Por Jorge Folena –
Infelizmente, chegamos à lamentável marca de 500 mil mortos pela COVID-19. Esse montante absurdo de vidas desperdiçadas não é definitivo, é apenas um marco provisório, nos números sempre crescentes de um genocídio cuja autoria tem nome e sobrenome, cujo portador afirma a todo momento, em total desrespeito aos que partiram, aos seus familiares e amigos e ao cargo que ocupa, que ele “não é coveiro” nem “mandou ninguém ficar em casa”, durante a grave pandemia que assola o país.
Sem dúvida, a violação aos Direitos Humanos está caracterizada e a CPI do genocídio já tem provas suficientes para pedir a responsabilização do dirigente político que conduziu milhares à morte, mortes que poderiam ter sido evitadas caso ele não estivesse à frente do governo, debochando e desrespeitando a dignidade da pessoa humana, princípio fundamental da República Federativa do Brasil, segundo a nossa Constituição.
Esse senhor e todos os que o acompanham nesta malfadada aventura serão julgados (mais dia menos dia) por todos os males que estão causando, tanto aqui como nos tribunais internacionais.
Por isso, por saber que não há escapatória e para continuar fomentando o medo e terror, a cada dia ele põe mais lenha na fogueira e tenta aprofundar o caos em que estamos vivendo há algum tempo, no qual fomos jogados pelas ações de uma classe dominante preconceituosa, leviana e egoísta, que gestou o fascismo que tem exterminado a nossa população.
Em janeiro de 2018 escrevi um texto entitulado “Brasil: um país em caos”, que peço licença para reproduzir abaixo (sem qualquer atualização), em que tentei retratar as causas da nefasta situação a que chegamos, pois foram elas que nos colocaram sob o jugo de um palhaço de circo dos horrores, que mantém a sociedade brasileira em estado de catatonia nestes meados de junho de 2021, com 500 mil mortes que poderiam ter sido evitadas, como fizeram diversos países pelo mundo.
“Em pouco mais de um ano e meio o Brasil ingressou num verdadeiro estado de caos político, social e econômico e transformou-se numa terra sem perspectiva para a população, que enfrenta cada dia mais desesperada, empobrecida e entristecida.
Com o sopro ardente da maldade estabeleceram o pesadelo que parece não ter fim, e impuseram, de cima para baixo, a destruição do país que crescia, florescia e dava sinais de esperança de uma vida melhor para milhões de brasileiros que, anteriormente, jamais haviam tido qualquer oportunidade.
A partir de junho de 2013 surgiram, aparentemente do nada, os ventos fortes de uma suposta “primavera brasileira”, que estaria por vir. Os movimentos de ruas, nas grandes cidades brasileiras, pegaram políticos e cientistas sociais de surpresa, porque não souberam identificar suas reais origens.
Muitos pensaram que se tratava de autêntica onda revolucionária, impulsionada espontaneamente pelo efeito das modernas redes sociais, e quiseram crer que uma simples reivindicação de redução em vinte centavos no preço da tarifa das passagens de ônibus poderia ser a mola propulsora da grande revolução popular brasileira.
Hoje se sabe que, por detrás das manifestações de 2013, havia perigosos interesses internacionais a financiar uma duríssima investida contra a soberania do país, a exemplo do que já se tinha passado em 2010, no Norte da África e no Oriente Médio, com a tal “primavera árabe”, que culminou em brutal retrocesso social, político e econômico para os países daquela região, após serem tomados por imaginários levantes populares.
Tais levantes foram muito semelhantes aos que ocorreram na Turquia (onde se constituíram em verdadeira conspiração de estado); são parecidos com os que ocorrem, na atualidade e com igual motivo, no Irã; estão também na origem dos ventos nocivos que tentam o tempo todo fazer soprar sobre os ares da Rússia e China; sendo os mesmos que já invadiram o território da Venezuela. A reuni-los, o fato de que todos os citados constituem países que se opõem (ou se opuseram) aos interesses hegemônicos do capital das bancas anglo-americanas.
As marchas de junho de 2013 serviram de porta-estandarte para o que viria a acontecer no decorrer do processo eleitoral de 2014 no Brasil, quando começaram a sabotar de forma criminosa o próprio país, com a única finalidade de impedir a reeleição de Dilma Rousseff no final de outubro daquele ano.
Referida sabotagem foi instrumentalizada pelos representantes de interesses locais e alimentada pelos raivosos contra os avanços sociais, que, associados para a destruição do projeto de uma nova nação, paralisaram o país mediante um “lock out”, que fez a produção e o consumo interno serem reduzidos até levar o país ao caos.
Vale lembrar que em fevereiro de 2014 o Brasil registrou o maior consumo de energia de sua história; e, para se estabelecer o verdadeiro desencadear dos fatos, é preciso também registrar que o desemprego teve início expressivo exatamente a partir de julho do mesmo ano, conforme dados, respectivamente, da ANEL e do IBGE; ou seja, estas duas informações deixam evidente que o país crescia, mas foi propositalmente paralisado por causa das eleições.
