Redação

A Polícia Federal, no âmbito da Operação Grand Bazaar, traçou um caminho de supostas propinas ao deputado federal Sérgio Souza (MDB). Além de reconhecido pelo operador de propinas Lúcio Funaro, um homem de confiança do parlamentar teve sua presença confirmada por um hotel no período em que o delator diz ter operacionalizado repasses a ele.

A investigação mira supostos repasses ao parlamentar, no montante de R$ 3,25 milhões, para não incluir o ex-presidente do Postalis, Antônio Carlos Conquista, e o ex da Petros, Wagner Pinheiro, em Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados que apurava desvio de recursos de fundos de pensões. A delação do operador de propinas Lúcio Funaro é peça-chave da Grand Bazaar. Ele relatou uma cobrança de R$ 9 milhões do parlamentar para não convocar os executivos.

ACERTO DE PROPINAS – Segundo Funaro, inicialmente, em sua delação, um assessor ‘japonezinho’ presenciou uma reunião em que as propinas foram acertadas. Chamado novamente para esclarecimentos, ele reconheceu, com ‘200% de certeza’, de que se tratava de Luciano Tadau, de cuja foto foi exibida ao delator.

Outro homem de confiança reconhecido por meio de fotografias por Funaro foi o assessor Marcos Vitório Stamm. De acordo com a PF, foi nomeado ‘para o cargo poucos dias após a instalação da CPI dos Fundos de Pensão, tendo exercido a função no gabinete do parlamentar, ora investigado, no período de 25 de agosto a 14 de março de 2017’.

“Imperioso citar que tal assessor possui características físicas descritas pelo colaborador, o qual, ao ver foto de Marcos Vitório Stamm o reconheceu com total segurança como a pessoa que recebeu valores em espécie destinados ao deputado federal Sérgio de Souza, no Hotel Meliá em São Paulo”, afirma.

CONFIRMAÇÃO – Segundo o relatório, foi expedido ofício ao hotel em que era questionada a presença do assessor em suas dependências, no Jardim Europa, na capital paulista. O estabelecimento enviou à PF a informação de que em 24 de janeiro de 2015, Stamm se hospedou no Meliá em São Paulo.

Os investigadores, então, cruzaram a data com informações de doleiros que eram usados para o fornecimento de dinheiro em espécie. Para tanto, a PF consultou o banco de dados do Bank Drop, sistema que envolve 3 mil offshores em 52 países descoberto na Operação Câmbio, desligo, deflagrada com base nas delações dos doleiros Vinícius Vieira Barreto Claret, o Juca Bala, e Cláudio Fernando Barbosa, o Tony.

OUTRA PROVA  – De acordo com a PF, ‘além do pronto reconhecimento efetuado por Lúcio Funado, outro elemento de prova que comprova sobremaneira a participação de Marcos Vitório Stamm na trama delitiva se deve ao perfeito complemento do quadro referente ao cotejamento dos pagamentos relacionados nos manuscritos contábeis de Lúcio Funaro, os quais apresentaram total convergência com dados dos sistemas ST/BankDrop extraídos da conta Jubra, quando aos pagamentos feitos em Brasília, com excessão do pagamento de R$ 500 mil, que teria sido efetuado no dia 24 de novembro de 2015’.

“Compreende-se, agora, que a ausência de lançamento na conta Jubra, no dia 24 de novembro de 2015, se deve ao fato de que tal pagamento não foi efetuado em Brasília, mas sim em São Paulo, por José Carlos Batista, funcionário de Funaro, nos exatos termos narrados pelo colaborador”, diz a PF.

###

COM A PALAVRA, O DEPUTADO SERGIO SOUZA

“O deputado federal Sérgio Souza foi tomado de surpresa em relação à operação realizada pela Polícia Federal nesta segunda-feira, dia 21. O parlamentar está tranquilo e se coloca inteiramente à disposição da Justiça para elucidar qualquer fato que seja necessário.

Sérgio Souza lembra que, como relator da CPI dos Fundos de Pensão, trabalhou com afinco para produzir resultados efetivos e que o texto final aprovado levou a diversas ações da Polícia Federal, entre elas a Operação Greenfield. A partir deste trabalho parlamentar, foram identificados desvios bilionários dos fundos de pensão e proposto o indiciamento de mais de 300 pessoas físicas e jurídicas.”

Fonte: Estadão, por Luiz Vassallo e Fausto Macedo