Por José Macedo

A violência é do outro. Por isso, a lógica é a de uma elite, sem caráter, corrupta, racista e farsante.

Quando os portugueses invadiram as terras dos índios, a população nativa era entre 3,5 a 4 milhões. Hoje, essa população está reduzida a 900 mil, segundo último censo do IBGE.

Na primeira missa, celebrada pelo Frei Francisco Henrique de Coimbra, os índios, de longe, acharam curioso e bizarro tudo que presenciavam, mas gostaram dos apitos.

As intenções dos invasores eram roubar e escravizá-los.

Então, alí, iniciam-se a exploração, matança e o genocídio. Os indios rebelaram-se, disseram “não” à condição de escravos.

Durante 350 anos, sequestaram africanos, de forma cruel, transportando-os da África em porões de navios, muitos não resistiam, morriam e, seus corpos eram lançados ao mar.

Não me canso de ler o poema, “Navio Negreiros, de Castro Alves, um grito de desespero do poeta, clamando os céus, por tanta barbaridade e horror..

Os negros eram levados para feiras e negociados, tratados como animais, até porque, “não tinham alma”.

Assim, nasceu a Terra de Santa Cruz, florescente de semente cristã, mais tarde, “cordial, generosa”, uma um povo pacifico e que, em momento algum, cultivou o ódio, pensou assim Sérgio Buarque de Holanda.

D. Pedro I, o Príncipe Regente, em 09 de janeiro de 1822, desobedece às ordens da Corte Portuguesa e resolve ficar, foi a data do Dia do Fico.

Sem dúvida, foi uma desobediência, gerando tensão e, incentivo para a “Independência”, em 07 de setembro do mesmo o ano.

A Proclamação da República foi outro ato de traição e golpe.

Deodoro da Fonseca era um amigo de D. Pedro II, sabidamente, um monarquista. Apesar de doente, é arrancado da cama, proclama a República, torna-se o primeiro presidente.

Faço essas inserções, fundadas em fatos históricos, com o propósito de mostrar de onde viemos e o que somos. Os fatos contrariam a propalada generosidade, pacíficidade ou cordialidade.

Outro equívoco é o de que, vivemos em uma “democracia racial”, como se fosse harmoniosa, cristã, generosa, formada por um povo, sincero, generoso, hospitaleiro e cordial, convivendo uns com os outros.

Assim, imaginou Gilberto Freyre, em seu livro, Casa Grande e Senzala.

Convido para pesquisarem sobre a dizimacão de índios, violência contra as mulheres, sobremodo negras, pobres e favelados.

Negros no Fundo do Porão é uma obra do pintor alemão Johann Moritz Rugendas, publicada no livro Voyage Pittoresque dans le Brésil (Viagem Pitoresca Através do Brasil), de 1835, que reunia cem litografias produzidas durante as viagens de Rugendas pelo Brasil. A obra retrata a cena do porão de um navio que transportava escravos entre a África e a América, no século XIX. Na pintura, ficam exposta as condições de vida dos negros que foram trazidos como escravos. A pintura escancarou as condições desumanas e insalubres dos negros, sendo apontado, inclusive, como propaganda abolicionista. (Reprodução)

Ah, são inúmeros exemplos, ao longo desses 500 anos de história, que negam a harmonia, humanidade ou cordialidade, como imaginou Sérgio Buarque de Holanda (década de 1930).

A forma abominável e 6cruel do assassinato de Zumbi dos Palmares revelam o cultivo e expressão de ódio, inimaginável para quem tem algum sentimento.

Pois, eh! Após ser assassinado, enfiaram o pênis na boca e costuraram-na.

O ex-presidente Bolsonaro afirmou, por inúmeras vezes, com seus palavreados, chulos, eivados de preconceitos, de cunho racista, contra o nordestino, afirmando ter perdido as eleições, em função do nordestino analfabeto, além de dependente do bolsa-família, acrescentava.

Certa vez, aguardando governadores do Nordeste, para uma reunião, disse às gargalhadas: “Meu estômago é maior do que a cabeça deles”.

Nesse tempo, a xenofobia e o preconceito

disseminaram-se, além do ôdio e do racismo.

As condições eram concretas e férteis para a proliferação desses males, resumindo: o preconceito do branco do Sul e do Sudeste vêm de longa data, olhando-se raça superior.

Quando escrevo sobre preconceito, xenofobia ou racismo, lembro-me da Guerra de Canudos, da crueldade, da intolerância, do ódio e do genocídio contra os canudenses conselheiristas. Do mesmo modo, do Contestado e de outras inúmeras insurreições e rebeliões no Brasil afora:

Mercenários, Cabanadas, dos Malês, Sabinada, Coluna Prestes, o Cangaço, Balaiada, guerra do Paraguai, golpe de 15 de novembro de 1889 e a queda da Monarquia, o golpe de 1964 e muitos outros.

