Por Fábio Costa Pinto –
“A conexão com desejo do público explica sucesso da festa”, assim o jornalista e escritor Emmanuel Mirdad coordenador da curadoria da 7ª Festa Literária, explica porque mais de 20 mil visitantes compareceram ao Centro de Convenções Luís Eduardo Magalhães.
O evento que reuniu grandes autores, palestrantes e intelectuais, com forte presença de visitantes de Ilhéus e de outras cidades da região, a exemplo de Itabuna, Itacaré, Itajuípe, Una e Uruçuca, ocupou o Centro de Convenções da cidade entre 13 a 15 de novembro, com o tema, “A Princesinha do Sul no Mundo da Literatura” transformou a cidade de Ilhéus, no litoral sul da Bahia, num palco Libério-Cultural-Artístico-Acadêmico.
Fundada em 1534 como “Vila de São Jorge dos ilheos”, e elevada à cidade em 1881, Ilhéus ficou conhecida por ambientar os romances de Jorge Amado, famoso escritor baiano, como Gabriela, Cravo e Canela, e Terras do Sem Fim. Considerada a “Capital do Cacau” é denominada por seus habitantes como a “Princesinha do Sul”.
Conexão com o desejo
Num evento dessa dimensão, segundo o escritor Emmanuel Mirdad, as predileções pessoais ou acadêmicas do curador devem ser ignoradas. “O curador se anula em relação ao que ele gosta de ler, das relações pessoais, dos amigos, tem que esquecer tudo isso”, e – “A curadoria tem que ser sempre pensada para o público. Esse é o critério número um”. Acrescenta.
Para a curadora do espaço Jorge Amado, professora Dinalva Melo, a FLI representou a consolidação da Festa Literária do litoral sul da Bahia, enquanto se elevou ao patamar de evento internacional, além de ter oportunizado a presença de novos autores regionais que lançaram suas obras, bem como com suas rodas de conversa propiciaram a discussão de temas atuais, garantindo a diversidade presente na literatura para todos os públicos e faixas etárias. “Foi efetivamente uma festa cuja centralidade foi a literatura, o livro e o leitor. A sua continuidade pela repercussão positiva que causou a leva para a oitava edição em 2025”.
A jornalista Vanessa Dantas, coordenadora geral da 7ª FLI, afirma que o time da Sarça Comunicação se somou ao legado construído ao longo das seis edições anteriores do evento, que tiveram produção da Universidade Estadual de Santa Cruz, por meio da Editus, e da Academia de Letras de Ilhéus. “Nós chegamos para somar e fortalecer a Festa”, avalia a especialista em Gestão da Comunicação e Gerenciamento de Projetos.
Curadorias
O escritor Mirdad coordenou o time formado pelas professoras Camila Gusmão (Espaço Juventues FLI), Dinalva Melo e Rita Argollo (Espaço Jorge Amado), e a antropóloga Bárbara Fálcon (Espaço Flizinha) e pelo dramaturgo e gestor cultural Romualdo Lisboa (Artes). Já o presidente da Academia de Letras de Ilhéus, Pawlo Cidade, organizou o lançamento coletivo dos 20 autores selecionados por meio do edital da FLI.
Atrações
Além de Mia Couto, a 7ª FLI recebeu autores de destaque, a exemplo de Ailton Krenak, Emília Nuñez, Francisco Bosco, Ana Suy, Trudruá Dorrico, Deco Lipe, Clara Alves, Ian Fraser, André Vianco e Alexandre Coimbra.
O destaque do segundo dia, quarta-feira (14), foi o filósofo e ambientalista Ailton Krenak, convidado mais esperado, quando ele participou de duas atividades na FLI, a primeira, às 9h, na Flizinha, e a segunda, às 18h, no Espaço Jorge Amado.
“Os meninos sabidos são dois menininhos mágicos. Na maioria das nossas histórias antigas, os nossos outros povos também, os guarani, até os yanomami, eu observei que todos os nossos mitos de origem têm menininhos sabidos. E os menininhos sabidos, coincidentemente, costumam ser gêmeos. Esses gêmeos sabidos estão na origem dessa tal de humanidade”, iniciou Ailton Krenak.
