Por José Macedo

“O preço a pagar pela tua não participação na política é ser governado por quem é inferior” (Platão 428-347, A.C).

Neste artigo, incluo atuais preocupações e, tenho convicção de que servirão de reflexão para mim e para quem quer um mundo melhor, facilitando a composição dos conflitos entre pessoas e nações.

Começo com Platão e concluo citando o Papa Francisco e sua recente encíclica, “Tutti Fratelli”. Ao longo da história humana, “Verdade e a política” não combinam entre os políticos. Assim é que, neste tempo sombrio e de indefinições, transformaram a “falsa verdade” em uma poderosa arma politica, altamente, perigosa. Mas, queira ou não, eu acredito que “a mentira tem perna curta”. No entanto, quando ocorre a descoberta dessa mentira, até o retorno e predomínio da verdade, os efeitos já se fizeram irreversíveis e devastadores.

No Brasil, as mentiras e conflitos entre pessoas, físicas e jurídicas, produzem mais de 100 milhões de processos, distribuídos na Justiça. A disseminação das mentiras ou notícias falsas, com o objetivo de beneficiar ou prejudicar, apesar de imputadas como criminosas, não param de aumentar, um prejuízo insuportável para a sociedade e para a administração da Justiça.. É crime, porque ofende o direito e dá prejuízos a uma infinidade de pessoas e à democracia. O uso de notícias falsas (fake news) produz efeitos destruidores à imagem do outro, à reputação, refletindo, negativamente, na paz social. Nessas minhas reflexões, lembro-me do livro da escritora e filósofa Hannah Arendt, uma das mais importantes pensadoras do século XX, cuja leitura é instigante e atual. Seus livros estão, sempre, à minha frente, em razão dos temas e conceitos, que não deixaram de ser atuais. Sem dúvida, essa contextualização, enriquece a discussão, no que ora aduzo o contido no livro, “Entre o passado e o futuro”, no Capitulo 7: “Verdade e politica”. O que Hannah escreve é importante e atual, repito.

Esse momento de aguda obscuridade, que estamos atravessando pede diárias reflexões e leituras, até como catarse, como amenização de nossas inquietações. “Fiat veritas, et pereat mundus” (que se faça justiça, embora o mundo pereça) é uma forma de grito e clamor, por justiça e que se imponha a verdade. Envolto e movido por essa inquietação e paixão pela verdade, escolhi de modo proposital o tema em função de imensas e escabrosas mentiras ou falsas notícias (fake news) veiculadas no cenário político brasileiro, sobremodo, a partir do impeachment e golpe de 2016, quando afastaram a presidente da República, sem cometer crime. Porém, foi na campanha de 2018, enfatizando a condenação do ex-presidente, Lula, pelo então juiz de Primeira Instância, Sérgio Moro, que o assunto surgiu com intensidade e preocupação. Mas, foi na campanha eleitoral, que se evidenciaram as notícias falsas, disseminadas com intensidade, nas redes sociais e na imprensa em geral. Os prejuízos debitados à democracia, são incontestes e são, sim, irreversíveis.

Nunca vi tanta falsidade, a mentira repetida passando a ser admirada e considerada verdade.

Coisas inacreditáveis são, até hoje, tidas como verdade: “mamadeira de piroca”, “o comunismo precisa ser afastado”, “o Lula é chefe de uma organização criminosa, a freeboi é do filho do Lula, o Lula é o homem mais rico do Brasil e o maior ladrão da história” entre outras “estórias”. Esses fatos servem de leitmotiv para sacudir nossas consciências e repensados. A formação e disseminação dessas mentiras foram eficientes para que as maldades prosperassem, por exemplo deram a Vitória ao capitão Bolsonaro presidente da República. Esses fatos criminosos deram causa ao momento em que vivemos, de conflito, destruição de valores e desprezo às instituições e insegurança coletiva. A armação foi bem arquitetada, uma trama sem limites e uma cegueira generalizada, a mentira repetida passou a ser verdade. A população que não lê jornal e não tem acesso à Internet foi cooptada, refém de treinados pastores, denominados de evangélicos.

Nesse caldeirão, onde cabe qualquer coisa, detectamos o grau da ignorância política, do analfabetismo e do conservadorismo de nossa gente. É, certamente, o momento perverso da pós-verdade, as provas deixam de ser exigidas e necessárias, sendo a convicção, o sentimento e a subjetividade do julgador, suficientes e predominantes. Retorno à filósofa, Hannah, que em um dos capítulos do livro, acima, citado: “Jamais alguém pôs em dúvida que verdade e política não se dão muito bem, e até hoje, ninguém, que eu saiba, incluiu entre as virtudes políticas a sinceridade ou a verdade. Sempre, consideraram as mentiras como ferramentas necessárias e justificáveis ao ofício, não só do político ou do demagogo, como também do estadista”. É lamentável! Um pouco adiante, a filósofa prossegue: “É da essência da política a verdade ser impotente e da essência mesma do poder ser embusteiro”. Nas minhas leituras e observações diárias, lembrei-me do texto da renomada filósofa, que também escreveu o célebre e conhecido livro, “O Julgamento de Eichmann em Jerusalém”.

O sistema politico assim funciona, firmado, há milênios, de qualquer forma, acredito nessa incessante busca por um mundo melhor e verdadeiro e, que não seja uma busca eterna. Diante de tudo que ocorre, o mundo da política, no caso concreto, o Brasil, no momento, duvidamos de nossa própria honestidade ou, perguntamos a nós mesmos: vale a pena cultivar a verdade? Vale a pena ser correto, honrado e verdadeiro? Chegamos a duvidar de nossos valores, diante dos desonestos vencedores, que riem dos cidadãos de bem. Algumas pessoas afastam-se da politica e deixam de seguir os acontecimentos políticos, omitem-se. Assim, é comum ouvirmos esses lamentos, decorrentes de fundadas frustrações, flexibilização e precariedade dos direitos. Com isso, o pior para a democracia acontece, ou seja, a fuga da política das pessoas de bem. Quem ocupa esse espaço? Ora, são os criminosos, interesseiros e aproveitadores, as conhecidas aves de rapina.

Nesse dantesco contexto, o cidadão de bem coloca-se como presa e refém dos desonestos, ignorantes e ladrões políticos.

Finalmente, como oposto desse indesejado momento de pessimismo, teço minhas homenagens ao Papa Francisco, por sua atualizadíssima encíclica, “Tutti Fratelli” (todos irmãos). O Papa traz essas preocupações com elevada sabedoria, temas da solidariedade, destruição da natureza, o drama dos imigrantes, a pobreza e a desigualdade, entre outras preocupações. Ainda nos resta esperança e que não nos rendemos ao derrotismo, este facilita a perpetuação dos maus na política. Então, o Papa Francisco tenha muitos anos de lucidez e liderança, um contraponto ao atual momento do hedonismo, do consumismo e da insensatez.


JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.