Redação

Na eleição municipal de 2020, prefeitos da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, foram às urnas apoiados numa aliança com o presidente Jair Bolsonaro. Para o pleito federal no ano que vem, no entanto, o casamento político pode não se manter.

No momento em que a popularidade de Bolsonaro está em queda, principalmente nas áreas metropolitanas e periféricas, os prefeitos pressionam por mais ações do governo federal voltadas para suas cidades.

AINDA É CEDO? – Publicamente, eles afirmam que ainda é cedo para definir apoio a algum presidenciável, embora muitos hoje façam parte da base de Bolsonaro, como Washington Reis (MDB), de Duque de Caxias, e Wagner dos Santos Carneiro (PSL), o Waguinho, de Belford Roxo.

Segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 9, a reprovação de Bolsonaro nas regiões metropolitanas é de 53%, dois pontos percentuais maior do que a sondagem geral, que marcou o pior patamar desde o início de seu governo. Já quem aprova Bolsonaro somou apenas 22% nessas regiões, menos do que os 24% vistos na pesquisa em nível nacional.

— Eu acredito que mesmo em queda (de popularidade), o presidente pode se recuperar. Mas para isso é preciso ter ações contundentes. Sem elas, ele começa a inviabilizar sua candidatura. Na eleição do ano que vem, o que vamos ver é que o povo não vai votar em quem não entregou o que prometeu. O povo quer ver ação — afirmou Waguinho, que se reelegeu em primeiro turno no ano passado com uma aliança que unia de bolsonaristas a petistas.

A VOLTA DE LULA – Outro fator que coloca em risco o apoio dos prefeitos da Baixada a Bolsonaro é a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à disputa. Com forte apelo na região, o petista, que já esteve nos palanques de Washington Reis e demais prefeitos da região, aparece à frente do presidente nas pesquisas de intenções de voto. No último Datafolha, Lula somou 44%, e Bolsonaro, 23%.

Além do apoio político dado por Lula em eleições passadas, pesam também para os prefeitos ações durante o governo petista que ajudaram a levar investimentos e inaugurar obras em suas cidades.

Quando Lula esteve no Rio em meados de junho, Washington Reis, que hoje é alinhado com o governo federal, foi visitá-lo. Os dois mantêm uma boa relação. Quando o ex-presidente fez uma caravana antes de sua prisão, em 2018, foi o emedebista quem organizou sua visita ao município, terceiro maior colégio eleitoral do estado.

RELAÇÃO MUITO BOA — “Eu não tratei com ele (Lula) de política não, nem partidária nem política de apoio. Até porque eu não estou credenciado. Eu estou no MDB, que é um partido muito forte. Mas a nossa relação é muito boa. Ficamos conversando mais de uma hora lá. Já lançamos muitas obras juntos aqui em Caxias” — disse Reis sobre o encontro com o ex-presidente.

Para a eleição do ano que vem, o prefeito dá apenas duas certezas: de que apoiará a reeleição do governador do Rio, Cláudio Castro (PL), e de que deixará a prefeitura para concorrer ao Senado. Já quando é questionado se seguirá com Bolsonaro em 2022, ele desconversa:

“O Bolsonaro não é do meu partido, mas eu tenho uma relação muito boa com ele. Passa muita água debaixo da ponte” — diz o prefeito.

IMPOPULARIDADE – Os chefes dos Executivos municipais atribuem a queda de popularidade de Bolsonaro à gestão da pandemia, à inflação alta e ao grande número de desempregados no país.

Prefeito de Nova Iguaçu, quarto maior colégio eleitoral do estado, Rogério Lisboa (PP) afirma que segue a orientação de seu partido, que é aliado do presidente. No entanto, ele mesmo diz que isso pode mudar caso não haja uma reação de Bolsonaro para reverter a situação:

— Se o presidente da República não der uma virada na questão econômica, na questão do emprego, da vacinação, do controle da pandemia e se a percepção não mudar, não tem como manter o apoio da base. Eu tenho uma questão partidária, mas não posso fechar os olhos para a realidade.

Fonte: O Globo


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