Redação

Um depósito de R$ 2 milhões feito pelo diretório nacional do PSL diretamente na conta de um candidato a vereador em São Paulo, Abou Anni Filho, causou protesto de mulheres candidatas à Câmara Municipal, que até agora não receberam dinheiro do partido para disputar a eleição.

Candidata à Prefeitura de São Paulo, Joice Hasselmann foi pressionada pelas candidatas a reivindicar verba do fundo eleitoral para a chapa. A própria deputada federal recebeu apenas R$ 1 milhão até o momento para a disputa, apesar de ter pedido R$ 5 milhões à legenda para a campanha, segundo fontes do PSL.

“REPASSE ATRAVESSADO” – O partido é dono do segundo maior fundo eleitoral do país, com R$ 199 milhões. O presidente estadual, Júnior Bozzella, criticou o “repasse atravessado” que teria partido do vice-presidente nacional, Antônio Rueda, sem anuência dos diretórios de São Paulo.

Segundo ele, o presidente nacional Luciano Bivar foi informado do “depósito indevido” e aceitou cobrar de Abou Anni Filho a devolução de R$ 1,7 milhão. Os outros R$ 300 mil já foram gastos. “O Bivar entendeu que houve uma distorção e resolvemos que o Abou Anni Filho vai devolver. O incêndio foi apagado. Nosso PSL, né, gente? Todo dia uma confusão”, declarou Joice.

Joice e Bozzella disseram que o valor devolvido será redistribuído para a chapa de vereadores. Eles atribuíram a manobra ao “amadorismo de um braço do diretório nacional” e negaram haver boicote à candidatura da deputada. O pai de Abou Anni Filho é o deputado federal Paulo Sérgio Abou Anni. Ele foi secretário-geral do PSL estadual até fevereiro deste ano, mas se desligou do órgão após desentendimento interno.

“COMPROMISSOS” – Ao O Globo, Abou Anni Filho declarou que os R$ 2 milhões que recebeu são fruto de uma “série de compromissos” firmados por seu pai enquanto esteve ligado ao diretório estadual, e que o dinheiro deveria ter sido destinado a um grupo de 18 candidatos a vereador envolvidos nessa promessa.

“O combinado para mim eram R$ 300 mil. Em vez de mandar esses repasses um por um, eles mandaram tudo pra mim. Acho que foi um erro de entendimento lá que eles tiveram. Da nossa parte, está resolvido. Agora, se esses candidatos vão receber… “, declarou.

Abou Anni Filho diz que o R$ 1,7 milhão foi devolvido na manhã desta terça-feira. De acordo com dados do TSE, ele gastou R$ 165 mil em santinhos e material de campanha no mesmo dia em que os R$ 2 milhões caíram na sua conta, em 7 de outubro. Procurado pelo O Globo, o PSL informou que “o problema já foi resolvido e o dinheiro foi devolvido”.

REPASSES  – Das 25 candidatas a vereadora do PSL em São Paulo, nenhuma havia registrado repasses do partido até esta terça-feira. Apenas duas delas identificaram terem recebido recursos, mas em ambos os casos vieram ou da própria candidata ou de um familiar: Ana Graf, com R$ 4 mil em conta, e Patrícia Navarro, com R$ 2 mil.

Dos cerca de R$ 200 milhões a que tem direito, o PSL repassou R$ 37 milhões nestas eleições até esta terça-feira. Segundo a lei, 30% dos recursos, ou R$ 60 milhões, devem ser destinados a candidatas mulheres. Em 2018, o partido ficou conhecido pelas denúncias envolvendo fraudes nas candidaturas femininas para burlar a cota.

A candidata a vereadora Ana Graf, que disse ter “colocado a boca no trombone” para cobrar a devolução dos R$ 2 milhões, afirmou não acreditar que o esquema de candidaturas laranja se repetirá no PSL de São Paulo. 2Não, acho que não. Eu não acredito que vai acontecer. Todo mundo está fiscalizando agora”, disse ela.


Fonte: O Globo