Redação –
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), filiado à CUT, é uma das entidades de classe mais antigas no país e sua história se confunde com as lutas em defesa da democracia nacional. Em todos os principais momentos de enfrentamento no Brasil, sempre expôs seu posicionamento e jamais esmoreceu.
E tal atitude não poderia ser diferente, afinal, a entidade teve entre seus associados nomes importantes como Ignácio de Loyola Brandão, Patrícia Rehder Galvão, a Pagu, Tarsila do Amaral, Perseu Abramo e Henfil.
Soma-se a esta lista o jornalista Vladmir Herzog, que foi cruelmente assassinado por lutar contra a ditadura (1964-85), teve sua morte forjada e até hoje ninguém foi penalizado. E, como se não bastasse, os saudosistas desse período chegaram até o poder. Inclusive o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), e sua equipe atentam em diversos momentos contra os jornalistas e os veículos de imprensa, incentivando seus apoiadores a fazerem o mesmo.
São constantes os ataques a jornalistas, mesmo sendo “atividade essencial” para este momento. Em externas nas ruas para cobrir a pandemia do novo coronavírus, repórteres são hostilizados e agredidos – possíveis reflexos do que faz o próprio Bolsonaro e sua equipe, conhecida como o “gabinete do ódio”, responsável por difundir informações falsas e sugerir ataques a profissionais nas redes.
Relatório da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), divulgado no início do ano, mostra aumento nos ataques a estes profissionais em relação à 2018. O documento aponta que dos 208 ataques feitos a jornalistas e a veículos de comunicação em 2019, Bolsonaro foi responsável por 121 deles, o que representa 58%.
Ainda assim, segundo o presidente do SJSP, Paulo Zocchi, afirma que o sindicato se encontra mais forte e houve aumento de 10% no número de sindicalização. De acordo com o dirigente, isso significa que a categoria tem percebido que a luta em unidade traz melhores resultados e que a entidade continua sendo a principal parceira quando o assunto é resguardar direitos.
Em entrevista à CUT São Paulo para falar sobre os 83 anos da entidade, completados nesta quarta, 15 de abril, Zocchi conta como tem sido o desafio dos jornalistas durante a cobertura da pandemia, sobre como a categoria luta contra a “concorrência” das fake news e atuação do sindicato em meio às mudanças no mundo do trabalho, que atingem também as redações de imprensa.
Como o sindicato vê o papel social do jornalista neste momento de Covid-19?
Paulo Zocchi: A atividade jornalística está entre as atividades essenciais que devem ser mantidas a despeito do isolamento social. É fundamental no combate à Covid-19 que a população seja informada da maneira correta, ética, com informações fidedignas e bem apuradas. E não é à toa que está havendo uma revalorização da atividade jornalística nesse momento porque a população está precisando de informações nas quais ela pode confiar e ir atrás.
Como tem sido a atuação do sindicato para preservar a vida dos trabalhadores frente à pandemia?
Por ser, então, atividade essencial, os jornais, revistas, rádio, TV e internet precisam continuar funcionando, ou seja, os jornalistas precisam continuar trabalhando para informar a população e ajudar as pessoas a se conscientizarem sobre a Covid-19.
Temos atuado junto às empresas para obrigá-las a adotar todos os procedimentos para garantir a saúde e a integridade física dos jornalistas. Há um mês, no dia 16 de março, enviamos para os sindicatos patronais e para as empresas de comunicação um ofício listando 12 pontos que tinham que ser adotados imediatamente para proteger a vida dos jornalistas como, por exemplo, a mudança para o trabalho em home office o maior número possível de jornalistas.
E exigimos que fossem adotadas medidas concretas para não expor os jornalistas que precisam sair às ruas, que não coloquem os profissionais e as equipes jornalísticas em aglomerações ou em entrevistas que não sejam extremamente necessárias, que adotem medidas de garantia de saúde como o uso de microfone só para o entrevistado, com higienização posterior. Também cobramos que os jornalistas sejam transportados em veículos individuais, da casa ao trabalho, evitando o uso de transporte público.
Após a pressão, várias adotaram rapidamente, mas com algumas, como a TV Record, ainda estamos em um embate ferrenho. Ela negligenciou a adotação de medidas de proteção à saúde. E não por acaso, é o local onde existe mais de 10 jornalistas com Covid-19.
E quanto à garantia de direitos para assegurar empregos e renda?
O sindicato mandou também um ofício para as empresas dizendo que ele se opõe à aplicação de qualquer uma das MPs (Medidas Provisórias) 927 e 936. Lutaremos contra elas e não aceitamos a história do acordo individual porque isso é uma falsidade, uma falácia. É claro que o patrão tem poder diretivo, tem poder de mando sobre o empregado. Não há nenhum acordo, nenhuma negociação, mas sim uma imposição. Então o sindicato exige negociação coletiva de todas as questões trabalhistas e, evidentemente, se opõe à perda de direitos e à redução de salários.
