Por Siro Darlan –
No Brasil mais policiais se suicidam do que morrem em confronto.
Dados recentes fornecidos pelas autoridades de segurança pública informaram que o suicídio é a principal causa de morte de policiais, segundo informa o Anuário de Segurança Pública. Preocupa toda a sociedade quando os responsáveis pela segurança estão esgotados com a cobrança dos administradores públicos que exigem um nível de violência na tarefa de proteção à população que leva os policiais ao esgotamento físico e mental. Normalmente treinado pelas escolas preparatórias para matar e não para proteção da população. Imagino que a permanente tensão nesse estado de guerra retire dos policiais o necessário equilíbrio para o exercício da função de cuidar da população.
Os dados apontam que pela primeira vez, o número de policiais suicidas é maior que os mortos em confrontos no trabalho ou em folga. Os dados foram divulgados pelos pesquisadores responsáveis pelo 18º Anuário Brasileiro de segurança Pública. No país, o ano de 2023 registrou, em relação ao ano anterior, queda de 18,1% na taxa de policiais civis e militares vítimas dos crimes violentos letais e intencionais. Por outro lado, a taxa de suicídios de policiais civis e militares da ativa cresceu 26,2% no mesmo período no país.
Os policiais militares são as maiores vítimas no total nacional de suicídios nas corporações. Foram 110 registros de suicídios, ante 46 casos de PMs mortos em confronto em serviço e 61 mortos em confronto ou por lesão não natural fora de serviço, ou seja, 107 óbitos ao todo. No mesmo período, oito policiais civis tiraram as próprias vidas.
O Anuário afirma ainda a existência de subnotificações, quando alguns estados tratam do suicídio como “fenômeno inexistente” e mantem esses dados em sigilo, prejudicando um diagnóstico do problema e a busca de soluções promovendo políticas públicas de saúde mais efetivas.
Segundo afirmam os pesquisadores, são várias as explicações para o aumento de suicídios entre os policiais não só no Brasil. A alta exposição ao estresse e ao trauma foram observados em relatório sobre suicídio de policiais dos Estados Unidos, evidenciando os fatores ocupacionais como condicionantes importantes. Em 2023, no Brasil, assim como nos Estados Unidos, os casos de suicídio destacaram-se na questão da vitimização policial, conforme revelado pelos dados do FBSP. Estudo desenvolvido junto de policiais norte-americanos concluiu que o estresse rotineiro no ambiente de trabalho constitui elemento fortemente associado aos sintomas do Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Os impactos produzidos pelo TEPT, que, dentre outros fatores, se complexifica pelos cronogramas de trabalho desafiadores e pelos consequentes distúrbios relacionados ao sono, vão além daqueles decorrentes de incidentes críticos causados em razão da natureza arriscada da profissão.
A pesquisa traz uma reflexão importante quando afirma que não é raro, “a exemplo do que vemos em São Paulo, que, quando um policial militar morre em confronto em serviço, a instituição adote verdadeiras operações vingança, que se desdobram em uma caçada ao criminoso que matou o policial. Mas e agora que a maior causa das mortes é o suicídio, o que fazer? Que operações serão realizadas para honrar esses policiais? Quem é o inimigo, se o que adoece o policial é a própria polícia? Será que de uma vez por todas os governos vão mostrar, através de ações, programas concretos e mudanças na cultura organizacional que, de fato, a vida do policial importa? Mesmo com uma melhora ao longo dos anos, os dados de vitimização ainda são precários e carecem de muita melhora. Sabemos que o suicídio ainda é um tabu e que possivelmente estamos lidando com uma subnotificação dos casos”.
Somada a tarefa extenuante de zelar pela segurança pública os policiais não são valorizados e têm suas famílias que acompanham a rotina de trabalho com a preocupação constante se voltará vivo para casa, além dos baixos salários e condições de moradia, via de regra em logradouros que divide com a criminalidade. Quem será o verdadeiro inimigo; o Estado que gera a violência ou os que igualmente extenuados pelas injustiças sociais praticam a violência?
É urgente cuidar da saúde mental dos policiais, promovendo educação para o bom convívio com a sociedade que têm o dever de proteger
SIRO DARLAN – Advogado e Jornalista; Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Ex-juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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