Por Siro Darlan

A festa dos esportes sempre atraiu a humanidade como local de divertimentos e extravasamento das emoções. O futebol, principal arena esportiva do Brasil, tem sido um, espaço democrático e congraçamento e diversão. O poder público e alguns dirigentes esportivos têm contribuído para produzir tensão e ambiente discriminatório entre os aficionados desse esporte. O Canal 100 produziu imagens eternizadas de torcedores apaixonados que brilhavam nos clássicos e que sempre foram a atração mais importante do espetáculo. Geraldinos e Arquibaldos, termos consagrados pelo querido Washington Rodrigues, o Apolinho, desdentados e com camisas de seus clubes de coração ficaram no passado, porque a ambição de certas autoridades transformou esse esporte popular em espaço para privilegiados e endinheirados.

Estádio Mario Filho (Maracanã) e o Cristo Redentor, símbolos do Brasil. (Agência Brasil)

A festa das torcidas com suas charangas e homens simples ficou proibida criando um clima de animosidade e adversidade que transformou os torcedores em pelotões de choque. Contudo a importância das torcidas continua inegável. O que seria do grande Flamengo sem sua Camisa 12? Sem os torcedores para animar, cobrar e incentivar os atletas, os clubes não alcançam as vitórias que almejam. A solução encontrada pelos poderes constituídos, além de injusta. É ilegal. Os Juizados dos Torcedores, criados para garantir os direitos inscritos no Estatuto do Torcedor passou a agir em seu desfavor com proibições genéricas e aplicação de penas eternas.

A autoridade policial, que muitas vezes são as primeiras a incentivar a violência entre os torcedores chegam a propor como solução os jogos de torcidas únicas, o que descaracteriza a disputa com paridade de armas e desequilibra o jogo em favor do clube cuja torcida está presente. Há torcidas, e não torcedores, que cumprem penas coletivas, sem individualização das condutas e perpétuas, pois nunca são concluídos os julgamentos. A Torcida do Vasco está proibida nos Estádios há 9 anos e não se conclui o julgamento. É como a aplicação de uma pena antecipada, mesmo que a final venham a ser absolvidas.

Comandante do BEPE, Hilmar Faulhaber. (Divulgação / PMERJ)

Os torcedores estão em busca da paz para que possam voltar aos estádios e torcer por seus clubes de coração. O que fazem as autoridades? A violência com que tratam esse tema, é semelhante à exclusão social que promovem dos povos hipossuficientes e pobres. Ao invés da violência da exclusão deveriam promover cursos e encontros de aproximação, educação coletiva e não penas coletivas, copiadas das ações fascistas. Há um movimento nascido do seio das torcidas que buscam o diálogo através da União das Torcidas. Quem se habilita a acolher essa ideia e promover a Paz e a democracia do acesso aos estádios de futebol?

A violência da polícia, corporificada no BEPE, é a mesma que invade comunidades com “caveirões” e armas pesadas desrespeitando o espaço de convivência das famílias empobrecidas. Os torcedores impacientes com o tratamento de exclusão recebido das autoridades ao mesmo tempo que busca a paz, sentem-se injustiçados com a proibição de ver e aplaudir seus ídolos e torcer pela vitória de seus clubes. Parte da imprensa, que sempre se coloca contra os interesses populares, incentiva esse procedimento excludente e não procura intermediar e promover a paz entre os torcedores.

Está na hora dos clubes entrarem nesse diálogo e buscarem o entendimento educativo e pacífico para que todos tenham direito ao divertimento com acesso democrático aos espaços de lazer.

SIRO DARLAN – Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ. siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com

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