Por Siro Darlan –
Enquanto os pretos nos EUA são uma minoria com cerca de 35% da população e se destacam exponencialmente naquela sociedade notadamente racista. E até já elegeu um presidente negro. No Brasil, recentemente, um “Manifesto dos presidenciáveis pró-democracia” elencou os nomes dos candidatos: Ciro Gomes (PDT, candidato derrotado em 2018), Eduardo Leite (PSDB, governador do Rio Grande do Sul), João Amoedo (Novo, ex-presidente da sigla e banqueiro), João Doria (PSDB, governador de São Paulo) e Luiz Henrique Mandetta (DEM, ex-ministro da Saúde), além do apresentador de televisão Luciano Huck (sem partido). Com esse retrato do panteão de homens brancos que, ao fim da Carta, destaca a manjada rota e rasa expressão que diz; “Homens e mulheres desse país que apreciam a LIBERDADE (sic), sejam civis ou militares, independentemente de filiação partidária, cor, religião, gênero e origem, devem estar unidos pela defesa da CONSCIÊNCIA DEMOCRÁTICA (sic). Vamos defender o Brasil”.
É impressionante, como vem eleição, impeachment, República Velha, República Nova, ditaduras e essa “consciência” genérica da pluralidade brasileira, esses salvadores da Pátria pretendem corrigir o desvio da nossa Democracia, que, no pleito de 2018, deu uma vitória presidencial ao insignificante proto-fascista Jair Bolsonaro.
Isto mesmo, eles, Mandetta, Huck, Doria, Amoedo e Leite, exceto Ciro Gomes, que foi para Paris, votaram neste que abrevia a cada dia nossa democracia com os rompantes autoritários sistemáticos de nosso dia a dia. Já Lula, começou seu périplo político em Brasília e sequer sabe se há uma pauta com o maior grupo da sociedade, uma comunidade negra.
Aos negros, esses amantes da democracia tem destinado a periferia, os morros, e as modernas senzalas, que é o sistema penitenciário.
Aos negros são negados acesso aos cargos políticos, legislativos e judiciários, apenas 18% dos juízes brasileiros são negros ou mulatos. Os negros no Brasil, a segunda maior nação em números de negros no planeta, representam 56,10% da população e movimento, em renda própria, R$ 1,7 trilhão por ano. Se os consumidores negros formassem um país, seria o 11º país do mundo em população, com 115 milhões de pessoas, e 17º país em consumo. Apesar disso, os negros são sub-representados na comunicação – mais de 90% das campanhas publicitárias têm protagonistas brancos, também sub-representados na política, nos ambientes empresariais entre outros espaços.
A pergunta é: o Brasil é um estado democrático? Claro que não.
A cidadania brasileira é apenas o dever do voto e não da participação. A participação que destaco, é a representatividade de nossa pluralidade social. Portanto, entendo que uma sociedade civil organizada precisa estabelecer uma agenda ordinária com os partidos e Congresso, para fazer valer o “Direito à Representatividade”, pois o fim da Carta assinada por estes nomes contempla, de forma genérica, as nossas variáveis sociais e culturais.
E o defensor do Brasil, há de se corrigir as desigualdades profundas acumuladas da sociedade brasileira, e isso esses senhores não veem, porque somos invisibilizados nas esferas de Poder. Portanto, o momento é agora. Eles, e o atual governo, agem da mesma forma, numa política genérica para os problemas complexos do Brasil.
Porém, no último pleito municipal, houve um aumento de ocupantes negros nas cadeiras dos Legislativos.
Vale ressaltar que, no Rio, alguns eleitos são ligados com milícias, mas um número significativo de eleitos é do campo progressista, foi um reflexo para o crescimento de candidaturas dessa população, em resposta às respostas do Jair Bolsonaro contra os negros do Brasil. Algo claro na sociedade. E ao fim, chegamos a 470 mil mortos pela Covid-19, com marca diária de 2 mil mortes em 24 horas, tudo potencializado pelo descaso desse governo fascista, com sua política de morte, a necropolítica como conhecida. Uma política de governo, inúmeros personagens dessa administração com o integralismo e eugenia. O Projeto está em curso e está dando certo. Quando vamos reagir?
Se democracia é a voz da maioria, está na hora de nos escutar.
SIRO DARLAN – Juiz de Segundo Grau do Tribuna de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Diretor e Editor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Membro da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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