Por Luiz Carlos Prestes Filho –
A candidata a vereadora pela cidade de Mauá/SP, Meire Terezinha da Silva, presidente/licenciada da Liga das Escolas de Samba da Região do Grande ABC (LIGABC) e da Liga das Escolas de Samba de Mauá (UESMA), conta que: “Foi junto às escolas de samba que constatei o quanto a política pode influenciar a vida das famílias e das comunidades.” Em entrevista exclusiva para jornal Tribuna da Imprensa Livre, a candidata afirma:
“Apesar do Carnaval ter um peso muito grande no desenvolvimento local, ele não é visto como gerador de uma potente cadeia produtiva de valor econômico. Muitos não entendem que a festa é um investimento que gera trabalho e renda, acreditam ser algo improdutivo gerador de despesas. Essa situação tem que mudar!”
Luiz Carlos Prestes Filho: Como você vê a cidade de Mauá no contexto do Estado de São Paulo?
Meire Terezinha da Silva: Mauá é um município da região metropolitana de São Paulo, com quase 500 mil habitantes, 1/3 do município é de área industrial, 10% de área rural que se estende até o Parque Estadual da Serra do Mar. Em 2018 chegamos a ser a 11ª cidade em população, temos 20 bairros, mas somos uma cidade periférica. A nossa economia é baseada na logística; metalurgia; indústria química; e na fabricação de equipamentos eletrônicos. Temos dois polos industriais – o de Capuava e o de Sertãozinho. Mauá sempre foi reconhecida como “A Cidade da Porcelana”, em razão da grande importância histórica dessa atividade produtiva.
Prestes Filho: As políticas de meio ambiente deveriam orientar as políticas de turismo, cultura e desenvolvimento econômico? O Carnaval, especificamente, tem peso para o desenvolvimento local?
Meire Terezinha: Temos em Mauá o Parque Ecológico da Gruta Santa Luzia; o Parque Ecológico do Guapituba; e o Parque Ecológico São Vicente, que fica próximo ao Parque da Juventude. A natureza nos abraça. Possuímos, também, praças arborizadas como a do Paço Municipal; a da Bíblia e a da Paineira, onde realizamos eventos artísticos. Mas devemos melhorar essa estrutura, atrair investimentos para a proteção dessas áreas verdes, claro que sempre em conjunto com a iniciativa privada. Vejo que podemos criar projetos, até mesmo ações turísticas, nesses locais. Precisamos criar o Conselho Municipal do Meio Ambiente para sermos mais eficientes na educação ambiental e na área da cultura, inclusive, para fiscalizar e acompanhar o desenvolvimento de projetos em andamento. Temos que fomentar a cultura do meio ambiente na cidade. Apesar do Carnaval ter um peso muito grande no desenvolvimento local, ele não é visto como gerador de uma potente cadeia produtiva de valor econômico. Muitos não entendem que a festa é um investimento que gera trabalho e renda, acreditam ser algo improdutivo gerador de despesas. Essa situação tem que mudar! Hoje a cultura tem um papel importante no desenvolvimento socioeconômico de nossa cidade. Os projetos e as ações das escolas de samba estão neste contexto, são importantes estruturas para todos os bairros. Nossas agremiações organizam feiras, cursos profissionalizantes, eventos comunitários e artísticos. Mauá, por ser uma cidade periférica e de dormitório, precisa investir no turismo, na cultura e na educação. O carnaval aqui tem raízes profundas, vem desde o ano de 1957, quando se deu o primeiro e inesquecível desfile carnavalesco.
Prestes Filho: Você pretende consolidar no seu município atividades esportivas?
Meire Terezinha: No município de Mauá temos dois clubes particulares e um estádio. Temos a Liga de Futebol de Várzea, com 167 filiados e 2 times profissionais, participando dos campeonatos o ano inteiro. Minha proposta é a de valorizar essa identidade futebolística. Mas, por outro lado, desejo implementar as ruas de lazer, com atividades culturais e esportivas, voltadas para as famílias que merecem ter essa opção nos finais de semana. Desejo que as ciclovias, aos domingos, sejam a grande opção para o deslocamentos dos munícipes. Criei o projeto “Carreta da Alegria e do Lazer” com brinquedos para as crianças de áreas excluídas. Os campeonatos esportivos entre as escolas municipais e estaduais, tem que ser resgatados e apoiados pelo poder público.
