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“Todo mundo chorou quando Serjão morreu”
Sérgio Ricardo, nome artístico de João Lutfi, foi músico, compositor e cantor, tendo trabalhado também como ator e diretor de cinema. Participou de diversos movimentos culturais como Bossa Nova, Cinema Novo, Canção de Protesto e Festivais de Música Brasileira (Divulgação)
Colunistas, Cultura, Geral

“Todo mundo chorou quando Serjão morreu”

Por Ricardo Cravo Albin

O sentido título desde mini réquiem remete a dois motivos. O primeiro sequer carece explicação porque o Serjão aí não é senão explicita homenagem. A mais bela obra dele, Zelão, um grito social em plena platitude de céu, montanha e mar do começo da Bossa Nova. O Serjão era como eu o chamava por mais de cinco décadas. Pela admiração pelo seu antológico Zelão, o sambista morto no carnaval.

Meu Serjão não morre no Carnaval. E não será todo morro que chora por ele. Somos todos nós. Testemunhas da extraordinária diversidade de sua obra. Quando presidi a Embrafilme premiei Sérgio com duas Corujas de Ouro. E enviei seu belíssimo (e injustiçado) longa, um raro musical no cinema brasileiro, Juliana do Amor Perdido, para muitos festivais internacionais. Acode-me agorinha mesmo da alegria do Sérgio quando lhe disse que um famoso crítico francês declarou que o Brasil deveria trilhar a Linha dos musicais de Juliana, por sua música esplendorosa. E concluía: mais musicais e menos sertão. Propus ha esquecer o cangaço então em plena voga.

No palco, antes de quebrar o violão (em 1967), em show recente, com dois dos filhos. E Othon Bastos em ‘Deus e o Diabo na Terra do Sol’, com trilha sonora de Sérgio Ricardo (Reprodução/Montagem)

Choro meu Serjão por toda sua importante filmografia e sua inestimável obra musical. Choro meu Serjão por sua pintura e sua resistência. Choro meu Serjão por sua fidelidade às ideias generosas ao lado dos reclamos e injustiças tanto ao país quanto, à miséria de seu povo. Por fim, choro meu Serjão por seu poema sinfônico João e Maria, obra prima até hoje menos conhecida que tive a honra de viabilizar no Teatro Municipal com cada um de seus cinco movimentos cantados por cinco dos maiores cantores deste injusto país, liderados por Chico Buarque. Choro sim e muito pela luz que agora se apaga, um dos maiores artistas do Brasil. Que ficou a dever a ele mais reconhecimento e mais consagração.


RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin,  Colunista e Membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre.

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