, por uma vida digna, sem invasões nem mortes.
O processo que tem sido descrito como o genocídio dos povos indígenas no Brasil teve início com a colonização portuguesa das Américas, quando da implementação do cultivo da cana-de-açúcar na costa brasileira. Esse processo ocasionou a redução das populações indígenas no Brasil, por causa do tratamento violento e de doenças por colonos europeus. Estima-se que dos 2,5 milhões de povos indígenas que viviam na região que hoje compreende o Brasil na época da chegada de Cabral, menos de 10% sobreviveram até os anos 1600. A principal razão para o despovoamento foram doenças como a varíola, que avançaram muito trazidas involuntariamente pelos europeus. O genocídio persiste na era moderna com a contínua destruição de povos indígenas da região amazônica.
Mais de 80 tribos indígenas foram destruídas entre 1900 e 1957, e a população indígena em geral diminuiu mais de oitenta por cento, de mais de 1,2 milhão. A Constituição Brasileira de 1988 reconhece o direito dos povos indígenas a seguir seus modos de vida tradicionais e a posse permanente e exclusiva de suas “terras tradicionais”, que são demarcadas como Territórios Indígenas. Na prática, no entanto, os povos indígenas do Brasil ainda enfrentam uma série de ameaças externas e desafios à sua existência continuada e herança cultural. O processo de demarcação é lento – muitas vezes envolvendo batalhas jurídicas prolongadas – e a FUNAI não possui recursos suficientes para garantir a proteção legal em terras indígenas.
Desde os anos 1980, houve um boom na exploração da floresta amazônica para mineração, extração de madeira e pecuária, o que representa uma grave ameaça para a população indígena da região. Os colonos ilegalmente invadindo terras indígenas continuam a destruir o meio ambiente necessário para os modos tradicionais de vida dos povos indígenas, provocam confrontos violentos e disseminam doenças. Povos como os acuntsus e kanoês foram levados à beira da extinção nas últimas três décadas.
Em 13 de novembro de 2012, a Associação Nacional de Povos Indígenas do Brasil (APIB) submeteu às Nações Unidas um documento de direitos humanos com reclamações sobre novas propostas de leis no Brasil que minariam ainda mais seus direitos se fossem aprovadas. Várias organizações não-governamentais (ONGs) foram formadas devido à contínua perseguição dos povos indígenas no Brasil, e a pressão internacional foi exercida sobre o Estado após a divulgação do Relatório Figueiredo, que documentou violações maciças dos direitos humanos. Os abusos foram descritos como genocídio, etnocídio e genocídio cultural.
Dedico esta coluna à minha filha Iara.
“Eu sou a sereia que dança, destemida Iara, água e folha da Amazônia”. (Caetano Veloso)
SÉRGIO VIEIRA – Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, representante e correspondente internacional em Aveiro, Portugal. Jornalista, bancário aposentado, radicado em Portugal desde 1986.
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