Prestes Filho: Qual a importância da sua cidade no contexto do ABC Paulista? Quais propostas para fortalecer o Carnaval na região?
Meire Terezinha: Como destaquei acima, Mauá é a 11ª cidade pelo número de população mas… é a 10ª mais pobre! Quando analisamos a renda per capita do Estado de São Paulo isso fica evidente. No ABC de São Paulo, Mauá é a 3ª cidade mais populosa. O Carnaval é a cultura que sempre teve destaque aqui. No entanto, influências negativas, gestões incompetentes, tiraram o foco do trabalho social e do entretenimento realizado pelas escolas de samba. Desta maneira o Carnaval deixou de ser prioridade para os gestores públicos. Mesmo assim as escolas de samba hoje ainda são aqueles espaços socioculturais de pertencimento. Têm potencial para atender a população excluída, aproxima as mesmas das políticas públicas. As agremiações realizam ações no campo da educação o ano inteiro, são ações que geram trabalho e renda para centenas de famílias. Em Mauá temos 12 comunidades carnavalescas. Proponho, valorizar as quadras das Escolas de Samba, através da parceria do poder público com a iniciativa privada. Desta maneira poderemos, efetivamente, levar o esporte, a cultura e o lazer para o povo. Chegou a hora de voltar a realizar os grandes desfiles de escolas de samba e blocos! Assim como era na década de 1950, quando os mesmos eram patrocinados pela empresa Porcelana Real, indústria genuinamente da nossa terra. Ao assumir o mandato, vou propor a mais ampla discussão com a população sobre o nosso Carnaval. A nossa festa tem que estar integrada com aquelas promovidas pelas cidades vizinhas.
Prestes Filho: O controle da ocupação do território da cidade e dos distritos estão adequados e atualizados?
Meire Terezinha: Infelizmente, enfrentamos sérios problemas sociais, agravados pela ocupação desordenada. Falta de planejamento urbano, água, energia e esgoto canalizado. Hoje temos 71 ocupações, devido ao crescimento rápido e desordenado entre as décadas de 1960 e de 1980, a população de baixa renda passou a construir e ocupar áreas de risco, de proteção ambiental, encostas de morros e margens de rios e de córregos, contribuindo para a instalação de loteamentos irregulares. Estou falando a partir dos dados disponíveis, mas os números não estão atualizados. A situação é pior.
Prestes Filho: Como você vê a política municipal? Como pretende legislar? Quais as prioridades?
Meire Terezinha: Por estar insatisfeita pela atuação dos vereadores e do atual prefeito, como pedagoga – pós-graduada em Gestão Pública, pós-graduada em História e Cultura Afro Brasileira – senti a necessidade de colocar meus conhecimentos a serviço da cidade. É minha obrigação apresentar para o eleitor meus projetos para as áreas de políticas públicas; cultura; educação; emprego e renda; e saúde. Destaque especial para a saúde da mulher; segurança; e transporte. Meu mandato será participativo, junto com os conselhos municipais e com os amigos dos bairros que vou representar. A atual administração foi conturbada, com duas administrações. Hora entrava uma corrente política, hora era outra; com processo de impeachment atrapalhando a gestão e o próprio crescimento da cidade. Sou uma mulher de coragem que se propõe a fazer o melhor pela população! Minha prioridade será a Cultura. Mas não apenas a cultura festiva, estou falando da cultura voltada para a educação e saúde, para o trabalho e para o bem estar social.
Prestes Filho: Quais as propostas para a saúde e educação?
