Por José Carlos de Assis

A atribuição de culpa pela crise ambiental à “extrema pobreza” apresentada em Davos por Paulo Guedes constitui um dos episódios mais grotescos das relações internacionais patrocinado por uma autoridade pública num acontecimento mundial. É espantosa a canalhice embutida nessa afirmação absolutamente hipócrita. É ilimitada a arrogância dessa figura de circo perambulando pelos corredores do evento, chamando a atenção exclusivamente pela extravagância retórica. Na essência, é um primitivo se apresentando aos “civilizados”.

A correlação entre exaustão do meio-ambiente e pobreza é linear: no capitalismo selvagem que predomina em nossa época, a predação do meio-ambiente, seja nas cidades, seja no interior, gera níveis crescentes de pobreza e miséria. Para essa conclusão basta observar os ecossistemas que caracterizam os entornos das queimadas e da exploração predatória de madeira em nossas florestas, sobretudo na Amazônia. O que fica a médio prazo depois do corte de uma árvore centenária na Amazônia, esta para venda imediata?

O cínico Paulo Guedes – tenho dificuldade de chamá-lo de ministro, pois me revolve o estômago compará-lo a qualquer um de seus antecessores na Fazenda, de direita ou esquerda – retira, da frase acima, uma causalidade inversa. Não é a depredação da Amazônia que gera pobreza, mas a pobreza que gera depredação da Amazônia. Isso é aviltante. Todos os ricos de todo o mundo, todos os grandes conglomerados empresariais, todos os bancos planetários estão isentos de culpa pela pobreza no mundo. É a pobreza em si que os incomoda.

Guedes merece Davos. Esse convescote de milionários e bilionários só se incomoda com a questão ambiental pelo fato de que a água suja e a terra estéril estão batendo em seu quintal. Suas reuniões anuais, de promoção da riqueza passou ao estágio de defendê-la. Os que não tem limite de gastos começam a investir na colonização de Marte, afim de escapar da poluição que os pobres, direta e indiretamente, provocam aqui na Terra. Isso não é uma questão que se trata abertamente. Há vergonha também em Davos.

Este ano, graças ao bestial Bolsonaro, ofereceu-se para ir a Davos alguém revestido da coragem de um Dom Quixote sem, contudo, a doçura de uma Dulcinéia. Graças a anti-política econômica de Guedes, estamos dando uma nefasta contribuição ao controle da poluição ambiental no mundo, já que o gênio da turma do Pinochet não tem programa de desenvolvimento, portanto não tem como promover poluição ambiental. Seu grande programa ambiental, de fato, é a derrubada da floresta, depois da qual virá o dilúvio.

Não creio que se possa dizer muito de Guedes e de sua política econômica. O que se viu em um ano é o que o governo promete que se verá por mais três anos. O que isso significa? Ou a Nação se rebela, ou caminha para a auto-destruição em termos ambientais e em termos de desenvolvimento econômico. Tenho pensado muito em quais instituições podem nos salvar da tragédia. O Executivo, o Legislativo e o Judiciário estão comprometidos. Na sociedade civil, parte da grande mídia apóia silenciosamente o projeto Bolsonaro de Previdência e Trabalho.

Resta, a meu ver, uma única esperança: a parte nacionalista do Exército, ou das Forças Armadas em geral, única capaz de reverter o que foi feito pela outra ala, esta comandada pelo ingênuo general Villas Boas, então comandante do Exército, âncora de Bolsonaro – conforme ele próprio disse na posse. A suprema estupidez agora seria, por puro preconceito contra uma

geração de oficiais que não participou do golpe de 64, opor-se a uma solução que, por tempo determinado, conforme já defendi aqui, se estabeleça uma Magistratura com poderes para enfrentar a crise brasileira em todas as suas dimensões, voltando depois o poder institucional.