Redação –
A Polícia Federal passou a investigar a relação do presidente Jair Bolsonaro com milícias digitais responsáveis por ataques às instituições democráticas. A nova frente foi aberta após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizar o compartilhamento de provas obtidas em outros inquéritos contra o chefe do Executivo.
Isso significa que o inquérito das milícias digitais passou a ser o sétimo em tramitação envolvendo o presidente. Outros casos em andamento contra Bolsonaro no STF tratam da suspeita de interferência indevida na Polícia Federal, prevaricação na vacina Covaxin, fake news, incitação ao crime por relacionar vacina contra a Covid-19 com o desenvolvimento de Aids e vazamento de documentos sigilosos, além de um inquérito administrativo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
ATAQUES A INSTITUIÇÕES – O inquérito das milícias digitais já havia colhido indícios de que os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro têm atuado de forma sistemática nas redes para divulgar notícias falsas e ataques às instituições democráticas. Um dos braços da investigação agora é identificar a relação de Bolsonaro com essas milícias, a partir dos fatos colhidos nas investigações.
Essa apuração se aprofundou com a abertura de outras frentes pela Polícia Federal. A última delas foi o inquérito concluído na semana passada, no qual a PF acusou Bolsonaro de cometer o crime de violação de sigilo ao divulgar indevidamente documentos sigilosos de uma investigação sobre ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante uma live em 29 de julho do ano passado, na qual atacou a credibilidade do sistema eleitoral e das urnas eletrônicas.
Além do crime pelo vazamento, a PF detectou indícios de que a atuação de Bolsonaro no caso teve semelhança com o modus operandi das milícias digitais, objeto de outro inquérito. Isso porque o vazamento dos documentos foi usado para dar combustível a um falso discurso de vulnerabilidade das urnas eletrônicas, embora o ataque hacker não tenha atingido as urnas.
ARTICULAÇÃO – A PF escreveu que as provas obtidas na investigação, atribuindo crimes a Bolsonaro e outros personagens, corroboraram “a ideia de articulação de um grupo maior de pessoas cuja atuação se insere em contexto mais amplo, tratado no Inquérito nº 4874 (milícias digitais)”.
Foi por isso que a Polícia Federal solicitou ao ministro Alexandre de Moraes o compartilhamento das provas colhidas na investigação do vazamento com o inquérito das milícias digitais. Moraes autorizou esse compartilhamento em decisão proferida na terça-feira, também apontando a existência de relação entre os fatos.
“Verifico a pertinência do requerimento da autoridade policial, notadamente em razão da identidade de agentes investigados nestes autos e da semelhança do modus operandi das condutas aqui analisadas com as apuradas nos Inquéritos 4.874/DF (milícias digitais) e 4.888/DF (suposto crime detectado na CPI da Covid), ambos de minha relatoria”.
OUTRAS RELAÇÕES – Em dezembro, a PF concluiu um dos braços do inquérito das fake news aberto para apurar se Bolsonaro divulgou informações falsas sobre o sistema eleitoral durante a live do dia 29 de julho. Também nesta apuração, a PF apontou que a atuação de Bolsonaro pode estar inserida na organização criminosa digital estruturada para realizar ataques à democracia, por isso também pediu o compartilhamento das provas com o inquérito das milícias digitais.
Naquele caso, a PF escreveu, em relatório apresentado em setembro, que o objetivo da nova linha de apuração contra Bolsonaro é identificar a relação da live presidencial “no contexto de atuação de uma suposta organização criminosa que está em operação, escopo do INQ n° 4874 [milícias digitais], especialmente porque, neste caso específico, há indicação de autoria, apresentação do modo de agir dos participantes e constatação da vontade livre e consciente na produção e/ou difusão de notícias não verdadeiras”.
Fonte: O Globo
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