Redação

A deputada federal e relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, Lídice da Mata (PSB-BA), condenou na noite deste sábado, dia 9, o episódio do churrasco no Palácio da Alvorada, cancelado depois que o presidente Jair Bolsonaro passou a ser alvo de críticas nas redes sociais. Na avaliação da relatora, Bolsonaro passou a “criar” e “divulgar” suas próprias fake news.

Em entrevista ao Estadão, Lídice ressaltou que o presidente, em entrevistas à imprensa, foi quem “espalhou” a história do churrasco. “O presidente, agora, ele cria a sua própria fake news. A fake news sobre ele mesmo. Porque foi ele quem deu a notícia e depois ele desmente, dizendo que foi uma fake news”, afirmou.

CHURRASCO – Bolsonaro desistiu de realizar o churrasco no Palácio da Alvorada neste sábado, conforme noticiado mais cedo pelo Estadão, após forte repercussão negativa, da confraternização, em meio ao avanço de mortes pela covid-19.

Bolsonaro ainda chamou o evento que ele mesmo anunciou dias atrás de “churrasco fake” (falso), em publicação em suas redes sociais. Nesta sexta-feira, dia8, em tom irônico, ele declarou que esperava receber três mil pessoas no churrasco.

Ainda segundo a relatora da CPMI, Bolsonaro causa confusão ao transmitir notícias falsas à população. “Nós estamos vendo piorar cada vez mais a comunicação do presidente com o povo brasileiro”, destacou.

“E, DAÍ?” –  Neste sábado, dia9, o Brasil registrou 730 mortes pela covid-19 e, nas últimas 24 horas o número de óbitos atingiu a marca de 10.611.  Logo após anunciar que não haveria churrasco na residência oficial, Bolsonaro deixou o Palácio e foi passear de jet ski no Paraná.

“É desrespeitoso e mostra uma falta de compaixão com o momento pelo qual o País passa. E que as pessoas passam. São mais de dez mil pessoas que se foram. E o presidente dizendo, de forma muito tranquila, que 70% vai se contaminar de qualquer jeito”. Na noite de sexta-feira, o entorno do presidente já discutia a desidratação ou até mesmo o cancelamento do churrasco, após Bolsonaro ter sido alertado de que o “timing” para a realização da festa não era bom.

“IDIOTAS” – “Alguns jornalistas idiotas criticaram o churrasco fake, mas o MBL se superou, entrou com ação na justiça”, escreveu o presidente no Twitter neste sábado, fazendo referência à medida judicial proposta pelo Movimento Brasil Livre.

Na quinta-feira, 7, Bolsonaro disse que receberia “uns 30 convidados” no Palácio do Alvorada. O churrasco seria bancado com “vaquinha” de R$ 70 reais por pessoa. Segundo o presidente, os convidados ainda fariam uma “peladinha”, como são chamados jogos de futebol. A realização de um churrasco contraria as medidas de distanciamento social propostas por autoridades sanitárias em todo o mundo, inclusive a Organização Mundial de Saúde (OMS).

DEBOCHE – No dia seguinte, o presidente voltou ao assunto e, de forma irônica, afirmou que receberia três mil pessoas. Primeiro, disse que convidaria apenas profissionais da imprensa. Depois, passou a aumentar as projeções. “Quem estiver aqui amanhã (sábado) a gente bota para dentro. Três mil pessoas no churrasco amanhã”, disse ele, aplaudido por apoiadores em frente ao Alvorada.

Na internet, o assunto #churrascodamorte esteve entre os mais comentados no Twitter neste sábado, 9. Críticos da iniciativa fizeram com que essa palavra chave tivesse mais de 50 mil menções. A expressão #Churrasco10kdoBolsonaro também está no topo de temas mais comentados na plataforma. Essa hashtag faz referência aos quase 10 mil mortos por covid-19 no País.

CONTRAMÃO – Na manhã deste sábado,  Bolsonaro recebeu apenas o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, na residência oficial da Presidência. Desde a decretação do estado de emergência em razão da pandemia, o presidente Bolsonaro tem tido vários compromissos no fim de semana que contrariam as recomendações de isolamento social.

Em Brasília, ele já visitou o comércio local, causando aglomeração em regiões administrativas da capital federal, e participou de manifestações favoráveis a seu governo e contrárias ao Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF).


Fonte: Estadão