Por Miranda Sá

“A automação é como o Lord Voldemort, de Herry Potter; a força aterrorizante que ninguém quer nomear” (Jerry Michalski)

Da leitura do livro de Brian Selznick ao maravilhoso filme dirigido por Martin Scorsese, ganhador de cinco Oscars, vive-se uma maravilhosa emoção com “A Invenção de Hugo Cabret”. A fita está à disposição no Netflix e no Google.

Relembrando Hugo Cabret, resolvi escrever este texto sobre robôs. Para desenvolvê-lo fui ao também sensacional livro “Eu, Robô”, do futurólogo Isaac Asimov, que também se transmudou em filme, dirigido por Alex Proyas.

O “Eu, Robô”, ao contrário do passado épico do cinema na Invenção de Hugo Cabret, projeta-se para o futuro, o ano 2035, onde os robôs são usados para substituir o trabalho humano. Pela Lei dos Robóticos, eles são impedidos de praticar qualquer tipo de violência; mas um deles, que um parafuso frouxo aguçou instintos maléficos, pratica um crime matando um cientista; é perseguido e desativado…

A minha atração prendeu-se ao romantismo de Hugo Cabret, a história de um menino às voltas com um androide que o pai lhe deixou ao morrer. Sozinho, marcando as horas no relógio de uma estação ferroviária, Hugo vivia obstinado a consertar o boneco mecânico, roubando peças nas lojas para fazê-lo funcionar.

É flagrado, preso, e depois solto, mas termina resolvendo, com a ajuda de uma amiguinha, o mistério do androide. Fazendo-o movimentar-se, revela através dele a épica história de um pioneiro do cinema, que estava desaparecido.

Os autômatos surgiram por volta do século 18, e os mais notáveis deles foram construídos na França pelo relojoeiro Vauxasson para o rei Luís 15, hoje expostos em museus, como o “Tocador de Flauta” e um “Avestruz” em tamanho natural que corria nos jardins de Versalhes…

Esses primeiros foram brinquedos para adultos, apreciados nas ricas cortes europeias; e a sua evolução, pela introdução de um cérebro eletrônico computadorizado, trouxe-nos os robôs, usados em eletrodomésticos, aspiradores de pó, lava pratos, e até como parceiro no jogo de xadrez, criado por Wolfgang de Kempelen….

Diz-se – não pude comprovar em pesquisa feita às pressas – que o androide “Jogador de Xadrez”, de Kempelen, venceu três partidas disputadas com Napoleão Bonaparte, mas desconfiou-se na época que sob a aparência robótica havia um anão russo, campeão de xadrez na sua terra…

Temos em casa um, “Alexa”, que nos dá informações sobre o tempo, o noticiário midiático, curiosidades históricas e executa músicas a pedido de voz. Essas máquinas – não passam de máquinas, é bom não esquecer -, ajudam viagens interplanetárias, realizam pesquisas científicas, exames biológicos e testes para diagnóstico médico.

A ciência e a tecnologia avançaram surpreendentemente neste campo. As projeções robóticas de Azimov enfrentaram críticas acerbas, partidas de fundamentalistas religiosos. Interpelado sobre os perigos que as suas pesquisas trariam, pressionando-o a abandonar os seus estudos; mas ele foi curto e grosso: – “Se o conhecimento fosse perigoso, a solução seria a ignorância. Sempre me pareceu que a solução deveria ser a sabedoria”.

É justamente a sabedoria que nos leva a imaginar como as gerações futuras conviverão com os autômatos humanoides e, quem sabe, evoluídos a ponto de desenvolver ideias próprias…. Esta projeção recolhe-se armazenada em nuvem.

O momento presente é muito pior, pois nos leva a enfrentar pessoas com o pensamento programado, obedientes à voz do dono como robôs de carne e osso, nos chamando pelo telefone para vender bugigangas ou digitando mensagens políticas fraudulentas nas redes sociais, as famigeradas “fake news”…

… E isto não é uma hipótese, e não há força legal para impedi-las; até já tentei barrar chamadas telefônicas automáticas e o provedor se disse incapacitado de fazê-lo; como também se arrastam a mais de dois anos nos tribunais o estudo para decidir como punir fakesiosos e hackers, preservadores virtuais do mal.


MIRANDA SÁ – Jornalista, blogueiro e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã. Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.