Miranda Sá –
“Quem não conhece o valor das palavras não saberá conhecer os homens” (Confúcio)
Enquanto o povão, eu, tu, nós e eles, gasta a palavra valor como custo para regatear preços na feira ou para elogiar heróis históricos ou imaginários, conferindo-lhe bravura, coragem e valentia, os alunos dos primeiros anos de Economia quebram a cabeça para compreendê-lo.
Antes de chegar na Universidade, os jovens conheceram apenas a palavra pela sabedoria popular com o provérbio “só percebemos o valor da água depois que a fonte seca”; e refletida poeticamente com o verso – “Mulher, fostes o copo d’ água que eu bebi no deserto”. (Parece-me que é do poeta paraibano Raymundo Asfora).
Quando cursei a Faculdade de Economia descobri que a melhor definição de Valor está no popular livro de Daniel Defoe, publicado em 1719, trazendo a história romanceada do jovem Robinson Crusoé, que naufraga e vai parar numa ilha deserta, desconhecida e selvagem.
Ao dar-se conta da situação em que se encontra, o náufrago se angustia e vai se desesperando quando a maré atira às pedras da praia o navio desmastreado em que viajava, e nele encontra açúcar, armas, barris de rum, biscoitos, fumo, pólvora e diversas ferramentas e utensílios de cozinha, que leva à terra e vão ajudá-lo a sobreviver sete anos….
Neste capítulo vem a lição de Valor: Robinson acha na cabine do comandante, mapas, navalhas, facas e tesouras que recolhe com alegria; e, num cofre, descobre um maço de títulos bancários e muitas moedas de ouro e prata; despreza-os, falando de si para si: – “O diabo que carregue estes cheques e o vil metal que de nada me servirá”.
Está nesta exclamação a definição da teoria do valor de uso e do valor de troca criada pelo principal representante do liberalismo econômico, Adam Smith; uma teoria econômica surgida no século XVIII, que compôs mais tarde o conceito de Marx que “na sua forma natural uma coisa de valor de uso é portadora do valor de troca contido nela”.
O verbete “Valor” dicionarizado é um substantivo masculino de etimologia latina, (valor,oris), significando o quanto vale uma pessoa ou coisa qualquer. Outros preceitos vão de preço a atributos pessoais e até a duração de uma nota musical.
A ciência econômica que explica a produção, distribuição, acumulação e consumo de bens materiais, estuda a movimentação de títulos de renda, ações, obrigações, letras de câmbio, etc., representando seu valor em dinheiro.
Quando se trata do Estado, temos a macroeconomia, divisão da ciência econômica que abrange a economia regional ou nacional, visando basicamente a contenção ou moderação nos gastos, orientando os governos a não esbanjar recursos nos serviços da administração pública.
Com vistas à cidadania, encontramos os valores morais que estabelecem princípios de comportamento dos indivíduos e a interação social e política de cada um. Estas normas classificam as pessoas como “certas” ou “erradas” na sua participação comunitária e na própria vida pessoal.
É quando se torna fundamental esclarecer até onde vão as liberdades individuais tão decantadas politicamente. Será, por exemplo, que devemos respeitar como “liberdade de expressão” um discurso que investe contra a saúde de outrem, a farsa que é usada em defesa do estúpido negativismo?
Este é o comportamento desvalorizado do capitão Bolsonaro e dos seus seguidores, criando argumentos adversos às defesas contra o vírus, condenando o uso de máscaras, ignorando o mal das aglomerações e negando-se a tomar vacinas; ignoram que isto de nada servirá para eles e muito menos para nós. Não têm valor humanitário.
O arquiteto da linguagem Fernando Sabino adorna a palavra Valor lembrando que “o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem”. É o que se vê na Era da Negação implantada pelo bolsonarismo em nome de uma religião mal compreendida.
… E vai durar muito, chegará aos futuros livros de História a condenável política necrófila repudiada por 73% dos cidadãos e cidadãs que despem de qualquer valor o negativismo que condenou ao genocídio de 600 mil brasileiros.
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.
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MAZOLA
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