Por Lincoln Penna –
A conjuntura política brasileira se encontra embaraçada. Em outros momentos todas as análises partiam de realidades bem definidas a partir das quais era possível fazer as projeções prospectivas. A atual conjuntura dificulta traçar horizontes futuros.
Vivemos dias de angústia, perplexidades e desalento, combinação irresistível para não se enxergar cenários que nos apresente alguma esperança de que dias melhores possam vir a acontecer. Afinal, a mescla de uma pandemia interminável com a inoperância resoluta de um governo que torce para que tudo permaneça sem solução. É a lógica de quem está seguro que essa democracia em vigor não interessa aos seus planos de desmonte do Estado nacional tal como dispõe a Constituição.
A mais recente decisão do juiz do STF, Edson Fachin, anulando as sentenças condenatórias do ex-presidente Lula, acrescentou mais um elo à cadeia embaraçosa de uma situação política nervosa porque imprevisível. Com essa decisão, Fachin deu início ao processo eleitoral um ano e meio aproximadamente das eleições de 2022. Garante a elegibilidade de Lula, cria obstáculos a candidaturas de centro e torna viva a polarização que esteve presente nas últimas eleições.
As peças estão jogadas no xadrez político, cabe aos jogadores mexe-las com a visão do panorama atual a antever os seus desdobramentos. Mexidas erradas podem encurtar os desfechos, daí a aparente cautela dos dois mais destacados players. Bolsonaro e Lula resolveram optar pelo silêncio nas primeiras horas decorridas da decisão monocrática de Fachin, personagem central desse mais recente episódio da cena política brasileira. Não se trata de um silêncio a perdurar por muito tempo. Quando você estiver lendo estas linhas por certo os dois já terão dito alguma coisa, a repercutir para o mundo político e para eles em especial.
Nada garante que a polarização veio para ficar, até porque a decisão de Fachin deve ir para o plenário do STF, embora seja improvável que ela venha a ser revogada pela maioria de seus membros.
Além disso, os dois contendores dessa eventual polarização renovada acumularam alto nível de rejeição junto ao eleitorado, não obstante contarem com um expressivo e significativo número de eleitores dispostos a renovarem seus votos nesses candidatos titulares absolutos da polarização política e ideológica construída nesses últimos anos. Tanto Bolsonaro com seguidos desgastes, principalmente no contingente eleitoral que não votou nele e sim contra o PT, quanto Lula, que embora absoluto em seu partido já não conta necessariamente com as adesões de velhos aliados, podem ambos ser objetos de rejeição e venham a não figurar num possível segundo turno.
Essa possibilidade pode parecer no momento inimaginável dada à forte liderança desses dois contendores, mas em política tudo é possível. E na quadra atual em que nos encontramos em face de uma verdadeira cruzada contra a pandemia avassaladora que tem mobilizado consciências e esforços ainda que isolados Brasil afora, todas as certezas se desmancham no ar. Há, no entanto, algo que parece cada vez mais presente. Refiro-me a formação de uma vontade coletiva de superação de nossos males, a começar pelo vírus e suas variantes. Mas que não descartam os políticos que têm demonstrado a insensibilidade diante da tragédia nacional na qual estão todos os brasileiros de norte à sul e de leste à oeste.
Assim, o bom senso, a capacidade de unir essa vontade de superação com o recurso da ciência e a disposição em entender que as emoções não podem conduzir todo o tempo nossas existências, que é preciso enxergar os falsos profetas e suas soluções mágicas, para que aí sim enfrentemos e superemos todos os obstáculos. A percepção do fim do mal-estar e do sofrimento pode chegar. Pois, não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe como sentencia o provérbio.
Basta lembrar um suposto diálogo de um soldado com o oficial soviético por ocasião do cerco e da tomada de Berlim diante da Porta de Brandemburgo. O sargento pergunta ao oficial: e agora comandante? E o oficial responde: RESTA O FIM, sargento. Cabe a nós decifrar a resposta do oficial.
Afinal, que fim resta na busca de nossa satisfação? Pois da mesma forma que a vitória militar não era o fim definitivo na ocupação da Alemanha, porque era preciso remover o entulho do nazifascismo, também não nos iludamos, porque a vitória eleitoral possível não é o fim de tudo.
É preciso passar a limpo o estrago que tem sido feito pelas correntes antidemocráticas promovidas por golpes sucessivos. Só assim alcançaremos o fim desejado pela consciência nacional, popular e democrática.
LINCOLN DE ABREU PENNA – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP); Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon); Colunista e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
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