Por Pedro Augusto Pinho –
O Brasil é membro do mundo multipolar. Pode aumentar esta participação se inserindo na Nova Rota da Seda, ao invés de mendigar seu afogamento com o Sistema OTAN.
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o “mercado”, nos tem mostrado em queda o preço de títulos que oferecem bom rendimento. Pergunta-se, então, se é hora de comprar ações ou cotas de fundos imobiliários.
A resposta honesta e correta deve ser sistêmica, ou seja, apresentar todos os ângulos relevantes do tema e filtrar os maléficos efeitos da pedagogia colonial.
Quando o vice-presidente diz que o comunismo é o maior problema do Brasil, ou está mostrando um desconhecimento incompatível com sua função ou está querendo se mostrar idiota, cujas razões nem procuraremos saber.
Também aqueles “globoimbecilizados”, para quem o pensamento está voltado para a “bola que está rolando no brasileirão”, pouco se pode esperar, principalmente de uma compreensão abrangente, holística.
Sintetizemos nossa análise em três segmentos, que se entrelaçam e condensam muitos outros: a crise financeira, a guerra e a produção de vírus.
Comecemos pela crise financeira. Como todos inteligentes leitores já sabem, as finanças internacionais, desde os anos 1960, vêm lutando pelo controle do poder mundial. Nos anos 1980 e 1990, com as desregulações financeiras, o fim da União Soviética e o triunfo ideológico do neoliberalismo, este proclamando o “Fim da História” (sic), as finanças apátridas, engordadas com os capitais marginais (drogas, contrabandos, escravagismos, corrupção), assumiram o poder. E logo se seguiu uma série de “crises”, na grande maioria, senão na totalidade, construídas para imprimir velocidade no processo de concentração de renda. Considero que a última – crise de 2008/2010 – foi também a primeira em que os capitais tradicionais e os marginais lutaram pelo controle interno das finanças. Hoje existem 85 paraísos fiscais no mundo, quando em 1980 eram menos de dez; controlá-los, o que significa trazer para sua estreita vigilância os “gestores de ativos”, passou a ser um objetivo no universo financeiro.
Porém a desenfreada especulação levou à produção de títulos sem lastro, eram necessários mais papéis, muitos, muitos mais para atender à demanda de investidores (especuladores), e assim os antigos seguros de risco (hedge) viraram os derivativos atuais, mudaram de objetivo. Lançaram-se milhares de papéis referenciados a um único bem. Tentou-se, na crise de 2008/2010, limitá-la à questão das múltiplas hipotecas para um único bem imobiliário (bolha imobiliária). Mas nem foi uma reveladora tampa levantada, pois logo naufragaram indústrias tradicionais, seguradoras e arrastaram bancos e até mesmo menores “gestores de ativos”. O processo de concentração foi efetivamente o triunfante.
O processo de industrialização e de investimentos em infraestrutura, desencadeados pela ação da “Belt and Road Initiative” (BRI) ou a Nova Rota da Seda (145 países: 44 na África, 42 na Ásia, 29 na Europa, 20 na América Latina e Caribe e 10 na Oceania), está cobrando resgate dos títulos sem lastro, ou seja, sem fundos para serem pagos. O Instituto Schiller, “think tank” alemão, divulgou recentemente que somam dois quatrilhões de dólares estadunidenses (USD) este buraco negro das finanças internacionais.
Como é evidente, muitos gestores de ativos já estão se acautelando, com cuidados e espaçados no tempo, a transformação de papéis em bens reais. Mas se isso ficasse inequívoco, explícito, um programa de meses ou de ano levaria apenas minutos. E revelaria uma das falácias dos que hoje dirigem os governos ocidentais, o “poder absoluto do mercado”, o deus reverenciado até em templos neopentecostais.
O que estamos observando aqui, no Brasil, é o sobe e desce, em tendência declinante, para aqueles que sempre foram bons papéis na Bovespa; é o indicativo da saída do papel para os bens reais. E pelos grandes gestores, aqueles que só agem do exterior.
Com o valor menor do título, seguem-se também as menores remunerações, ainda que possam manter o mesmo padrão de rendimento. Exemplificando, um papel que proporciona 0,08%, custando 100 e pagando 8/mês, agora custa 10 e paga 0,8/mês.
Mas este modelo também mostrou sua exaustão. Fica impossível manter por muitas décadas uma economia artificial, somente com especulação, sem produção de qualquer tipo de bem, sem produtos para atender às demandas da sociedade. Quando se queixa de tudo ser “made in China” o que deveria ser questionado era a busca pelos menores custos, por maiores lucros, pela mais baixa ou nenhuma tributação, sem verificar o que se alterava com esta decisão, com este objetivo. A globalização, como muitos anteviram nos anos 1990, geraria novos nacionalismos, ainda que combatidos pelas mídias globais, estas de poucos donos que buscam influenciar as sociedades do ocidente.
Esta crise financeira não deve explodir, como as anteriores de 1987 a 2002, no mesmo tempo e num só local. Ela está se mostrando mais amplamente distribuída, quanto à época e o espaço, ainda que restrita ao universo desta geoeconomia e geopolítica designada ocidental, ou seja, para o conjunto de signatários de Tratados e Acordos de Cooperação e Defesa, do tipo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), da extinta Organização do Tratado do Sudeste Asiático (SEATO) e outros que colocam os Estados Unidos da América (EUA) como feitor do mundo e o USD como moeda universal.
