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Quem mentiu ao depor? O comandante Freire Gomes ou o general Estevam Cals? – por Carlos Newton
Opinião

Quem mentiu ao depor? O comandante Freire Gomes ou o general Estevam Cals? – por Carlos Newton

Por Carlos Newton

Estevam Cals e Freire Gomes entraram em contradições.

Conforme revelamos aqui na Tribuna, já se sabe que em 2022 os três últimos comandantes das Forças Armadas na gestão de Bolsonaro, incentivados pelo ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, participaram diretamente da conspiração para um golpe de estado, em plena democracia. São chefes militares de baixa categoria, que combinaram depoimentos entre si, mentiram com desenvoltura, mas foram tão incompetentes que deixaram importantes lacunas e detalhes que acabam por incriminá-los.

Tudo isso está nas investigações conduzidas pela Polícia Federal e pela força-tarefa formada no Supremo pelo superministro Alexandre de Moraes, aquele que conduz o Inquérito do Fim do Mundo, iniciado há quase seis anos e não tem prazo para acabar.

É triste ver generais mentindo, não pensei que iria presenciar circunstâncias desse tipo. Antigamente, os oficiais superiores assumiam seus riscos e seus erros. Agora, é preciso estudar a fundo o comportamento deles e da própria corporação, para descobrir onde se esconde a verdade.

APOIANDO O GOLPE – Praticamente não existem petistas no oficialato. Há um ou outro, que trabalharam com Lula e se afeiçoaram a ele, como o general Gonçalves Dias. O resto é tudo antipetista. E Já explicamos aqui que os três últimos comandantes das Forças Armadas na gestão de Jair Bolsonaro foram escolhidos a dedo entre os maiores adversários de Lula da Silva e do PT. É compreensível que não entrasse na cabeça deles que a Presidência da República fosse devolvida a um político desprovido de caráter, que foi informante do regime militar, depois passou a se dizer líder das esquerdas e ficou 580 dias na cadeia, por corrupção e lavagem de dinheiro.

Realmente, quem imaginaria que o Supremo decaísse tanto, a ponto de libertar Lula e limpar sua ficha mais que suja? Assim, é normal que a quase totalidade dos militares não aceitasse a volta do petista ao Planalto. Mas também é inaceitável que passassem a conspirar contra a democracia, como os três últimos comandantes militares do governo Bolsonaro fizeram, o que se comprova pelo cruzamento da leitura dos depoimentos até agora divulgados.

Sem medo de errar, já se pode dizer que Freire Gomes (Exército), Alain Garnier (Marinha) e Baptista Junior (Aeronáutica) apoiavam o golpe, mas desde que houvesse alguma justificativa, como a anunciada fraude eleitoral. Hoje, isso é ponto pacífico nas investigações.

CONTRADIÇÕES – O golpe deu errado, colocou na cadeia três terroristas do caminhão-bomba e mais de 1,5 mil pés de chinelo, inclusive um morador de rua que se alimentava e dormia no acampamento no quartel e estava em prisão domiciliar até esta semana, aguardando que o insensível Moraes enfim atendesse o pedido de soltura da Procuradoria-Geral da República.

Quanto aos chefes militares, uma das maiores controvérsias macula os depoimentos do comandante Freire Gomes e do general Estevam Cals Theóphilo, que chefiava o Comando de Operações Terrestres (Coter) e pode ter sido responsável pela presença dos “kid pretos”, que incitaram o vandalismo no 8 de Janeiro.

O fato é que em 2022 o comandante Freire Gomes levou o general Estevam Cals para reunir-se com o presidente Bolsonaro, sem haver a menor justificativa, a não ser a trama do golpe contra Lula. Depois, em dezembro, Bolsonaro se desesperou e cometeu um erro absurdo – chamar a palácio o general Estevam Cals, sem comunicar ao comandante. E o pior é que ele foi.

ALGUÉM MENTIU – Nos depoimentos, alguém mentiu. Estevam disse ter comunicado previamente a Freire Gomes e acrescentou que, após a audiência, teria comparecido à residência do comandante, no Forte Apache, para relatar o acontecido. Mas Freire disse o contrário: 1) que Estevam não o avisara da reunião; 2) e não lembra se ele teria ido à sua residência para narrar o encontro com Bolsonaro.

Fica claro que o mentiroso é Freire Gomes. Dizer que não se lembra de fatos dessa importância é debochar da inteligência alheia, a não ser que esteja com Parkinson ou Alzheimer, e não é o caso. O Alto Comando também tem essa opinião. Tanto assim que o general Estevam Cals Theóphilo não passou logo para a reserva. Pelo contrário, ficou no Estado Maior até novembro de 2023, quando deixou o serviço ativo.

Nessa reunião com Bolsonaro em dezembro, o general Estevam Cals Theóphilo não representava seu comandante Freire Gomes; foi a palácio representando o Alto Comando. Nem precisava prestar contas ao comandante, mas preferiu fazê-lo.

Quanto ao fato de o general Estevam Cals Theóphilo ser extremado antipetista e antilulista, o Alto Comando nem levou esse fato em consideração, pois todos os demais integrantes partilham tal posicionamento. Os militares apenas aturam Lula, o que é muito diferente de apoiá-lo.

CARLOS NEWTON é jornalista, editor do blog Tribuna da Internet.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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