Por José Macedo

Estou no Brasil, sem esquecer de que, ao mesmo tempo, vivemos no mundo e somos impulsionados por eternos conflitos, internos e globais.

Aqui, no Brasil, ao que parece, estamos em uma sala, todos queremos sair, mas não há saída à vista. Essas pessoas encontram-se sem voz, não se entendem, veem às suas frentes obstáculos, são todas contemporâneas, não têm os mesmos dons e convicções, fazendo-me recordar da Torre de Babel, livro de Gênesis, narrativa bíblica.

Creio que, o título deste texto nasceu de uma provocação espontânea, em função do mundo em que vivemos, com as catástrofes, desastres morais, apesar dos avanços tecnológicos e da ciência. Porém, nunca se viu tanto negacionismo, não mais existindo lugar para sonhos e utopias. Os que procuram expoentes, que mostrem um caminho para o reencontro da história, encontrarão frustração e desalento.

Escrevo, amigos, como válvula de escape, como catarse e reflexão minha para meus leitores. Assim, jogo pra fora minhas angústias e inquietações, na solidão de minhas reflexões. Na verdade, às vezes, nessa solidão intelectual, nessa busca de explicações, olhando a corrida burra pelo poder, a depredação da natureza, essencial à sobrevivência do capitalismo, a política deixa de ser a arte do bem comum, para tornar-se escudo, proteção e esconderijo das imoralidades e malfeitos praticados.

A justiça transforma-se em mero instrumento e forma, é possuidora de pouca credibilidade, sob forte desconfiança é garantidora, para dar aparência de legalidade no que fazem os donos e ocupantes do poder.

No poder ou no processo de conquista, nesse tabuleiro do vale tudo, os fins justificam os meios, como assassinar, mentir, acumular riquezas ilícitas e sem justa causa, soltar notícias falsas (fake news), desvios do dinheiro público, tudo isso sob os olhares passivos da maioria. Nesse universo e vale de lágrimas, até Deus é usado como mero auxiliar e cúmplice, aí é quando, vejo a explosão de “igrejas”, alçapã eficiente para fazer dos, mentalmente, vulneráveis, suas presas, nada importando, senão o resultado desejado, ou seja, o enriquecimento ilícito.

É difícil dizer se existem mais igrejas ou mais farmácias; sem dúvida, afirmo que, a cada dia, existem pessoas mais doentes, quer física, quer mentalmente ou moralmente. A proliferação de igrejas e farmácias testemunham uma humanidade doente e refém de seus erros e presa fácil de seus exploradores.

Assim, dizem as estatísticas, cada vez mais, as pessoas dependem de ansiolíticos, de rivotril para dormir e poder dar continuidade à corrida, ora narrada, nesse século de doença coletiva, de busca do ouro e do poder. Até quando, a natureza suportará ou atenderá a essa pressão, uma descontrolada extração de recursos naturais, exigência do crescimento econômico ou, visualizaremos, logo mais, a destruição de nossa existência?

Nesse macabro quadro desenhado, sinto-me derrotado, meus neurônios sentem-se impotentes, estou em processo de aceitar a sucumbência, como jamais imaginei. Ah, meus anos de infância e do cultivo de sonhos!

Resta-me, como meio de resistência, prosseguir na solidão de minhas leituras e reflexões, modo e forma de catarse, sabendo de que a humanidade, vis-à-vis, nosso país, que está “upside down”, de cabeça pra baixo e governado por um sujeito mentiroso e “exterminador de nosso futuro”.

Sobreviver é preciso, bem como ter esperança! Até quando? Concluo com o poema, “O Bicho”, de Manoel Bandeira (ano de 1947), dizendo:

“Vi ontem um bicho/ Na imundície do pátio/ catando comida entre os detritos/ Quando achava alguma coisa/ Não examinava nem cheirava/ Engolia com voracidade/ O bicho não era um cão/ Não era um gato/ Não era um rato/ O bicho, meu Deus, era um homem”.

JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre


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