Meire Terezinha: Temos que dar mais atenção para as mulheres, temos que criar uma UPA específica para consultas e exames de mamografia e de prevenção, com diagnóstico mais rápido. Precisamos acompanhar a gestão das UPAS, trazer projetos que promovam melhorias. Proponho atenção ao atendimento preferencial, facilitando a acessibilidade. Quanto à educação, entendo que devemos dar mais atenção para a pré-escola de nossa cidade, ampliar os espaços educacionais. Fortalecer a prática esportiva e artística nas séries finais e ensino médio, propor investimentos na formação dos docentes e dar mais potencia para a educação especial.
Prestes Filho: Quais as propostas para fortalecer as empresas de Mauá?
Meire Terezinha: É necessário realizar uma política mais eficiente de incentivos fiscais para atrair novas empresas e, consequentemente, mais investimentos. Os projetos de qualificação da infraestrutura urbana podem fortalecer os polos industriais existentes. Cursos de formação, de capacitação e de qualificação são fundamentais para que as novas empresas contratem mão de obra local. Como evoluir sem investimento na educação digital, sem abrir extensão das redes de internet nas comunidades? A pandemia Covid 19 provou que chegou a hora de nos adaptar ao trabalho em rede, o trabalho remoto chegou para ficar. Hoje as atividades econômicas tem como apoio as lives, os saraus eletrônicos, os cursos à distância. As nossas escolas de samba já estão fazendo seus trabalhos de capacitação remotamente. A parceria público-privada tem que considerar essa realidade.
Prestes Filho: Sua família tem tradição na vida social da cidade?
Meire Terezinha: Meu pai, Joaquim Limiro (em memória), mineiro, pintor de carro na empresa Volkswagen do Brasil, foi presidente-fundador do time de futebol amador Ponte Preta de Mauá. Ele teve influência política no bairro e em toda região. Sempre estive junta com ele, participando das atividades esportivas. Fui atleta e depois, técnica feminina por dois anos. Minha mãe, Francisca de Brito (em memória), foi auxiliar de enfermagem e sempre ajudava as comunidades com seus conhecimentos e práticas. Cresci acompanhando ela nos atendimentos. Tenho quatro irmãos, sendo que um deles segue o ofício do nosso pai. Foi junto às escolas de samba, após assumir a presidência de uma delas, que constatei o quanto a política pode influenciar as famílias e as comunidades. Sou casada, há 25 anos, com o professor Valter (31 anos na profissão), defensor da escola pública e tenho três filhos: Letícia, Vinícius e Bruno.
Prestes Filho: Como você se iniciou na política?
Meire Terezinha: Por influência dos meus pais. Por conta do atendimento às pessoas simples das comunidades, comecei a realizar trabalhos na Igreja da Vila São João. Naquela época, década de 1980, havia uma integração entre as comunidades – igreja/escola de samba/esporte/posto de saúde. Através dos cursos oferecidos, conheci a escola de samba da Vila São João. Fiz todos os cursos que eram oferecidos: judô, beleza feminina, bordados, música, dança e costura. Trabalhei na confecção de figurinos, fui baiana, fui porta bandeira da “Acadêmicos do São João”, porta bandeira da escola “Camisa Azul e Branco” por muitos anos. Fui presidente da escola de samba “Camisa Azul e Branco”. Hoje estou presidente licenciada da Liga das Escolas de Samba de Mauá (UESMA) e da Liga das Escolas de Samba da Região do Grande ABC (LIGABC). Estou na vida pública há mais de 40 anos!
Prestes Filho: Você acredita que o instituto constitucional das eleições é a base da democracia?
Meire Terezinha: A democracia é um sistema que garante a responsabilidade de políticas públicas com qualidade, onde o povo elege os seus representantes. A democracia é um regime no qual os governantes são escolhidos por meio das eleições. No entanto, percebo o quanto a classe política manipula a educação e a cultura do nosso povo, descaracterizando a nossa Constituição e os Direitos Humanos. Mas, sem dúvida deve ser protegida e fortalecida, pois acredito em um mundo melhor e se possível quero ser parte dele.
LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).