Brasília, 1964 – Tanque diante do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional, durante o Golpe Militar. (Reprodução)

A Guerra de Canudos, muito bem narrada, no livro “Os Sertões”, do escritor, Euclides da Cunha, é exemplo merecedor e de referência, para este artigo. O livro, sem dúvida, fundamenta e atende à pretensão deste articulista, porque descreve a face oculta do Nordeste, desconhecido e abandonado, a crueldade de uma guerra injusta, sendo protagonista o exército brasileiro. Porém, ressalvo suas contradições, laivos de acentuado racismo.

A guerra escancarou o genocídio, o preconceito e racismo da elite e do poder, assassinado, cerca de 25.000 sertanejos, que estavam em Canudos, na busca de uma vida feliz, trabalhar e rezar.

Em que pese a importância do livro “Os Sertões”, é paradoxal e contraditório, por suas afirmações racistas e preconceituosas.

Sem duvidas, um marco importante para a historiografia.

Acho-me no dever de dizer de sua influência, positivista, darwinista, determinista e racista. A estrutura desse livro está dividida em três partes: a Terra, o Homem e a luta. Interpreto essa divisão como a lógica do determinismo entre o meio-ambiente, a Terra, fator preponderante para o pensamento da época.

Assim, Euclides, antes de afirmar a célebre frase: “O nordestino é, antes de tudo, um forte”, acrescentou: “A mistura de raças diversas é, na maioria dos casos, prejudicial…A mestiçagem extremada é um retrocesso”. “O sertanejo é desgracioso, desengonçado, torto, aparência de um Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos”. Resumia: o cruzamento de raças, a branca, a negra e a indígena forma a raça inferior. O Bolsonaro ficou no Parlamento, por 28 anos, teve uma trajetória pontuada por discursos misóginos, racistas, a favor da tortura e defensor contumaz da ditadura.

Contudo, foi eleito presidente da República do Brasil. No curso dos 4 anos de seu mandato, armou a população, flexibilizou o Estatuto do Desarmamento, motivou a criação do bloco da bala, de extrema direita, no parlamento. Em um desses dias, a TV mostrou, em horário nobre, uma criança em seus braços, Ele simulava e ensinava àquela criança a manusear uma arma de fogo.

No Acre, simulando: “Vamos metralhar os petralhas”. O capitão Bolsonaro é herdeiro dos delegados, Sivuca e Hélio Vigio, da década de “80”, propagadores do slogan “bandido bom é bandido morto” e da Scuderie le Coc, na época dos grupos de extermínio do Rio de Janeiro.

As atrocidades poderão ser praticadas, desde que, sejam contra seus desafetos. Bolsonaro ameaçou ministros do STF e adversários. Disputou a reeleição e obteve mais de 58 milhões. Seu perfil de traços nazifascistas despertou e alimentou o estado de ódio e de violência, motivando a que se pensasse: o homem é lobo do outro, os conflitos serão resolvidos pela violência. As escolas brasileiras estão vivendo o clima de violência, a vida e morte equivalem-se, com naturalidade, tratadas com banalidade e desprezo. Tivemos assim um presidente da República do Brasil que, foi expulso do exército, por atos de indisciplina e de terrorismo, adepto da tortura, da ditadura, além da morte de seus adversários.

Apesar disso, foi premiado, eleito para o posto máximo da nação, a presidência da República.

A criança ou mesmo adultos despreparados ou vulneráveis, nessa era de obscurantismo, de fluidez de costumes e de valores, veem esse sujeito, vitorioso, chamado de “mito”, pede aos pais uma arma, inicialmente, de brinquedo. Pensarão: o crime compensa.

Esses fatos são armadilhas, formadoras de opinião e da violência, vislumbra-se o nexo causal, de uma história política e violenta, fonte alimentadora de todo horror e beligerância, ora vividos na sociedade brasileira e nas escolas.

Por isso, vislumbro que, não é com medidas policialescas e punitivas que, encontraremos a paz, harmonia e cordialidade desejadas. A reconstrução e anulação dessa cultura de ódio e racismo, exigem a substituição dos agentes do mal, que já é coletivo e assustador. Até aqui, os agentes do mal têm sido premiados, encantam e arregimentam legiões de seguidores. Senhor Deus dos desgraçados, dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura…se é verdade Tanto horror perante os céus?!

Viva Castro Alves! Viva Antônio Conselheiro! Viva “Canudos que não se rendeu”!

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AGENDA

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JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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