À noite, mediada pela filósofa e escritora Elisa Oliveira, a roda de conversa também contou com a participação do professor Casé Angatu (Alma Boa), indígena xukuru radicado no Território Indígena do Povo Tupinambá de Olivença e professor de História da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).
Diante do grande público que lotou o estacionamento do Centro de Convenções, Casé fez um apelo para que a plateia se engajasse na luta pela demarcação do Território Tupinambá, que se estende por porções dos municípios de Ilhéus, Buerarema e Una.
No terceiro e último dia da FLI, o escritor moçambicano Mia Couto falou da influência da literatura brasileira nos países lusófonos da África, a exemplo de Moçambique, sua terra Natal. Por duas vezes, fez deferência à obra de Jorge Amado, autor que deu nome ao espaço das mesas principais da FLI. Na primeira, arrancou gargalhadas da plateia relembrando quando levou Caetano Veloso às lágrimas com homenagem ao escritor grapiúna.
No Brasil para o lançamento do seu novo livro, “A cegueira do rio”, editado no País pela Companhia das Letras, Mia Couto recordou o episódio em que a mesma editora reeditou toda a obra amadiana e reuniu autores para a cerimônia de lançamento, em 2008, na cidade de São Paulo. Entre os convidados, ele, Chico Buarque e Caetano Veloso.
“No avião, eu pensei: eu leio tão mal, eu com esse sotaque mais português do que brasileiro”, contou o moçambicano. Ao invés da leitura, decidiu explicar como Jorge Amado atravessou o Atlântico para ser um parteiro na África.
“Ele influenciou a criação de uma literatura que estava a querer nascer, em processo de parto, em Angola, São Tomé, Guiné Bissau, Moçambique e Cabo Verde. Então, colecionei depoimentos de escritores desses países que diziam quanto Jorge Amado os ajudou a encontrar um caminho”.
Terminada a homenagem com os relatos dos autores africanos, Mia Couto passaria o bastão para Caetano, mas o baiano demorou de aparecer. A Mia, o cerimonial disse que o cantor, compositor e escritor de Santo Amaro assistiu comovido aos depoimentos dos autores de língua portuguesa sobre Jorge Amado, desatou a chorar e precisava de um tempo para se restabelecer.
“Agora, eu posso pôr no meu CV [currículo vitae] que eu fiz chorar Caetano Veloso”, brincou Mia, dirigindo-se novamente ao público da 7ª FLI.
Com total acessibilidade, todas as atrações têm tradução simultânea para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) sendo introduzidas por audiodescrição. Os espaços também foram preparados para acolher pessoas com dificuldade de locomoção.
Já a programação artística contemplou diversas linguagens, manifestações populares e gêneros musicais para todos os gostos. O show de encerramento da FLI foi comandado pelo cantor Silvanno Salles.
Sustentabilidade
A FLI destinou boa parte do material reciclável usado no evento ao Projeto Casa Alegria, da zona rural de Serra Grande, distrito de Uruçuca, cidade vizinha de Ilhéus. Coordenada por Helena Lozano, a iniciativa reúne mulheres que trabalham no reaproveitamento de banners, retalhos de tecido, lonas e outros materiais para a confecção de produtos como toalhas de mesa, panos de prato, bolsas, sacolas e jogo americano.
A 7ª Edição da FLI – Festa Literária de Ilhéus é uma realização da Sarça Comunicação, tem a LDM como editora Oficial do evento, parceria com a Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) e conta com o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), do Governo do Estado da Bahia, através da Bahia Literária, ação da Fundação Pedro Calmon/Secretaria de Cultura, da Secretaria de Educação e da Secretaria de Turismo.
(Com informação do jornalista Thiago Dias / Assessor da FLI e fotografia de Bruno Gonzaga e Daniel Ribeiro).
FÁBIO COSTA PINTO – Jornalista (Mtb 33.166/RJ), membro do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa – ABI e da Comissão de Liberdade de Imprensa e dos Direitos Humanos, e da Comissão de Meio Ambiente. Representante da entidade no estado da Bahia.
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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