Os empresários que aderiram a esse movimento hoje choram, porque depois disso ingressamos na maior tragédia política nacional, que culminou no sórdido golpe político, que afastou do poder uma presidente da República que não cometeu qualquer delito, para entregar o destino do país nas mãos dos atuais dirigentes, que se dedicam a atuar diariamente contra o povo, mediante a retirada de verbas da educação, saúde, ciência e tecnologia, a implantação de limitações para as aposentadorias, a redução dos salários, entre outras maldades.
Não satisfeitos, entregaram a maior descoberta brasileira de todos os tempos, os campos de petróleo da área do “Pré-sal”, de forma a permitir que petroleiras estrangeiras explorem petróleo sem pagar tributos, podendo comprar todos os equipamentos no exterior, sem gerar qualquer emprego ou vantagens para os brasileiros.
E, em total menosprezo à noção de soberania nacional, querem entregar aos norte-americanos a base de lançamento de mísseis de Alcântara, no Maranhão, bem como a empresa brasileira de construção de aviões (EMBRAER).
No dia 4 de janeiro foi anunciado que a Petrobrás irá fazer um acordo com acionistas norte-americanos, em decorrência de uma ação judicial sobre cuja procedência, origem ou causa pouco ou nada se sabe.
Nesta tragédia em que se envolveu o Brasil, perdem os empresários e os trabalhadores brasileiros; ganham os bancos e o mercado financeiro internacional, que não têm alma nem pátria.
Conforme afirmou certa vez o comandante do Exército, o país está à deriva, com suas forças políticas e sociais completamente desequilibradas e sem condições de restaurar a esperança necessária para nos recolocar no rumo do crescimento.
Muito brasileiros desavisados, juntamente com outros mal-intencionados, jogam o destino do país nas mãos de juízes e tribunais, que são meros integrantes de uma estrutura de poder historicamente constituída para reprimir, não sendo seu papel o de fazer a legítima política, pela qual se constrói uma nação.
A salvação não virá jamais dos tribunais da Lava jato, pois somente poderá vir da política e do equilíbrio das forças políticas e sociais.
Por tal razão, vejo que afastar Lula do processo eleitoral de 2018 poderá constituir a quebra do consenso político que favoreceu trabalhadores e empresários nos últimos anos de desenvolvimento do país. Além de representar o grave risco de ampliação do fascismo e do ódio, que tomaram conta do país desde quando sopraram os ventos de junho de 2013, cujo único objetivo, como hoje é possível inferir, era atentar contra a soberania do Brasil.”
>>Leia também: Com 500 mil vítimas da covid, Brasil é o 8º país com mais mortes por milhão
Como disse, o texto acima foi escrito em janeiro de 2018. Pouco depois, assistimos à culminação dos acontecimentos que levaram Luís Inácio Lula da Silva a uma prolongada e injusta prisão, impedido de participar da eleição à presidência por um Twitter promovido por generais do Alto Comando do Exército (como confessado por Eduardo Villas Boas), que teve como consequência a eleição de Bolsonaro no final de outubro daquele ano.
De lá para cá, somente aumentaram a miséria, a fome e a desesperança; agravou-se a falta de rumo que desnorteia o país, lançado no caos generalizado e com as suas instituições políticas (Parlamento e Judiciário) constantemente sob as ameaças explícitas de um governante que adora a ditadura (e nunca escondeu isto de ninguém!), que pratica com gosto violações contínuas e sistemáticas à Constituição. Por tudo o que já fez, deveria ter sido afastado há muito tempo. E, se não o foi, é porque ainda encontra apoio na classe dominante nacional, tão perversa quanto ele.
Neste dia, em que contamos mais de meio milhão de brasileiros mortos pela COVID-19, e temos consciência de esse número aumentará, infelizmente, o que nos resta fazer é resistir e nos unir aos milhares de brasileiros que integram o movimento 19J, hoje, pelas ruas do Brasil (gritando um forte e alto “Fora Bolsonaro”!), para exigir o processamento dele e de todos os que integram o seu círculo, pois estão destruindo o que restou da nossa nação.
Este mal sob o qual vivemos hoje não permanecerá para sempre! Haveremos de estabelecer a dignidade humana, a justiça social e a paz em nosso país. Voltaremos a nos orgulhar dos preceitos de uma Constituição que funde um novo Estado democrático e popular, uma vez que o Texto Político de 1988 vem sendo desmontado desde o golpe de 2016, que afastou indevidamente a Presidente Dilma Rousseff e tentou jogar na lata do lixo as conquistas e progressos de recente período da nossa história, execrado pelas elites pela audácia de incluir os mais pobres no orçamento do país e por conceder efetiva cidadania ao povo brasileiro.
JORGE FOLENA – Advogado e Cientista Político; Doutor em Ciência Política, com Pós-Doutorado, Mestre em Direito; Diretor do Instituto dos Advogados Brasileiros e integra a coordenação do Movimento SOS Brasil Soberano/Senge-RJ. É colunista e membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre, dedica-se à análise das relações político-institucionais entre os Poderes Legislativo e Judiciário no Brasil.
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