Por Siro Darlan –
Parece que foi ontem, mas já está com mais de ano e meio, que encontrei o amigo querido Antonio Carlos Esteves que me apresentou ao embaixador Jerônimo Moscardo num almoço da ADESG. São momentos quase que programados pela Providência Divina que nos proporciona encontros como esse. Jerônimo é um ser doador, presente na vida de todos os que o conhecem, daqueles absolutamente descomprometidos com as recompensas, faz o bem sem olhar a quem.
E foi nesse encontro que tomei conhecimento de seus sonhos quixotescos e me ofereci para ser seu Sancho Pança. Primeiro foi criado uma biblioteca livre e gratuita na praia do Leme. Mas como todo sonhador, os pesadelos atravessam nossos caminhos e um “Fiscal”, sempre os burocratas, havia multado o barraqueiro por achar que era impossível a distribuição de livros gratuitamente. Na terra dos jeitinhos esse podia ser mais um para ganhar propinas ou vantagens. A confiança do fio do bigode foi substituída pelo culto aos traíras que delatam amigos e inimigos, desde que receba alguma vantagem.
Foi instituído o Troféu Joaquim Silvério dos Reis e seu inventor virou ministro da justiça. Mas Jerônimo não se abate diante dos Moinhos de Ventos e uma conversa com o Edil e uma ajuda das mídias sociais, resolveu o problema e a nosso Quixote continuou distribuindo livros na praia para quem quisesse ler e se libertar da ignorância. O personagem de Cervantes é inquieto e queria dar mais de si. Encontrou numa conferência filosófica com nosso querido Professor Carlos Frederico, que com a simplicidade de um poeta falava dos deuses da filosofia grega para militares no Clube da Aeronáutica e lhe fez um desafio.
Desafio aceito, e nosso reitor voltou à Grécia na praia do Leme, e quinzenalmente somos premiados com cultura rica e gratuita, nasceu a Filosofia na praia. Trata-se de sentar na areia da praia do Leme as 11 horas com sol, quase sempre, mas também com tempo nublado e ouvir o que nos dizem Dante, Montaigne, Nietzsche, Dom Pedro I, Frankenstein, Visconde de Mauá, Hannah Arendt, Jacques Derrida, Dostoievski, J.G. Merquior, Clarisse Linspector, Martin Heidegger, Merleau-Ponti, foram alguns dos que frequentaram a Praia do Leme.
Nesse espaço precioso do paraíso, superamos nossa frustração de não poder voar. Olhando as fragatas no céu e ouvindo os mestres dissertarem suas teses filosóficas, aprendemos um milhão de coisas, inclusive a voar alto no conhecimento e na compreensão da importância de nossa humanidade que nos prende uns aos outros, e nos prendemos nesse tempo e espaço aos que nos cercam para sermos melhores com os que são diferentes na forma, mas iguais na essência. Aprendemos que mesmo sem asas podemos voar tão alto quanto nossos filósofos.
Esse extraordinário programa atrai mais de 150 pessoas e já conta com quase mil frequentadores de todas as idades e camadas sociais. Todos são acolhidos carinhosamente pela dona do quiosque Espaço A, nossa querida Maria Alice e, agora também pela Orla Rio. Mas para quem pensa que já acabou, o Jerônimo surge com novos desafios e cria a Universidade Livre do Leme, com diploma e tudo. Jerônimo insiste que nos conheçamos melhor, que interajamos uns com os outros, insiste em afirmar que não devemos desistir das pessoas que estamos nos tornando ao pensar juntos, cantar juntos, pensar juntos e buscar alternativas de melhor servir ao próximo em doações sem recompensas.
Cada encontro é um mundo novo que se renova, novas amizades, novos desafios e uma inundação de conhecimentos enriquecedores. Esse conhecimento não podia ficar sem um registro e esse registro se transforma em resenhas do grande José Carlos Mattos. Breve será lançado esse livro para que mais pessoas possam se alimentar desse milagre compartilhado pelos amigos que seduz, encanta e ilumina nossas manhãs de sábado e faz com que sentados nos bancos do quiosque da voltemos a ser curiosos com as crianças e nossos olhos brilham de contentamento quando nos encontramos para saborear esse mistério da doação descomprometida com o um presente da vida na areia de Copacabana, que sendo nossa Princesinha do Mar, nos faz sentir no paraíso que é a praia do Leme.
*Siro Darlan, Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, membro da Associação Juízes para a Democracia.
MAZOLA
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