Não há prova, mas suspeito que a desistência de Elon Musk da compra do “twitter”, por USD 44 bilhões, pouco ou nada tem a ver com “contas de spam” ou “fake news” e, menos ainda, com eventual disponibilidade da rede por Donald J. Trump. Acredito muito mais que, nesta situação de guerra e pandemias, a retirada de 44 bilhões USD em papéis sem lastro significaria uma crise que as finanças não suportariam.
Entremos então no segmento guerra, que tem uma perna na produção de vírus.
Este ocidente estadunidense se habituou a ter inimigos. Assim poderia exigir lealdades econômicas e sujeições dos parceiros em nome de uma luta onde muitas vezes nem existia, efetivamente, oponentes, estes eram criados pela própria ação bélica dos EUA. Logo após o término da II Grande Guerra, tem início a denominada “guerra fria” e o “caso Mossadegh” (Irã, 1953) bem pode ser um exemplo desta ausência de inimigo.
A situação econômica, política e social, desde o início deste século XXI, não tem sido favorável ao “Sistema OTAN”, como passarei e designar os EUA, como porta voz e braço armado do sistema financeiro apátrida, sua estreita conexão com o Reino Unido e o Japão, além da decadente Europa.
E qual a causa destes insucessos? O surgimento de um sistema em tudo oposto ao OTAN: produtivo, distribuidor de renda, pacífico e multipolar, que congrega mais de dois terços da população do planeta.
E qual o projeto das finanças? Qual a necessidade de um sistema que só concentra renda, deixando aumentar enormemente a quantidade de pobres, de miseráveis? A redução populacional. Oposta ao que deseja a Nova Rota da Seda: o aumento de consumo para manter ativo, crescente, tecnologicamente desenvolvido, o sistema de produção industrial.
Vemos então qual é o embate que existe hoje, ainda que a guerra só interesse a uma das partes. A guerra vai ajudar a concentração de renda não só pela indústria bélica ser um dos setores onde as finanças apátridas concentram seus investimentos, e assim transferem recursos públicos para remunerar estas finanças, como por auxiliar na redução populacional.
A pesquisa por vírus para guerra bacteriológica é antiga, porém ganha impulso na II Grande Guerra. Na década de 1960, um erro de controle de desenvolvimento, em laboratório na África, disseminou pelo mundo a AIDS (síndrome de imunodeficiência adquirida). Isto obrigou os laboratórios a pesquisarem a cura, evitando a propagação e morte nos países do Sistema OTAN.
O mesmo não ocorreu com o Ebola, em 1976, em surtos simultâneos em Nzara, no Sudão, e em Yambuku, na República Democrática do Congo.
Mais recentemente, as pesquisas por vírus se dirigem a grupos étnicos, para atingirem a Ásia e a África, onde estão os “inimigos” do Sistema OTAN, a maioria dos países da Nova Rota da Seda.
O surgimento do Covid na República Popular da China (RPC) não se deu por acaso. Há suspeitas de que tenha sido desenvolvido em laboratórios nos EUA e levado por soldados estadunidenses, que foram participar de disputa esportiva, em 2019, na China.
Se verificarmos a propriedade das empresas farmacêuticas existentes no Sistema OTAN, constataremos que os maiores “gestores de ativos”, com disponibilidade de trilhões de dólares – BlackRock, Vanguard, State Street, Fidelity, Capital Group – são os controladores destas empresas. Ou seja, elas trabalham para os interesses do sistema financeiro internacional.
Vê-se, portanto, que guerra e pandemias se unem para combater um sistema que atua em oposição à concentração de renda e à redução da população humana: a Nova Rota da Seda.
Voltemos ao Brasil, o que verdadeiramente nos interessa.
É um país único no mundo, em termos de recursos esgotáveis: minerais estratégicos, aquíferos e disponibilidade de água doce, e, mais recentemente, petróleo, com a descoberta de mais de 100 bilhões de barris nas águas profundas do pré-sal.
Portanto, riquezas importantíssimas para dar lastro aos trilhões de dólares insolventes que circulam no mercado financeiro internacional.
Este é o cenário da bolsa de valores brasileira e da intensa corrupção que cerca a eleição de 2022: impedir o controle pelo interesse nacional brasileiro nas decisões governamentais.
A compreensão desta realidade deve orientar as decisões dos brasileiros, e não as ideologias impostas pela pedagogia colonial e interesses estrangeiros, para que tenhamos um País que atenda a seus cidadãos.
A Argentina, presidida por Alberto Fernández, foi a primeira grande economia sul-americana a ingressar na Nova Rota da Seda, em fevereiro deste ano, e já se lhe disponibilizam U$ 23,7 bilhões para seus projetos de infraestrutura.
A Europa e o Sistema OTAN representam a decadência, o passado, a época unipolar, colonial e discriminadora, que hoje precisa importar mão de obra para prosseguir existindo e criando conflitos nos países que abriram mão de sua soberania para adotar moeda única, dirigida pelo interesse das finanças apátridas.
O Brasil já é membro dos BRICS, do MERCOSUL, do novo mundo multipolar. E pode aumentar esta participação se inserindo na Nova Rota da Seda, ao invés de mendigar seu afogamento com o Sistema OTAN, a fechada OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), este passado colonizador, belicoso e excludente.
Não abram a porta para as doenças, a miséria, a guerra e a fome!
PEDRO AUGUSTO PINHO é presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), avô e administrador aposentado.
Publicado inicialmente no Pátria Latina. Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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