Por Ricardo Cravo Albin

Desde sempre, o Instituto Cravo Albin ergue seu inconformismo e assombração pela falta de memória em relação aos construtores do país, em seus níveis mais diversos.

Esta indignação de agora se refere ao silêncio sobre o grande Ary Barroso.

Possivelmente o mais fundamental e profícuo compositor da primeira metade do século XX, um ícone da opulenta Era do Rádio.

Sua Aquarela do Brasil foi um verdadeiro símbolo do País, sendo considerado por muitos um hino nacional dos corações brasileiros.

Se a década de ouro (30-40) foi a mais brilhante e famosa fase da MPB, Ary Barroso terá sido sua grande estrela, dentre todos os autores. Costumo dizer que Carmen Miranda foi a rainha de sua época e Ary seu natural príncipe consorte. E por quê? Porque Ary não foi apenas o excepcional compositor. Foi personagem múltiplo e polêmico, ou seja, uma absoluta novidade para a época.

Ary Barroso, autor de um dos mais belos conjuntos de obras dentro do cancioneiro brasileiro, foi inicialmente apenas pianista, profissão que exercia por amor e por sobrevivência. Até que, contratado para musicar peças de teatro, se lançaria como compositor, quando escreveu toda a partitura musical para a peça “Brasil do amor”. Ali estrearia também o cantor Sílvio Caldas, cantando uma das primeiras músicas compostas por Ary e que mais tarde se tornaria um clássico, o samba “Faceira”.

No ano de 1944 o compositor visitou pela primeira vez os Estados Unidos, onde seu prestígio já era grande, graças às músicas que Carmen Miranda cantava, e, sobretudo, graças ao sucesso de “Aquarela do Brasil”, que naquele ano começava a transformar-se em grande hit nas paradas norte-americanas. Chegando aos Estados Unidos, a primeira música que Ary compôs seria uma canção expressamente feita para o filme “Brazil”. Chamou-se “Rio de Janeiro” e se tratava de um samba exaltação à cidade que o acolhera e que lhe dera fama.

Grande Otelo, Linda Baptista, Herivelto Martins e Ary Barroso, no piano. Em palcos apertados e com poucos instrumentos nasceram canções eternas

É certo que Ary Barroso experimentou em 1944 o gosto tão difícil de ter sucesso nos Estados Unidos. E de lá voltou ainda mais famoso. A cada vez mais ocupado e mais solicitado para programas de rádio, de jornal e sua vida pública de vereador da cidade. Por isso mesmo sua bagagem musical caiu verticalmente nas décadas finais de sua existência, os anos 50 e 60, em que apareceram menos de três sucessos do compositor.

Toda sua obra, contudo, jamais deixou de merecer atenções, tanto por parte da crítica quanto por parte dos mais variados intérpretes brasileiros ou não.

Saudamos o aniversário de Ary, exatamente cumprido no dia 7 de novembro, 120 anos!!!

RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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