Redação –
O gesto de “OK” feito por Filipe Martins durante uma sabatina do Senado tem muitos significados para diferentes grupos. Para o movimentos de extrema-direita, com quem o governo dialoga, é um símbolo de identificação. O gesto, feito pelo assessor de assuntos internacionais do presidente Jair Bolsonaro e captado pela transmissão da TV Senado, já foi adotado por grupos supremacistas brancos ao redor do globo.
A cena, ocorrida durante uma sabatina de senadores com o ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, gerou imediata repercussão negativa nas redes sociais. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), pediu que a Polícia Legislativa apure o caso. Randolfe Rodrigues (Rede-AP) foi além e pediu a expulsão de Martins da Casa.
Já Filipe Martins disse que irá processar quem o chamou de supremacista branco.
Um aviso aos palhaços que desejam emplacar a tese de que eu, um judeu, sou simpático ao "supremacismo branco" porque em suas mentes doentias enxergaram um gesto autoritário numa imagem que me mostra ajeitando a lapela do meu terno: serão processados e responsabilizados; um a um.
— Filipe G. Martins (@filgmartin) March 24, 2021
Relação com o racismo
O uso do gesto é um exemplo do chamado “dog whistle”– quando algum símbolo é exposto em público em uma linguagem dúbia, podendo significar nada para o público em geral, mas sendo uma mensagem inequívoca para um grupo específico. Tem esse nome porque os apitos, usados para chamar a atenção de cachorros, praticamente não são ouvidos por humanos.
O gestual clássico – as pontas do dedão e do indicador juntos, com os dedos restantes em riste – tem diversos sentidos: para os mergulhadores, o símbolo representa que as condições estão normais. Ou pode representar um palavrão em terra firme. Mas a ascensão de grupos racistas de extrema-direita em todo o mundo passou a trazer um terceiro significado: o formato remeteria às letras “WP”, de white power – orgulho branco, em português.
Tanto que o termo passou a integrar o dicionário de símbolos extremistas da Liga Anti-Difamação (ADL, na sigla em inglês). No verbete para o gesto [em inglês], a origem é atribuida ao ano de 2017, em fóruns virtuais como o 4Chan, conhecido reduto de extremistas.
Em 2019, um australiano matou 51 pessoas em centros islâmicos na Nova Zelândia, em um ataque terrorista motivado por ódio à religião. O assassino apareceu perante ao tribunal do caso e, no momento das fotos, fez um discreto gesto de “ok”.
Este mesmo assassino, antes de cometer o crime, publicou um manifesto onde defendia o extermínio de muçulmanos e remetia às cruzadas. Um trecho de um poema, por ele utilizado no manifesto, é também visto no perfil de Filipe Martins.A Liga Anti-Difamação alerta que o símbolo é ainda utilizado, na maioria das vezes, em contextos que não são relacionados a crimes de ódio. “Como resultado, quem usa o símbolo não pode ser definida como alguém que usa o símbolo para perturbar ou, especialmente, no contexto de supremacia branca”, indica o grupo.
Ao menos uma pessoa, no Brasil, conhece tal símbolo: o presidente Jair Bolsonaro. em 20 de fevereiro de 2020, o presidente foi interpelado, na porta do Palácio da Alvorada, por um apoiador que insistiu em tirar uma foto fazendo o mesmo gesto de Filipe Martins. O ato foi, no entanto, reprimido por Bolsonaro.
ABSURDO! INACEITÁVEL! Nesse vídeo de ontem, um apoiador de Bolsonaro pede uma foto com ele, e faz claramente um sinal de supremacismo branco na foto. E Bolsonaro se incomoda. Pelo sinal supremacista? Não.
"Pega mal pra mim SE ISSO APARECER".
— Bia Ferreira (@iglesbiteriana) March 25, 2021
“Esse gesto aí, se fosse um gesto bacana”, disse Bolsonaro, “mas desculpa, pega mal para mim.”
Fonte: Congresso em Foco
MAZOLA
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