Os sindicatos vivem um momento de ressignificar as formas de atuação, acompanhando as novas formas de trabalho. As redações de hoje são mais enxutas, porém, há muito mais pluralidade de veículos. Como avalia que será a entidade de classe dos jornalistas nos próximos anos?
Um sindicato, por definição, como uma entidade que agrupa trabalhadores, possui múltiplas facetas, desenvolvendo muitas atividades. O sindicato que é enraizado e aberto aos trabalhadores pode expressar múltiplos interesses a eles, mas a função básica, precípua e essencial, é a defesa das condições de trabalho da sua categoria. Por mais que muitas coisas mudem, acredito num sindicato que defende as condições de trabalho, os direitos trabalhistas, o vínculo empregatício, que combate o ‘pejotismo’, que defende o salário, a irredutibilidade do salário, com os métodos que são os de agrupar, debater, mobilizar e informar a categoria. Evidentemente que é um trabalho difícil, mas posso dizer que, apesar dos sindicatos no Brasil estarem num momento de ataque ferrenho, nosso sindicato aumentou em cerca de 10% o seu número de sindicalizados no ano de 2019.
Pesquisas mostram que o jornalismo profissional tem ganhado força nessa pandemia, com as fake news sendo mais questionadas pela população. Como vê esse momento?
O que temos visto nas últimas semanas é uma revalorização do jornalismo. Para uma parcela da população, é como se fosse uma redescoberta do jornalismo, porque depois de um período de muita disseminação das fake news, as pessoas começaram a ver que a própria vida delas estão em jogo e pra que elas possam entender o que está acontecendo e se proteger de maneira adequada, é fundamental a informação precisa, bem apurada, com fonte confiável e essa informação quem vai buscar são os jornalistas. A gente vive um momento de extrema importância para a atividade jornalística no país e no mundo.
Como tem sido a atuação do sindicato e da federação neste atual cenário político brasileiro em que o presidente da República, Jair Bolsonaro, trata a categoria como inimiga?
Na verdade, temos um presidente que é inimigo da democracia. Uma pessoa extremamente autoritária, saudoso da ditadura e candidato a ditador se tivesse meio de se fazer isso. Inimigo ferrenho da classe trabalhadora, pois tem uma mentalidade e um governo marcados por atacar direitos e garantias dos trabalhadores. É o governo mais antipatriota que me lembro de ter visto, pois é um menino de recado do governo dos Estados Unidos, que entrega as nossas riquezas e soberania nas mãos do governo americano, e isso é uma coisa inacreditável. E, por outro lado, é um governo que quer impedir que todos esses fatos venham à tona e que cheguem à consciência do povo brasileiro.
Então, em função dessa enganação, dessa tentativa de esconder a verdade sobre a verdadeira natureza, é que o governo Bolsonaro é um governo inimigo da imprensa em geral. Ele não tolera a atividade da imprensa, pois ela divulga fatos, e ele nega os fatos, pois o que interessa é disseminar versões que enganem o maior número possível de pessoas no máximo possível de tempo.
Então, temos tido uma atuação marcada nesse período por, primeiro, uma defesa intransigente da democracia e de todas as ferramentas da democracia, mas especificamente com relação a Bolsonaro, de denunciar as agressões sistemáticas permanentes que o presidente desenvolve contra a imprensa e de denunciar todas as medidas que ele toma para impedir a mera circulação de informações. A Fenaj tem um relatório em que apurou que a maior fonte de violência contra os jornalistas no ano passado foi o presidente da República, que fez 116 ataques ao longo do ano de 2019. E quando dizemos que ele ataca, falamos em xingamentos, agressões verbais e ataques retóricos ou materiais, inclusive, para atingir economicamente os órgãos de imprensa. Então nossa atuação tem sido de combate ininterrupto a tudo isso.
Em março, o Ministério Público Federal denunciou seis pessoas pela morte do jornalista Vladmir Herzog durante a ditadura militar. O sindicato tem acompanhado esse desdobramento?
O sindicato considera que esse é um crime impune até hoje e concorda com as entidades nacionais e internacionais que dizem que a tortura e o assassinato sob tortura são crimes imprescritíveis, pois são contra a humanidade. Mesmo após décadas, devem ser apurados, investigados e os seus autores, cúmplices e acobertadores têm de ser punidos. Consideramos que existe uma chaga aberta, que a gente não esquece e que deve ser enfrentada. A luta do sindicato e de todos os democratas continua pela apuração e punição do crime que matou Herzog e centenas de brasileiros durante o período da ditadura. Isso não pode ser esquecido e precisa ser investigado. Nos governos de Lula e de Dilma, a questão avançou, mas não chegou até o fim, que é punir e colocar os responsáveis na cadeia. E preciso efetivamente adotar medidas que garantam que esse passado fique para trás e, mais do que isso, que todas as estruturas responsáveis por esses fatos criminosos sejam desmontadas e retiradas do cenário brasileiro até hoje.
Fonte: CUT/SP, por Rafael Silva e Vanessa Ramos
MAZOLA
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