Por Ricardo Cravo Albin

“Não há possibilidade de perdão sem punibilidade para os que participaram desde 8/1/23, data histórica que se abre agora à reflexões e decisões duras” – Ministro Alexandre de Moraes em 8/1/24.

De fato, ao observar a temperatura e coerências das falas de Alexandre de Moraes desde os minutos seguintes a tentativa de golpe, sou levado a crer que o ministro da Suprema Corte terá sido o personagem mais interessante e firme desta novela trágica. Que culminou em data tão abominável na história do Brasil contemporâneo. Abominável e ainda não encerrada, muito menos esclarecida na sua totalidade.

Nesta segunda feira houve vários atos em Brasília, o principal dos quais foi realizado no Congresso Nacional quando os representantes dos poderes atacados por hordas de vândalos se uniram em exortação à democracia, contra os golpistas.

Um ano depois, contudo, ainda paira o X da questão, que incomoda todo o país: das 1.154 pessoas presas dentre as milhares que invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal não constam (ao que se sabe) nomes de mandantes diretos, ou os financiadores das dezenas de ônibus que vieram de vários estados, além de políticos (deputados e senadores) ligados aos partidos aos quais interessaria o golpe.

E, afinal, quem chefiou, qual o líder que assentiu com a maquinação que gerou tal mobilização?

Já diziam meus professores nos bancos do velho Colégio Pedro II, o casarão amarelo em frente ao Campo de São Cristóvão: golpes ou revoluções, ou envolvimento de massas em manifestações, só poderiam existir com uma liderança física, presente pessoalmente ou em espírito. Sem líderes ou inspiração direta, qualquer ação pública seria apenas arremedo de bagunças ou arreganhos inconsequentes.

Detenho-me sobre fatos anteriores e posteriores ao 8/1/23, que podem apontar suas procuradas origens. O então presidente em exercício Jair Bolsonaro pregou desde o primeiro momento no poder que seria candidato à reeleição e que o sistema eleitoral vigente seria viciado, sujeito a toda sorte de fraudes. Embora nunca apresentando provas, convocou os embaixadores estrangeiros acreditados no Brasil à mais bizarra das assembleias: acusar o sistema eleitoral de seu próprio país como ineficaz e viciado, além de corrompido e suspeitíssimo (o mesmo sistema que o elegera presidente e aos seus três filhos, senador, deputado e vereador).

Ademais, como exclamaram vários jornais norte-americanos, Bolsonaro não chegou a terminar o governo. Exclusivamente para não passar a faixa ao seu sucessor, embarcou para os Estados Unidos, possivelmente ao encontro de seu líder Donald Trump, cujos acólitos já teriam invadido o Capitólio, também um dos piores momentos da história da América do Norte.

Coincidência? Pesquisas de opinião auditadas por aqui – e até hoje não divulgadas – negam que “qualquer semelhança terá sido mera coincidência”.

Fora da ação pessoal de Bolsonaro, há suspeitas sobre Anderson Torres ter deixado antes do 8/1 seu cargo no Governo Ebaneis e também evadir-se para os Estados Unidos, ao lado do ex-chefe na Califórnia. Tanto quanto o governador do D.F. Ebaneis, logo afastado por pura suspeição de inação do mais alto cargo de governo do Distrito Federal.

Há ainda, o que se deve realçar, a frase do Ministro da Defesa ao afirmar com todas as letras “que o Exército teria feito vista grossa frente aos acampamentos golpistas à sua frente em plena ebulição. Não só em Brasília como, ao que se sabe, até em outros estados”.

Em resumo, neste aniversário um dos piores atos de vândalos jamais registrados no Brasil, foram expedidos 46 mandados de busca e apreensão contra possíveis financiadores da frota de ônibus que transportou para Brasília a turba que provocou (anunciou-se agora também) o prejuízo de quase 50 milhões de reais aos cofres públicos com as invasões dos Três Poderes.

Observei que o presidente Lula ao discursar nesta segunda feira referiu-se com conveniência e tato diplomático aos militares “legalistas” que defenderam o Estado de Direito. Com isso, claro que Lula quis referir-se a uma parcela de militares do Exército “não legalistas” que apoiaram as invasões na Praça dos Três Poderes e nos acampamentos. Parcela que o Supremo precisa apurar. E punir com vigor.

Observação final, uma exortação para quem pensar o país com propriedade: a punição aos culpados é urgente. Sem o que eles retornarão à infâmia do 8/1/23. Sem tirar nem por.

RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

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