Redação

Acostumado aos games da internet, Jair Renan Valle Bolsonaro entrou no jogo político. Em vez de evitar a morte dos personagens que assume na frente do computador, o estudante de 20 anos terá que ajudar o clã a lutar pela sobrevivência do partido que a família tenta emplacar. Ao lado do pai, o presidente Jair Bolsonaro, e dos irmãos Flávio, Carlos e Eduardo, Renan assume vaga na comissão provisória de trabalho do Aliança Pelo Brasil.

O caçula era o único dos filhos do presidente com idade para assumir cargos indicados ou eletivos que mantinha distância da política — onde a desatenção traz mais prejuízos que a simples perda de pontos virtuais na barrinha de “vidas”.

“SOBERANISTA” – Lido na convenção nacional do Aliança pelo Brasil, o programa do partido que Bolsonaro tenta criar define a legenda como “soberanista”, que rechaça as “falsas promessas do globalismo”, e trata o aborto como “uma traição social”. A justificativa é que todos que defendem a interrupção da gestação já nasceram.

O evento ocorreu em um hotel de luxo em Brasília, nas proximidades do Palácio da Alvorada, há duas semanas. Entre os desafios da família, o que passa a incluir Renan, está a necessidade de buscar aliados e de seguir todas as regras do jogo político.

APARATO – Alto e magro, Renan chama a atenção dos vizinhos em uma quadra do Sudoeste ao embarcar, de shorts e tênis esportivos, em um carro executivo com motorista e segurança. O aparato foi sugestão do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República e o destino mais certo é a Asa Norte, onde o caçula do presidente faz faculdade noturna de análise e desenvolvimento de sistema em uma instituição particular.

Na universidade, todo mundo sabe que Renan tem livre acesso ao Palácio do Planalto, anda escoltado por um par de seguranças e consegue, semanalmente, encaixar-se na agenda do presidente para almoços privados. Nos encontros, o assunto principal costumava ser futebol. Agora, é política.

O “04” – A mudança de comportamento reflete também a mudança externa que ocorre discretamente na vida de Renan, agora tratado pelos aliados da família como 04 — os filhos do presidente são destacados cronologicamente pelo pai. Flávio é 01, o mais velho; seguido pelo Carlos (02), e Eduardo (03).

Primeiro integrante da família presidencial que vive livremente na capital da República, o estudante mantém diálogo cordial com alguns deputados do PSL e integrantes da Esplanada. Morando em Brasília há quase um ano, não vê problema em contar detalhes da vida cotidiana aos seguidores do Instagram, onde mostra a academia e a barbearia que frequenta, perto de casa.

TRATAMENTO DIFERENCIADO – O professor de história política contemporânea da Universidade de Brasília (UnB) Antônio José Barbosa, no entanto, garante que a capital “nunca conheceu um filho de presidente vivendo com tanta informalidade pelas ruas da cidade”, mas avalia que parte disso se deve à forma com que ele havia encontrado de lidar com “a construção de um mundo diferente daquele trilhado pela família” — o mundo da política. Renan frequenta as baladas da cidade, onde consegue acesso VIP e tratamento diferenciado, como visitas ao camarim de artistas.

Para Cristiano Noronha, da Arko Advice, “a tendência” era que o filho 04 do presidente enveredasse para a política. “Se ele mostra disposição, não vejo razão para não apoiar”. O discurso, no entanto, vai contra uma parte das promessas de campanha do presidente, que levantou a bandeira da renovação e da mudança das oligarquias no Congresso — que elegeu novatos em número recorde.

“Isso é natural no cenário brasileiro, a família inteira trabalha na política. Quando o jovem decide seguir esse caminho, chama mais a atenção porque é filho do presidente.”

Fonte: Correio Braziliense, por Bernardo Bittar