Por Miranda Sá –
“Eu vou no passo do compasso desta vida/ A hora que se passa nunca mais é revivida” (Jorge de Altino)
Entre as coisas boas que idade avançada traz é a acumulação de conhecimentos que nenhum aprendizado familiar, escolar ou mesmo a impregnação da cultura popular é capaz de cobrir. É a chamada “Vivência”, um substantivo feminino que significa a manifestação da vida inteligente do ser humano.
A etimologia da palavra é latina, viventĭa, um acusativo neutro plural de vivens,ēntis, particípio presente do verbo vivĕre: ‘viver, estar em vida’.
Na rica sinonímia de “Vivência” temos “experiência” na linguagem coloquial referida também nos métodos científicos de pesquisa; e, na Filosofia, considera-se todos conhecimentos obtidos por meio dos sentidos.
O poeta e pensador agora pouco divulgado, Fernando Pessoa, exprimiu que “pensar é viver, e sentir não é mais que o alimento de pensar”. Eis a definição do processo de agregar e armazenar na memória o que os sentidos percebem, distinguem e consideram valioso.
Alcançando cerca de 90 anos sempre atento à habitual rotina de observar a natureza, o comportamento das pessoas e as informações trazidas pelos meios de comunicação, penso, procedo e me expresso conforme regras estabelecidas pelo método dialético de avaliar o que vejo e escuto.
Por isto escrevi outro dia, numa referência aos magníficos contos da “Mil e Uma Noites”, ( هزار و یک شب; em persa), citando que foi a esperta Sherazade a criadora das novelas televisivas e séries cinematográficas; e mais, foi imitada pelo famoso cineasta Alfred Hitchcock com a criação do “suspense”.
A História das Mil e Uma Noites, traduzida em todas as línguas vivas e mortas, começa com o enredo sobre Shahriar, rei da Pérsia da dinastia dos Sassânidas, que traído pela esposa, após matá-la, passou a considerar que nenhuma mulher do mundo é digna de confiança.
Adquiriu assim o hábito de matar todas as cônjuges no dia seguinte à primeira noite do casório; e o fez com várias mulheres que desposou. Quando voltasse da guerra que movia contra um país vizinho, a próxima seria Sherazade.
Inteligente e estudiosa, a futura rainha por 24 horas combinou com a irmã Dinazade um plano para escapar da morte. Pediu ao esposo que deixasse a sua irmã dormir num quarto ao lado deles; Dinazade teve a tarefa de acordá-la antes do amanhecer e pedir-lhe para contar a última história que vinha narrando para ela.
Curioso, o rei Shahriar resolveu ouvir também a narrativa que a esposa desenvolveu; um capítulo cheio de excitações e incertezas de um romance entre jovens apaixonados perseguidos por inimigos. Sherazade, porém, deixou a trama interminável. Assim, para conhecer o final da história, o Rei poupou-lhe a vida. Vieram a seguir novas aventuras, como o “Ladrão de Bagdad”, “Ali Babá e os 40 Ladrões”, a “Lamparina Mágica”, o “O Gênio da Garrafa”, enfim, mil e um contos que pagaram a sobrevivência de Sherazade e um reinado longo e feliz.
O número “Mil” inspirou uma sábia advertência de Confúcio, exprimindo que “Mil dias não bastam para aprender o bem; mas para aprender o mal, uma hora é demais”. É uma verdade incontestável, ocorrendo diariamente no noticiário político mundial e, especialmente, na revoltante corrupção institucionalizada no Brasil na Era Lula que volta mais forte do que nunca no governo do capitão Bolsonaro.
Ambos corruptos infelizmente polarizam as atenções eleitorais da população ignorante e supersticiosa, sem saber que está crucificada metaforicamente como Cristo, entre dois ladrões. Bolsonaro e Lula exploram o fraudulento discurso ideológico de representantes “da direita” e “da esquerda”, quando na realidade não passam de populistas ambiciosos e desonestos.
Craque da MPB, Renato Russo filosofou que “O céu já foi azul, mas agora é cinza/ E o que era verde aqui já não existe mais…” Na minha vivência, creio mais do que nunca na volta das cores que alegravam o País, aparecendo alguém que, numa 3ª Via eleitoral, derrote o esquema criminoso da polarização!
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
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